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EL PROTAGONISMO DE VUELTA A LA ESCENA: ASSEMBLÉIAS BARRIAIS NA ARGENTINA (2001-2002) Danúbia Mendes Abadia (Universidade Federal de Goiás) A partir da irrupção popular de 19 e 20 de dezembro, a Argentina conviveu com o conflito entre a democracia representativa formal, em descrédito, e o aparecimento de um desafiante “assembleísmo popular”. Herdeiras diretas do colapso de 2001, as assembléias barriais inserem-se nas novas formas de associatividade frente ao vazio produzido pela “quebra” do modelo neoliberal, como também podem ser atribuídas a partir da desintegração social que acarretou seu desenvolvimento. O movimento das assembléias, em diversos bairros da capital e de todo o país, certamente expressa a crítica à política representativa e busca estabelecer outras formas de ação e organização social. A participação coletiva e a ocupação dos espaços públicos (onde se realizam as assembléias: esquinas, praças, centros comunitários, prédios ocupados, entre outros) acabam por impulsionar a construção de novos espaços de identificação social. Para Palomino (2004), o contraste entre estas novas formas de apropriação do espaço público, (...) questionam as formas de representação da democracia delegativa, contrasta vivamente com a privatização do espaço público intensificada nos anos noventa. As novas modalidades de protesto social propõe outras formas de ocupação desse espaço e também de acesso aos serviços públicos. As assembléias nos bairros inaugurou a reapropriação do espaço público, que parecia estar, no melhor dos casos, “desconfigurado”, ou simplesmente não existir como espaço coletivo. Há nisso uma recuperação da idéia do público como algo que excede (e até se contrapõe) ao Estatal.1 Segundo Hernán Ouviña 2002, El hecho de que la mayoria de las asambleas funcionen en espacios abiertos, en muchos casos reapropriandose de terrenos, anteriormente sumido en una lógica privada, no hace más que afirmar esta hipótesis. La reunificación de lo público y lo 1 Isto resulta na importante discussão atual sobre o que fazer com as empresas privatizadas. Se bem que a maioria das organizações populares (onde se incluiu o movimentos das empresas recuperadas) propõe sua “reestatização”; Cabe pensar formas de controle social direto, com base na democrática gestão coletiva. Ver OUVIÑA, Hernán. Las Asambleas Barriales: apuntes a modo de hipóteses de trabajo. In. Revista Theomai. Buenos Aires, 2002. privado, tan imprescindible para la superación de la lógica del capital, es practicada a diario por los vecinos. A proposta neoliberal de minimização do Estado não só acentuou as desigualdades sociais e econômicas em todo o país, como também fragilizou os próprios aparatos estatais que garantiam à população condições básicas de sobrevivência. Pouco a pouco, distintas instituições e diversos especialistas começaram citar a importância de uma “reconstrução do espaço público”. Dentre estes, Ouviña (2002) apresenta a noção do “público não estatal”, remetendo-se a criação de uma institucionalidade que não só discuta a necessidade de tornar a gestão pública, mas permeável às demandas emergentes da sociedade, como também retirar do Estado e dos “agentes sociais” a definição da agenda social. Isto implica em um conceito de interesse público, plural e descentrado que, de acordo com Vera Telles (1994), perpasse a possibilidade de se “publicitar” conflitos privados, universalizar reivindicações, forçar o reconhecimento de alteridades e constituir atores coletivos que não podem mais deixar de ser levados em conta com relação às políticas e programas do Estado. Dessa forma, a constituição coletiva e heterogênea2 que marca as assembléias inaugura, portanto, a capacidade de auto-organização da sociedade argentina, a compreensão da necessidade de se construir e regenerar os laços sociais perdidos em meio à individualização registrada nas sociedades contemporâneas. Assim, as novas formas de apropriação do espaço público, impulsionadas pela “utopia de uma democracia direta”, como caracteriza Palomino (2004), questiona os limites do sistema político vigente e seus principais -ou tradicionais- protagonistas. A inserção de pessoas comuns, que engajaram junto com diversas outras por um projeto novo de sociedade, com mais participação e crítica, produz novas formas de conceber suas existências coletivas. Como diz Paula (colectivos feminista y GLBT) 2 Assim como nos movimentos de desempregados, as assembléias apresentam uma composição plural, seguindo Maristella Svampa (2002), podemos dizer que amplos setores da classe média, como grupos de jovens “encontram seu espaço de articulação – sob a forma de convergência ou de conflito latente – nas assembléias”. No entanto, a partir dessa definição, e de outros estudos sobre as assembléias (Ouviña 2002, Fernandez 2002, Palomino 2004), como nas entrevistas realizadas (Sitrin 2005, Bloj 2004), se reflete uma complexa multiplicidade em termos de idade, gênero, profissão -categoria laboral- nível escolar ou experiências políticas prévias. Assim, nas palavras de Ouviña 2002, “uma das características distintivas das assembléias é seu alto grau de heterogeneidade, que longe de supor um ecletismo caótico e amorfo, emerge em diálogo permanente e transversal entre as diversas práticas e correntes de opinião no interior do campo popular”. Nestes espaços (auto)organizativos, centenas de vizinhos e vizinhas compartilham, aos poucos, um projeto coletivo que se delineia em suas próprias ações cotidianas como uma instância fundamental de aprendizagem e convivência conjunta. numa entrevista a Marina Sitrin (2005 p. 273), El hecho de que personas se pueden juntar en su barrio y discutir, y que unas escuchen las otras, y que valga la opinión de todos lo mismo, eso es muy importante. Assim, as assembléias irrompem uma outra questão importante, enquadram-se nos “novos movimentos sociais”, distanciando-se dos métodos dos partidos e organizações autodenominadas “vanguarda”, construindo suas próprias formas de decisão e organização. Como afirma Ouviña 2002, (...) una questión importante es entender que buena parte de los fines de los propuestos por las Asembleas, estan contenidos en sus proprios medios, a que nos referimos a eso? Ante todo, a las modalidades democráticas de participación y decisión colectiva. Al igual que el movimiento piquetero, son una forma de vida opuesta de cuajo a la que compele a la sociedad capitalista. Tanto en un caso como en el otro, los medios se sonstituyen en el fin mismo: la horizontalidad no es un horizonte al cual apuntar, sino una practica concreta y actual; la solidariedad y la dignidad, asi mismo, esctruturan la acción cotidiana de los asemblearios. Todo ello se amalgama sin yuxtaponerse caóticamente. A horizontalidade, enquanto instrumento adotado nas assembléias, tem representado as novas relações sociais e seus princípios de organização. Tal e como sugere o nome, se desenvolve em um campo plano e nivelado. Considera a aplicação da democracia direta e a criação anti-hierárquica e anti-autoritária para o fortalecimento e consolidação do movimento, significando assim uma ruptura com os métodos verticais de organizar-se e relacionar-se (SITRIN, 2005. p. VII). A experiência aberta nas assembléias, no que se refere a criação de novos métodos de decisão e participação, reflete a horizontalidade enquanto um fluxo constante que, apesar das dificuldades e complexidades que apresenta, tem sido um instrumento em que todas as pessoas tem a possibilidade de falar e interferir nos assuntos que dizem respeito a suas próprias vidas, aos problemas do bairro em que vivem e aos problemas mais amplos que o país enfrenta. A organização das assembléias, em distintos bairros e províncias, tem características similares, que podemos sintetizar da seguinte maneira: ausência de uma estrutura interna com cargos permanentes; dinâmica de exposição e posterior debate coordenado em geral por um vizinho rotativo, designado pela própria assembléia. A democracia direta, assim como a horizontalidade, significam a maneira que a comunidade encontrou como forma de tentar evitar núcleos de decisão, lideranças, burocratização e outras características presentes nas organizações tradicionais. Com referência aos numerosos debates gerados em torno das limitações e potencialidades da horizontalidade e da democracia direta, as assembléias buscam resolver essas tensões em suas próprias práticas. Como argumenta Ouviño 2002, Desde sus orígenes, fueron conscientes de que la horizontalidad, si bien imprescindible para la construcción permanente de nuevos vínculos, no puede, bajo ningún concepto, devenir en un “fetiche” remedio de todos los males. Es necesario, antes bien, combinar los métodos de participación y discusión colectiva con los de la designación rotativa de delegados, que permitan llevar a cabo las actividades consensuadas con los vecinos. Esta forma de construcción no implica, sin embargo, la generación de liderazgos ni la escisión entre dirigentes y dirigidos. Além da deslegitimação institucional e do contexto de crise que fomentou a irrupção das assembléias, influenciando também as novas formas de organização e participação social contrárias às consolidadas tradicionalmente, a evolução das asambleas barriales levou à busca de articulações com outros movimentos, em particular os movimientos de los trabajadores desocupados e os trabajadores de empresas recuperadas. A luta contra a precarização, que influenciou as assembléias e sua organização junto a outros movimentos, se evidencia pelo fato de que a mesma realidade objetiva contribuiu para aproximar e reforçar os laços sociais de atores que na experiência histórica, têm sido protagonistas emblemáticos das lutas sociais. Dessa forma, a busca de saídas originais para resolver os problemas que estão imersos, faz com que os movimentos trabalhem pela construção coletiva por fora do sistema econômico institucionalizado. Como afirma Palomino (2004), uma nova economia comunitária, impulsionada pelos movimentos, tem se desenvolvido numa espécie de redes de complementaridade, quer dizer, os empreendimentos desenvolvidos nas comunidades, nos bairros, nos espaços e nas fábricas recuperadas, se inscrevem no que tem-se denominado “economia social”. A partir daí, inaugura-se um espaço público onde o trabalho não se relaciona somente e nem preferencialmente por salário ou remuneração em dinheiro. As novas redes alternativas aos poucos foram incorporando atores coletivos com motivações diferentes: nas organizações de desempregados, são as necessidades de subsistência básica, terreno no qual devem afrontar-se a contradição entre reivindicar sistematicamente subsídios, ou independer-se dos mesmos impulsionando empreendimentos autosustentáveis. Os trabalhadores de empresas recuperadas buscam consolidar sua comunidade de trabalho. Sua articulação com outros atores se realiza com a finalidade de ampliar a escala de suas atividades e para fortalecer os laços solidários e políticos que compensem sua precariedade jurídica e econômica. Com relação as assembléias, o impulso da nova economia social e solidária adquire um matiz político, como modo de articulação com outros movimentos, como forma de intervenção no espaço urbano e como desenvolvimento alternativo do sistema econômico vigente (PALOMINO, 2004 p. 3). Por fim, os movimentos estão fazendo um interessante trabalho, que pode ser tomado como indicador dos caminhos que transitam para superar a cisão entre produtores e consumidores, própria do capitalismo (ZIBECHI, 2006. p. 131). A relação entre os movimentos, intensificada após o colapso recente, pode ser concebida como esforços autônomos de criar e recriar novas formas de articulação social e produtiva 3. “Tomar el futuro en nuestras manos” implica resolver e autogerir os problemas que surgem, assim como estabelecer que a democracia está muito além do “voto”, ampliando seu conceito nas práticas de participação e organização dos movimentos, práticas que os colocam como protagonistas de sua própria história. Referências Bibliográficas ALTAMIRA, Jorge. El Argentinazo – el presente como historia. Eidicones Rumbos. Buenos Aires. 2002. ANDERSON, Perry. Balanço do Neoliberalismo. In Pós-neoliberalismo, As políticas sociais e o Estado Democrático. Org. Emir Sader e Pablo Gentili. 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A diferença está principalmente na maneira como são compostas as cooperativas e na forma como se organizam; os movimentos em rede promovem a participação e a horizontalidade nas formas decisórias, enquanto que as cooperativas (ou ONG's – organizações não governamentais) tradicionais muitas vezes permanecem organizadas sob formas delegativas, hierárquicas e institucionalizadas. Contudo, isso não significa que não haja diálogo entre as distintas organizações que, como afirma Palomino (2004), “las nuevas formas de economia social mantienen con ellas relaciones intrumentales y en algunos casos de complementariedad”. civil en tiempos de globalización. Universidade Central de Venezuela, Caracas: FACES, 2004. p.133-150. CACHITO. Los hijos del Cordobazo. Crônica desde el Gran Buenos Aires. Chiapas número 12. México, 2001. pp- 13-22. CALLELO, Tomás. FRITZSCHE, Federico. QUINTAR, Aída. VIO, Marcela. Redes y nuevas tecnologías de información en las Asambleas Vecinales de Buenos Aires. In. 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