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Número: 15 Título: Fórum Social Mundial 2005 – Olhares Feministas Autor@: AJP / Teresa Cunha e Celina M. dos Santos Data: Abril 2005 Palavras Chaves: Fórum Social Mundial, Mulheres, Movimentos Sociais Referência(s): www.ajpaz.org.pt/AGITANCOS Acção Jovem para a Paz (AJP) Rua São João - 3130-080 Granja do Ulmeiro – Portugal ajp@ajpaz.org.pt - www.ajpaz.org.pt (T) 239642815 - (F) 239642816 - (TMV) 96 2477031 Olhares Feministas sobre o Fórum Social Mundial de 2005 Olhares Feministas sobre o Fórum Social Mundial Porto Alegre, 2005 Globalizemos as lutas, globalizemos a esperança! Acção para a Justiça e Paz Teresa Cunha e Celina M. dos Santos www.ajpaz.org.pt Teresa Cunha e Celina M. dos Santos Acção para a Justiça e Paz Abril de 2005 pág. 2 de 20 OLHARES FEMINISTAS SOBRE O FÓRUM SOCIAL MUNDIAL 2005 A quinta edição do Fórum Social Mundial, em Janeiro de 2005, em Porto Alegre, Brasil, ao contrário das expectativas, foi o que reuniu um maior número de participantes e actividades, bem como aquele que, aparentemente, permitiu os maiores entendimentos e articulações de agendas. Os números oficiais do Fórum Social Mundial são, a este propósito, bastante elucidativos. O Apelo aos Movimentos Sociais, feito no âmbito da Assembleia Mundial dos Movimentos Sociais, que não está integrada no Programa Oficial do Fórum e que se reuniu antes da saída da Marcha de Encerramento, é uma síntese, ou pelo menos a síntese possível, dos grandes temas que motivaram a união de forças e a articulação entre movimentos. Além de ser uma manifestação das articulações possí1 veis entre organizações e movimentos, este Apelo é igualmente uma tomada de posição, uma declaração de princípios e condições de resistência e luta, mas, sobretudo, uma proposta de agenda para todo a ano de 2005, e até para depois deste. Nesta medida, parece ser fundada a convicção de que os movimentos sociais poderão ter encontrado as raízes e a força para o que há muito vinha buscando, indo assim de encontro à sua “responsabilidade e possibilidade de fazer mais”2. Sendo verdade que este Fórum Social Mundial foi um sucesso, é importante, a cada etapa do caminho, analisar com profundidade, indo para além dos números ou das vozes “oficiais” e questionar através de diferentes olhares. Se a diversidade é parte constitutiva do Fórum, a sua salvaguarda apenas poderá acontecer se a diversidade se expressar e se reflectir, não apenas em alguns Os números do FSM 20054 Marcha de Abertura 200.000 pessoas Marcha de Encerramento 20.000 pessoas Participantes 155.000 Organizações 6.823 Países 135 Comunicação Social 6.880 profissionais Voluntári@s 2.800 Propostas no Mural 352 Acampamento Juventude 35.000 pessoas Actividades 2.500 Espectáculos 130 Filmes e/ou documentários 115 Exposições artísticas 96 Olhares Feministas sobre o Fórum Social Mundial de 2005 momentos, mas em todas as etapas do processo. Deste modo, indo para além dos resultados e dos números, parece-nos fundamental olhar para o Fórum que passou, a partir de diferentes elementos, como eixos temáticos, metodologia, actividades e o espaço-tempo do FSM. 1- Eixos temáticos do Fórum Social Mundial de 2005 A construção temática do FSM obedeceu a um processo Eixos transversais do FSM 2005 de reflexão sobre os sucessos e os insucessos das edições anteriores, à qual se seguiu uma consulta alargada, através da internet, a todas as organizações que  Emancipação social e a dimensão política das lutas tinham estado presentes nos Fóruns anteriores. Esta consulta fez-se em três etapas fundamentais, a saber: a) Em primeiro lugar, abriu-se, na página oficial do FSM, um espaço para que as organizações préinscrevessem os temas de actividades que julgavam serem as que melhor corresponderiam aos seus  Luta contra o capitalismo patriarcal  Luta contra o racismo e outras formas de exclusão baseadas na ascendência objectivos locais, nacionais e internacionais. Desde o princípio que os resultados desta consulta eram  Género públicos, estando disponíveis na página do FSM. Posteriormente, cada organização foi, assim, convi-  Diversidade dada a formular e a propor actividades (oficinas, encontros, exposições e outras) que gostaria de realizar no quadro do FSM de 2005. Para este efeito foi construído um formulário exaustivo que dava conta das principais características do evento, como horários, línguas, parcerias, além do resumo da actividade. Ao mesmo tempo, solicitava-se às organizações e movimentos que se voluntariassem para se tornarem ‘organizações aglutinadoras’, isto é, organizações que mais tarde se dispunham a analisar as propostas e a verificar as convergências e articulações possíveis e desejáveis. Teresa Cunha e Celina M. dos Santos Acção para a Justiça e Paz Abril de 2005 pág. 4 de 20 Olhares Feministas sobre o Fórum Social Mundial de 2005 b) Durante alguns meses as propostas foram enviadas Eixos temáticos do FSM 2005 e as ‘organizações aglutinadoras’ foram identificadas. Estas propostas incluíam algumas informações sobre as actividades tais como tema, formato, organizações/redes/movimentos implicados, protagonistas, horário, logística, resumo em outras línguas, entre outro elementos. Este processo permitiu a emergência não só dos temas/problemas que mais preocupam as organizações e movimentos, como também prever quem e como pensava participar no Fórum. Feita esta consulta, as principais informações úteis sobre o perfil de actividades desejadas ficaram disponíveis para todas/os na página oficial do FSM em quatro línguas. c) Por último, as ‘organizações aglutinadoras’ começaram o seu trabalho de identificação das linhas de força das propostas. A partir desse ponto, começaram a sugerir possíveis articulações de temas e organizações. Realizando este trabalho de interpretação dos ‘desejos’ expressos pela consulta, foi levada para o processo organizativo do Fórum um elenco possível de eixos temáticos e eixos transversais que informariam os trabalhos deste encontro mundial em 2005. Por fim, o Comité Organizador do Fórum Social Mundial de Porto Alegre, 2005, decidiu serem 11 os eixos temáticos e considerou ser absolutamente pertinente constituir 5 eixos transversais, a que cada organização e actividade deveriam responder. Desde o início ficou claro que, sendo a internet um instrumento que não está ao alcance de todas/os, este processo de consulta excluiria forçosamente aquelas pessoas e movimentos que não têm acesso ou capacidade para a utilizar como uma forma de comunicação eficaz ou regular. Apesar destas limitações, e dadas as condições que a organização de uma resistência e uma luta globais implicam, foi considerado que, apesar de tudo, esta seria a forma mais interessante e democrática Teresa Cunha e Celina M. dos Santos Acção para a Justiça e Paz A. Pensamento autónomo, reapropriação e socialização dos conhecimentos (saberes) e das tecnologias B. Defendendo as diversidades, pluralidades e identidades C. Arte e criação: construindo as culturas de resistência dos povos D. Comunicação: práticas contra-hegemónicas, direitos e alternativas E. Afirmando os bens comuns da Terra e dos Povos como alternativa à mercantilização e ao controlo das transnacionais F. Lutas sociais e alternativas democráticas – contra a dominação neoliberal G. Paz e desmilitarização – luta contra a guerra, o livre comércio e a dívida H. Rumo à construção de uma ordem democrática internacional e integração dos povos I. Economias soberanas pelos e para os povos – contra o capitalismo neoliberal J. Direitos humanos e dignidade para um mundo igualitário K. Ética, cosmovisões e espiritualidades – resistências e desafios para um mundo novo Abril de 2005 pág. 5 de 20 Olhares Feministas sobre o Fórum Social Mundial de 2005 de mobilizar a participação não excluindo outras formas de fazer chegar as suas propostas, nomeadamente através de correio convencional. Todos os instrumentos são de algum modo excludentes, mas o FSM procurou durante este processo utilizar todos os meios ao seu alcance para tornar possível que todas e todos pudessem fazer ouvir a sua voz. Esta metodologia pretende Foi este processo de consulta e aglutinação que esteve na base na concepção metodológica do Fórum Social Mundial, que a seguir se analisa e critica. ... Um Fórum mais descentralizado e democrático. Mais dinâmico. Mais propositivo. As cerca 2- A metodologia de duas mil actividades propostas pelas organizações de todo Pensamos que é muito importante falar sobre a metodologia que foi usada na realização deste Fórum Social Mundial. Esta metodologia foi pensada no sentido de o mundo estão aglutinadas em 11 Espaços Temáticos definidos a partir de uma ampla consulta às entidades que participaram deixar aos movimentos sociais, e não ao Comité das edições mundiais, regionais Internacional, a responsabilidade e o poder de deci- e temáticas. Os eventos pro- são sobre as actividades a serem desenvolvidas. Esta gramados seguem o princípio foi uma tentativa inovadora, que responde, em parte, à da auto-gestão: a entidade pro- necessidade de maior articulação e diálogo entre movi- ponente cuida da dinâmica do mentos, e, por outro lado, à urgência de um aprofunda- encontro. mento da democraticidade interna do movimento. A ... O último turno – os Momen- metodologia proposta pretendia, ainda, facilitar e pro- tos de Articulação e Avaliação – mover o desenho e a construção de alternativas sociais, das 19h às 21h, será utilizado culturais, económicas e políticas concretas, no sentido pelas entidades que quiserem de se caminhar para estratégias propositivas de impacto elaborar planos de acção, pla- global. near lutas colectivas e fazer Porém, é nossa convicção, esta escolha não deu conta avaliações. algumas questões fundamentais, como veio a ser apontado por diferentes movimentos sociais e plataformas. Apesar de todo o caminho percorrido, a construção da agenda destes 6 dias, produziu alguns enviesamentos e efeitos indesejados, que reproduzem, a nosso ver, precisamente o mundo que não queremos. Teresa Cunha e Celina M. dos Santos Acção para a Justiça e Paz Abril de 2005 pág. 6 de 20 Olhares Feministas sobre o Fórum Social Mundial de 2005 9 A nova metodologia não alterou, de facto, as relações de poder desiguais, existentes entre as organizações e movimentos sociais. As grandes organizações substituíram, de certa forma, através das suas actividades, as grandes conferências e seminários. Dada a sua capacidade de mobilizarem recursos materiais e de reconhecimento, estas viabilizaram a presença de ‘personalidades’ nas suas oficinas, assembleias e seminários que, em muito pouco, se distinguem das grandes conferências das edições anterio- Um dos exemplos de uma ‘gran- res. Perante esta realidade, parece ser legítimo colocar de conferência’ foi uma das a hipótese de haver menos controlo democrático global iniciativas da Família Francis- sobre a organização de actividades de ‘grande porte’, e cana do Brasil e seus parcei- que são potencialmente fazedoras de opinião. ros (ver p.35 do Programa Oficial do V FSM), promovida no 9 A ideia de transversalidade cria uma espécie de meta-conceito que muitas vezes se transfigura numa hiper-invisibilidade. Afirmar que, por exemplo, o género deve ser um eixo Pavilhão Araújo Viana, com capacidade para milhares de pessoas e que trouxe para a mesa das/os oradoras/es personalidades como Adolfo transversal a todas as actividades não assegura, por si Perez Esquível, Leonardo Boff só, que as perspectivas de género e a paridade se efec- e Arundhati Roy. tivem na construção e desenvolvimento das oficinas, Tal actividade, apesar de ser seminários e assembleias. As estruturas societais, cultu- uma iniciativa de um só movi- rais e mentais excludentes e sexistas estão a montante mento social, acaba por definir da construção do FSM. temas e prioridades dentro do O sexismo e outras formas de exclusão (como a homofo- FSM. bia, p.e.) constituem uma realidade que necessita de actos perseverantes de discriminação positiva, de uma vigilância persistente e democrática das práticas e discursos e de uma hermenêutica da suspeita sobre os princípios retóricos proclamados pelos movimentos e organizações que não se traduzam em práticas nãosexistas, não-discriminatórias e não-violentas. É essa a importância das mega-comunidades: funcionarem como espelhos de aumento sobre todas as formas de violência, discriminação e exclusão. Uma vez que a Teresa Cunha e Celina M. dos Santos Acção para a Justiça e Paz Abril de 2005 pág. 7 de 20 Olhares Feministas sobre o Fórum Social Mundial de 2005 mega-comunidade não funcionou como o lugar de oposições e resistências, assim como de construção colectiva de alternativas, neste FSM deu-se uma maior invisibilização das mulheres e de outras identidades, ‘baseadas na raça ou ascendência’ e, talvez ainda, na orientação sexual. 9 A ‘nova’ metodologia adoptada para este Fórum tornou-se, em si mesma, uma quase entidade política e não apenas num instrumento de democratização das relações entre as organizações e moviNesse sentido, todas as propos- mentos que constituem o Fórum. A centralidade que a discussão sobre a ‘metodologia’ tas que remetiam para ques- teve na organização do FSM 2005 trouxe consigo dois tões de identidade e/ou diver- problemas: sidade, foram remetidas, indi- a. O primeiro é a ideia de que o deficit democrático presente no processo de construção do FSM se poderá resolver, em grande medida, através deste instrumento, reduzindo as discussões políticas ao nível global (difíceis, cheias de equívocos e constrangimentos, necessitando de uma enorme capa- ferenciadamente, para o Eixo chamado Defendendo Diversidade, as Pluralidades e Diversidades. Esta etiqueta remeteu para as margens quer as Mulheres, quer as/os LGBTs, entre cidade de tradução, paciência, solidariedade e jus- outros, que se movimentaram tiça sexual e cognitiva) a um dispositivo metodoló- neste espaço “fechado”, e não gico de organização. Confundir as instâncias do necessariamente político com as instâncias metodológicas é já um entre os espaços. perigo. É necessário continuar a assumir que a politização do espaço público comum é que tem que ser realmente democratizado. b. O segundo perigo corresponde à pouca profundidade com que a questão metodológica é abordada e discutida enquanto instrumento facilitador, enquanto promotor da densificação e intensificação de relações democráticas e de autoridade partilhada, ou como reprodutor de um sistema de pensamento e conhecimento autoritário e hierárquico. Numa parte significativa das actividades Teresa Cunha e Celina M. dos Santos Acção para a Justiça e Paz Abril de 2005 pág. 8 de 20 através e Olhares Feministas sobre o Fórum Social Mundial de 2005 propostas e desenvolvidas pelas organizações e movimentos participantes, assistiu-se à reprodução de um modelo efectivamente hierárquico de discussão. As ‘mesas’ de palestrantes e as miniconferências, seguidas de simulacros de debate e trocas de opinião, para além de não promoverem quase nenhuma inter-actividade ou inter- subjectividade, são, em geral, a uma outra escala, a re-edição dos modelos escolásticos e académicos3. Neste sentido, queremos apresentar, desocultar algumas alternativas e actividades que fogem ao princípio da hierarquia e da palestra, e que se pautam pela problemas resolução concretos de que Este FSM colocou em evidência o exercício de rela- afectam milhares de pessoas, ções de poder, muitas vezes pouco democrático, pela partilha e troca do conhe- entre movimentos sociais, organizações de base, sin- cimento e pela articulação dicatos e associações. Esta metodologia teve, porém, entre o local e o global. o mérito de revelar os perigos de exclusão, que permanecem para as/os que têm menos recursos e voz. ► Uma das oficinas que acon- Demonstrou também que não controla, democratica- teceram no Fórum pretendeu mente, a auto-capacidade de produção uma visibili- ensinar a fazer pensos higié- dade “inflacionada” por parte de alguns movimentos nicos ecológicos e “caseiros” e organizações, cujas preocupações e propostas são, de alta qualidade. Esta activi- como é óbvio, pertinentes, mas tão pertinentes como dade com este perfil é funda- todas as outras que cada uma e cada um quis levar até mental porque contribui efecti- ao Fórum. vamente para a qualidade de Os contributos de cada organização ou movimento não passam sempre, não podem nem devem passar sempre, por convidadas/os famosas/os ou espaços gigantes que esvaziam os restantes ditos “pequenos” espaços com “pequenas” pessoas. Os processos têm de vida de milhares de mulheres concretas que, no local, sofrem a pobreza e a miséria impostas pelo capitalismo e pela guerra. Lamentavelmente o registo e ser assumidos por identidades diversas e múltiplas, na a visibilidade de uma propos- “polifonia de vozes” a que se refere o texto de encer- ta, ramento do FSM, e não ter, de novo, os homens bran- modesta, não lhe permite, tal- cos como os ‘rostos’ das/os novas/os sujeitas/os histó- vez, projectar mais amplamen- ricas/os que lutam contra o pensamento único do neo- te o mérito que ela tem. apenas liberalismo. Este é um risco que o Fórum não pode correr, o de perTeresa Cunha e Celina M. dos Santos Acção para a Justiça e Paz Abril de 2005 pág. 9 de 20 aparentemente Olhares Feministas sobre o Fórum Social Mundial de 2005 der pelo caminho, de forma inadvertida e sub-reptícia, os seus princípios fundadores: a paridade, a igualdade e a inquestionável solidariedade na diversidade. ► Outro exemplo poderá ser o do ensino da bio-construção a centenas de participantes e a 3- As actividades troca das diferentes técnicas locais para o fazer. Um dos Não é certo que tenha havido apenas muitas actividades. aspectos fundamentais da bio- O certo é que houve muitas, diferenciadas e, com certe- construção, tal como era apre- za, muitas delas com altíssima densidade democrática, vitalidade, irreverência, qualidade e pertinência social e política. É também certo que houve maior articulação entre pro- sentada, foi ensinar e aprender a usar sistemas naturais (e não consumidores de energias poluentes) de climatização jogando com “buracos” e postas de actividades, mais concretude das propostas, alturas ou ainda de aprovei- mais participação autónoma e com intencionalidade. tamento de excrementos de Porém, este salto qualitativo não deve esconder ou tal forma que a sua apresen- negligenciar o facto de que falta muito para se obter um tação final é exactamente a verdadeiro diálogo entre eixos temáticos, acções e mesma dos fertilizantes não- alternativas. Algum desse trabalho de articulação e tra- biológicos que compramos. dução já se iniciou. A título de exemplo, a Marcha Mundial das Mulheres realizou várias oficinas tentando cru- ► Por fim, uma bela experiên- zar problemas e terrenos de intervenção. Economias cia alternativa ao modelo esco- solidárias, trabalho e sindicalismo, feminismo paz e lástico: as oficinas desenvolvi- desmilitarização, alter- das pelas ‘Poro’rokas da Paz e globalização, são algumas das problemáticas que foram da Democracia’ que construí- tratadas com intencionalidade e solidariedade. ram, participativa e cooperati- feminismo e movimentos Parece ser útil retomar a ideia de que as actividades poderão ser divididas por períodos diferenciados do dia, segundo a sua tipologia. Esta estratégia permite uma utilização do tempo de todas/os as/os participantes no sentido de maximizar a sua presença e participação no Fórum. Este ano, esta distribuição dos tempos estava reduzida ao período do fim da tarde para sessões de articulação e avaliação, o que parece ser insuficiente. vamente duas oficinas sobre pedagogias da paz e uma sobre pesquisa transcontinental. Em www.ajpaz.org.pt poderão ser consultados todos os materiais e a memória destas iniciativas Por último, é evidente a contínua invisibilidade de pessoas e organizações de África e da Ásia e também das Teresa Cunha e Celina M. dos Santos Acção para a Justiça e Paz pós-colonial Abril de 2005 pág. 10 de 20 Olhares Feministas sobre o Fórum Social Mundial de 2005 nações indígenas americanas. Este foi, ainda, um Fórum branco e latino-americano. Um dos momentos de maior crispação, porque também um dos momentos de mais denso simbolismo da resistência que 4- O espaço-tempo do Fórum Social Mundial de 2005 o FSM quer incorporar, foi a leitura do Apelo aos Movimen- Por outro lado, é importante reflectir sobre o espaço- tos Sociais. tempo em que o Fórum se conseguiu constituir e sobre Na mesa estavam sete pes- as possibilidades de experimentação de alternativas e soas. Cinco eram homens ensaio de novas práticas em que isso se transfigurou. brancos que liam cada um dos O facto de o FSM ter acontecido num único espaço ao ar livre e em continuidade permitiu, de certa forma, um ensaio de como poderia parecer, materialmente também, o tal outro mundo possível. Não foi perfeito, mas foi um caminho importante e que, em nossa opinião, parágrafos da agenda de luta saída do Fórum. Duas eram mulheres, uma negra african e outra, uma morena americana do sul. No final de cada frase, elas levantavam-se para tra- deveria ser percorrido e aprofundado nas próximas edi- duzir, ora para inglês (a negra ções. africana) ora para castelhano Apesar de todo o caminho andado e dos esforços de mui- (a morena americana), o que tas e muitos em trazer para o FSM outras formas de tra- os homens acabavam de pro- balho e produção, comercialização e organização do clamar. mercado, persistem muitas coisas a criticar e a refazer. E, cá fora, perante a indignação É ainda clara a ausência de uma estratégia perseveran- de muitas mulheres e dos te e consistente para fazer convergir para o espaço do movimentos feministas, algu- FSM práticas de consumo responsável. De um certo mas delas comentavam que só modo, o FSM reproduz intensamente, durante os seus a presença daquelas mulheres cinco dias, um mercado consumista e capitalista. Estamos a aprender a fazer de outra maneira. Temos que avançar mais rapidamente para tornar o espaçotempo do FSM uma materialização de outras relações já tinha representado uma luta feroz e determinada no seio do comité organizador da Assembleia dos Movimentos Sociais. E as mulheres repetiam, por- não-violentas, inclusivas, paritárias e justas, porque elas que dizendo parece que a rea- são possíveis e absolutamente necessárias. lidade se aproxima mais Porém, parece-nos que a continuidade e a consolidação depressa: outro mundo não do esforço de construção de materialização do FSM será possível sem uma revolu- num outro espaço-tempo que se traduz num corte com a ção feminista! globalização neo-liberal, depende em grande medida da própria organização física e material do FSM; não apeTeresa Cunha e Celina M. dos Santos Acção para a Justiça e Paz Abril de 2005 pág. 11 de 20 Olhares Feministas sobre o Fórum Social Mundial de 2005 nas económica, mas também de outras dimensões que abranjam cada vez mais a complexidade deste outro mundo possível. A tentativa de dar ao Fórum uma outra organização espacial teve como maior mérito o de contrariar a fragmentação deste evento/processo pelos diferentes espaços de Porto Alegre. A concentração do FSM num espaço único traz consigo a vantagem de dar uma nova visibilidade e coerência às ideias e práticas promovidas, disseminadas e testadas no seu âmbito. Ainda que a ruptura com o capitalismo e a globalização hegemónica tenha estado ainda muito longe de acontecer, a exigência de um espaço feito de diversidades, de experimentações e de vida representa todo um conjunto de novas possibilidades e também de esperanças simbólicas e materiais. Parte disto reside precisamente em poder reunir num espaço articulado as mais diferentes dimensões das nossas vidas, além do activismo que move cada uma e cada um. Entre estas dimensões que foram consideradas e vistas como parte integral deste outro mundo que queremos aprender a construir estão o lazer, a cultura, a alimentação, o descanso, a música, o convívio, a natureza. Foi articulando estas e outras dimensões e a sua vivência a partir de outros saberes, ritmos e orientações espaciais que se foram ensaiando simultaneamente múltiplos caminho e vias de possibilidade para a construção de um outro mundo que queremos e precisamos, de uma forma ainda mais concreta. As e os indígenas sempre foram uma comunidade com uma ampla participação nos Fóruns Sociais Mundiais, porém, este ano, a divisão dos eixos temáticos por espaços próprios, fez com que as distâncias se transformassem em afastamentos materiais. Quase não se viram as mulheres e os homens das nações índias junto ao lago Guaíba fazendo os seus rituais. Poucas/os de nós foram até ao fundo do parque onde estavam as suas tendas, porque era longe e para lá delas acabava o espaço do Fórum. Elas e eles sofreram, mais uma vez, de uma dupla condição de subalternidade. O nosso olhar ainda colonial que as/os amalgama a todas/os na classificação de ‘índios’ e de um espaço que, apesar de tudo, as/os lançou e fixou na margem e na periferia. Precisamos todas/os de reivindicar e treinar outros olhares e outras práticas. 5- Notas Finais Gostaríamos de realçar, de novo, alguns elementos muito positivos do FSM 2005 e que devem inspirar os passos que formos dando: Teresa Cunha e Celina M. dos Santos Acção para a Justiça e Paz Abril de 2005 pág. 12 de 20 Olhares Feministas sobre o Fórum Social Mundial de 2005  A presença de um grande número de pessoas e organizações  Muitas e diferentes actividades propostas e desenvolvidas pelas diversas organizações e Práticas Alternativas movimentos  Vitalidade e irreverência presente nas passeatas e marchas  Actividades com temas e problemas mais concretos  Uma atmosfera clara de luta e resistência antineoliberal e anti-capitalista  Um “Mural de Propostas” de acção local, regional e global Uma curta reflexão final sobre o Fórum Social Mundial  Bioconstrução – que não foi levada até ao fim, mas que ficou registada como prática alternativa possível e desejável.  As mulheres e homens da economia solidária e orgânica, tanto no artesanato, como na alimentação, foram fundamentais para os tempos livres do FSM. parece-nos importante ser feita. Muito embora se façam críticas ao FSM por este se constituir como a ‘peregrinação anual da solidariedade’ ou da ‘alterglobalização’, é interessante desenvolver uma contra-crítica que permita revelar as potencialidades de um encontro mundial de organizações e movimentos. Para além de ser a realização de uma globalização alternativa e contra-hegemónica, face às cimeiras de Davos e, assim, por si só, ter um elevado sentido simbólico, é também um momento privilegiado de trabalho e de construção de sinergias. Se o projecto neo-liberal procura a fragmentação, a atomização, a flexibilização e a cooptação de todas as relações sociais solidárias, o Fórum Social Mundial busca o encontro, a troca solidária, a coesão responsável e justa. Opor-se ao pensamento único significa, entre muitas coisas, procurar espaços e tempos onde a diversidade possa encontrar lugar e florescer.  A utilização de produtos justos na confecção e produção das sacolas oficiais do FSM.  Todo o negócio realizado pelas pessoas das classes populares e mais pobres de Porto Alegre, que gerou riqueza e uma redistribuição mais justa desta.  A recolha e a separação dos lixos e o reconhecimento não só do valor ambiental destas actividades, mas também económico e político. Este espaço e esse tempo cosmopolita é o Fórum Social Mundial. Para ele convergir não significa alienação, afastamento da realidade, mas tão só inverter os termos que a irreverência hoje significa: pensar localTeresa Cunha e Celina M. dos Santos Acção para a Justiça e Paz Abril de 2005 pág. 13 de 20 Olhares Feministas sobre o Fórum Social Mundial de 2005 mente e agir globalmente. Conhecer em carne e osso, ouvir as vozes concretas e descortinar as silhuetas é também a humanização das relações de solidariedade que é preciso construir face ao individualismo e à despersonalização crescente das nossas relações de trabalho e as nossas relações de resistência. É preciso olhar com uma sabedoria de resistência esta dita ‘peregrinação’ e encontrar nela todas as potencialidades que qualquer encontro humano significa: mais força para enfrentar, e transformar em vida, mortes anunciadas. Teresa Cunha e Celina M. dos Santos Acção para a Justiça e Paz Abril de 2005 pág. 14 de 20 Olhares Feministas sobre o Fórum Social Mundial de 2005 FÓRUM SOCIAL MUNDIAL 2005 – A PARTICIPAÇÃO DA AJP Acção para a Justiça e Paz No Fórum Social Mundial de 2005 participaram e representaram a AJP e a Rede Poro’rokas da Democracia e da Paz: - Portugal: Teresa Cunha, Celina M. dos Santos, Miguel Mesquita e Alípio de Freitas. - Brasil, Porto Alegre: Denise Leite, Maria Elly Genro, Cecília Leite, Célia Caregnato - Brasil, Sergipe: Sônia Meire, Carlos Alberto Jesus - Uruguai, Montevideo: Cristina Contera Através da rede Poro’rokas da Democracia e da Paz, a AJP organizou e realizou três oficinas: As Pedagogias da Paz”, dinamizada por Teresa Cunha e por Celina M. dos Santos, dia 27 de Janeiro, das 8h30 às 12h e das 13h30 às 15h “Reescrevendo conceitos e experiências de democracia e de paz na perspectiva pós-colonial: pesquisa transcontinental?”, dinamizada por Denise Leite, Sônia Meire e Carlos Alberto Jesus, dia 29 de Janeiro, das 15h30 às 18h30 Com a Marcha Mundial das Mulheres (MMM) a AJP participou nas seguintes actividades: Reunião de preparação da presença da MMM no Fórum Social Mundial, dia 26 de Janeiro das 9h às 13h30. A Teresa Cunha deu uma entrevista sobre a MMM para uma rádio alemã; Assembleia Mundial da MMM, dia 27 de Janeiro das 15h30 às 21h. A Teresa Cunha interveio sobre o Colectivo da Paz e Desmilitarização; Seminário ‘Feminismo e Movimento Anti-Globalização’, dia 28 de Janeiro, das 19h00 às 21h00; Oficina ‘Feminismo, Paz e Desmilitarização‘, dia 30 de Janeiro das 19h às 21h30. A Teresa Cunha fez uma intervenção sobre o tema; A Teresa Cunha em nome da AJP, como organização integrante da Coordenação Portuguesa da MMM, deu uma entrevista em directo e outra gravada para os espaços radiofónicos da MMM (em francês e português). A AJP participou activamente no bloco da MMM na Marcha de Abertura e na Marcha de Encerramento do FSM. A melhor maneira de dizer é fazer. Teresa Cunha e Celina M. dos Santos Acção para a Justiça e Paz Abril de 2005 pág. 15 de 20 Olhares Feministas sobre o Fórum Social Mundial de 2005 Notas 1 O texto do Apelo encontra-se em Anexo, na sua versão em castelhano Apelo aos Movimentos Sociais 3 A este propósito, ver o estudo sobre a demografia do FSM feito por Boaventura de Sousa Santos. Santos, B. S., 2005, Fórum Social Mundial – Manual de Uso, Porto: Afrontamento, pp. 64 a 84 4 Texto de Encerramento do Fórum Social Mundial de 2005, http://www.forumsocialmundial.org.br/dinamic.php?pagina=encerra2005_por acedido a 13-04-2005 2 Referências Apelo aos Movimentos Sociais da Assembleia Mundial de Movimentos Sociais de 2005 – http://www.movsoc.org/htm/decl_2005_cast.htm acedido a 14 Abril de 2005 Números do Fórum Social Mundial 2005 – http://www.forumsocialmundial.org.br/noticias_01.php?cd_news=1707&cd_language=1 acedido a 14 Abril de 2005 Obando, Ana Elena, 2005, Sexismo en el Foro Social Mundial – Es Posible Otro Mundo, http://www.whrnet.org/docs/tema-sexismo_fsm.html acedido a 14 Abril de 2005 Olhares sobre o Fórum Social Mundial de 2005, www.ajpaz.org.pt Santos, Boaventura de Sousa, 2004, “Fórum Social Mundial – Um manual de Uso” Texto de Encerramento do Fórum Social Mundial de 2005 – http://www.forumsocialmundial.org.br/dinamic.php?pagina=encerra2005_por acedido a 14 Abril de 2005 Teresa Cunha e Celina M. dos Santos Acção para a Justiça e Paz Abril de 2005 pág. 16 de 20 Olhares Feministas sobre o Fórum Social Mundial de 2005 ANEXO LLAMAMIENTO DE LOS MOVIMIENTOS SOCIALES A LA MOVILIZACIÓN CONTRA LA GUERRA, EL NEOLIBERALISMO, LA EXPLOTACIÓN Y EXCLUSIÓN, POR OTRO MUNDO POSIBLE Porto Alegre – 31 Enero 2005 Somos movimientos sociales reunidos en el marco del V Foro Social Mundial. El gran éxito de participación, plural y masiva, al FSM, nos da la posibilidad y la responsabilidad de hacer más y mejor nuestras campañas y movilizaciones, para extender y fortalecer nuestras luchas. Hace cuatro años el grito colectivo y global que OTRO MUNDO ES POSIBLE rompió la mentira que la dominación neoliberal es inevitable, así como de la “normalidad” de la guerra, de la desigualdad social, del racismo, de las castas, del patriarcado, del imperialismo y de la destrucción del medio ambiente. En la medida que los pueblos se apropian de esta verdad, su fuerza se hace incontenible y se va materializando en hechos concretos de resistencia, reivindicación y propuesta. Por ello lo nuevo de nuestra época es el estallido y la extensión de los movimientos sociales en todos los continentes y su capacidad de construir en la diversidad nuevas convergencias y acciones comunes a escala global. En ese marco, decenas de millones de hombres y mujeres se movilizaron en todos los rincones del mundo por la paz, contra la guerra y la invasión encabezada por Bush contra Iraq. Las cumbres como el G8 y la OMC, el FMI y el Banco Mundial, donde pocos pretenden decidir por todos y todas, quedaron cuestionadas y deslegitimadas por la acción de los movimientos sociales. Las luchas populares en defensa de la naturaleza, de los derechos de los pueblos y de los bienes comunes, contra su privatización, como las de Bolivia, Uruguay y otros pueblos, demostraron la posibilidad de poner en crisis la dominación neoliberal. Se nos abrieron nuevos espacios de lucha política y social. El neoliberalismo es incapaz de ofrecer un futuro digno y democrático a la humanidad. Sin embargo, hoy día retoma la iniciativa respondiendo a su crisis de legitimidad con la fuerza, la militarización, la represión, la criminalización de las luchas sociales, el autoritarismo político y la reacción ideológica. Millones de hombres y mujeres están sufriendo cada día. Queremos aquí recordar la guerra en el Congo que ya causo cuatro millones de victimas. Por todo eso, otro mundo no solamente es posible, sino necesario y urgente. Conscientes que nuestro camino es aun largo, llamamos a todos los movimientos del mundo a luchar por la paz, los derechos humanos, sociales y democráticos, el derecho de los pueblos de decidir su destino y la cancelación inmediata de la deuda externa de los países del Sur, a partir de la AGENDA que compartimos en el marco del V Foro Social Mundial: Teresa Cunha e Celina M. dos Santos Acção para a Justiça e Paz Abril de 2005 pág. 17 de 20 Olhares Feministas sobre o Fórum Social Mundial de 2005 AGENDA DE LUCHA – Llamamos a todas las organizaciones y movimientos sociales participantes en el Foro Social Mundial y a aquellas que no pudieron estar en Porto Alegre, para trabajar juntos una campaña por la INMEDIATA e INCONDICIONAL CANCELACIÓN DE LA DEUDA externa y ilegitima de los países del Sur, comenzando con los países víctimas del tsunami y otros que han sufrido terribles desastres y crisis en los meses recientes. Apoyamos a los Movimientos Sociales del Sur que se declararen ACREEDORES de las deudas históricas, sociales y ecológicas. Exigimos el reconocimiento internacional de estas deudas para detener su incremento, y la restauración de nuestros ecosistemas y el resarcimiento a los pueblos. Exigimos cesar la ejecución de proyectos y “acuerdos de integración” que faciliten el saqueo de recursos naturales en los países del Sur. Apoyamos la exigencia de los Movimientos Sociales de campesinos y pescadores de las áreas afectadas por el Tsunami a fin de que los recursos para la emergencia y rehabilitación sean administradas directamente por las comunidades locales y así evitar nuevas deudas, colonización y militarización. – A dos años de la invasión a Iraq la oposición global a la guerra es más grande que nunca. Para el movimiento contra la guerra es tiempo de aumentar las acciones y no hechar marcha atrás. Exigimos el fin de la ocupación de Iraq. Exigimos que EE.UU. terminen de amenazar a Irán, a Venezuela y a otros países. Nos comprometemos a establecer más contactos con las fuerzas anti-ocupación en Iraq y Oriente Medio. Reforzaremos nuestras campanas contra las transnacionales implicadas en la ocupación, apoyamos a los militares que rechazan la participación en la guerra y defendemos los activistas perseguidos por estar contra la guerra. Llamamos a los movimientos a movilizarse el 19 de marzo en un gran dia de acción global para exigir el retiro de las tropas de ocupación de Iraq. No más guerras! – Apoyamos todas las campanas para el desarme y la desmilitarización, incluso la campana contra las bases militares de EE.UU. en el mundo, las campanas por el desarme nuclear, por el control del comercio de las armas y por cortar el gasto militar. – Bajo la excusa del “Libre Comercio” el capitalismo neoliberal avanza en el debilitamiento de los Estados, la desregulación de las economías y en la “legalización” de privilegios para las corporaciones transnacionales a través de los Tratados de Libre Comercio (TLCs). Fracasado el ALCA por la presión popular, ahora se obliga a Centroamérica y otros países a suscribir Tratados de Libre Comercio bilaterales que los pueblos rechazamos. En Europa la directiva Bolkestein de la UE quiere imponer la privatización completa de los servicios públicos. En este marco llamamos a todas y todos a movilizarnos durante las Jornadas de Acción Global, del 10 al 17 Abril, en la Cumbre de los Pueblos de las Américas, en Mar del Plata, Argentina, en Noviembre 2005; y frente a la VI Reunión Ministerial de la Organización Mundial del Comercio, en Hong Kong, en Diciembre 2005. – Apoyamos la Marcha Mundial de las Mujeres quienes realizan una nueva campana de acciones feministas globales, recorriendo el mundo partiendo de Sao Paulo el 8 de marzo y finalizando el 17 de octubre en Burkina Faso, para reafirmar su compromiso en la lucha contra el neoliberalismo, el patriarcado, la exclusión y la dominación. Convocamos a todos los movimientos a construir en ese periodo acciones feministas contra el libre comercio, el tráfico sexual, la militarización y por la soberanía alimentaria. – Apoyamos los esfuerzos de movimientos sociales y organizaciones que promueven la lucha por la dignidad, la justicia, la igualdad y los derechos humanos, especialmente los de los Dalits, Afro-descendentes, pueblos indígenas, romas, burakumins y los más oprimidos y reprimidos sectores de la sociedad. – Llamamos a la movilizacion de masas contra la cumbre del G8 en Escocia del 2 al 8 de julio. Iremos a las calles y participaremos en la contra-cumbre en Edinburgo y Gloneagles. Exigimos: que la pobreza pase a la historia, que paren la guerra, cancelen la deuda e impongan un impuesto global a las transacciones financieras para financiar el desarrollo. Teresa Cunha e Celina M. dos Santos Acção para a Justiça e Paz Abril de 2005 pág. 18 de 20 Olhares Feministas sobre o Fórum Social Mundial de 2005 – Protestamos contra las políticas neoliberales y los apoyos militares de la Unión Europea hacia la América Latina. Convocamos a una movilización por la solidaridad entre los pueblos en ocasión de la Cumbre de Presidentes de América Latina y de Unión Europea en Mayo 2006, en Viena, Austria. – Luchamos por el derecho universal a una alimentación sana y suficiente. Luchamos por el derecho de los pueblos, las naciones y los campesinos a producir sus alimentos. Nos manifestamos contra los subsidios a la exportación que destrozan las economias de las comunidades rurales. Evitemos el dumping alimentario. Rechazamos los alimentos transgenicos porque además de poner en riesgo nuestra salud y nuestro ambiente, son el instrumento para el control de los mercados por cinco impresas transnacionales. Rechazamos las patentes sobre cualquiera forma de vida y en especial sobre las semillas ya que con ello pretenden apropriarse de nuestros recursos y el conocimiento asociado a ellos. Exigimos la Reforma Agraria como una estrategia que permita garantizar el acceso del campesinado a la tierra, y sea la garantia de una alimentación sana y suficiente, y no se concentre la tierra en manos de las transnacionales y los latifundistas. Exigimos que se anulen las acciones en contra de los campesinos de todo el mundo, la liberación inmediata de los campesinos y presos político que existen en el mundo, la suspensión de la militarización de la zonas rurales. Apoyamos la producción sustentable basada en la preservación de los recursos naturales: suelo, agua, bosque, aire, biodiversidad, recursos acuaticos etc. Apoyamos el fomento a la producción organica y agroecologica. Llamamos a la movilización en el dia mundial de los campesinos el dia 17 de abril; y en el aniversario de la muerte de Lee el 10 de septiembre contra la OMC. – Apoyamos las campanas y luchas en defensa del agua como bien común público, contra su privatización y para el reconocimiento del acceso al agua como un derecho humano, como la campana “No a la Suez en América Latina”. Invitamos a participar en el Forum internacional del 18-20 de marzo en Ginebra. – Compartimos la exigencia de construir una alianza entre movimientos sociales y redes por un “Contracto mundial por el clima: un mundo solar es posible”. La energía es derecho a la vida y un bien común. La lucha contra la pobreza y el cambio climático exigen que la energía sustentable este entre las prioridades de las iniciativas y campanas del movimiento social. Apoyamos la marcha internacional sobre el clima en noviembre. – La “Responsabilidad Social de las Transnacionales” no logro eliminar los abusos y crímenes de las transnacionales. Por ello tiene que ser seriamente desafiada. Los movimientos trabajaran juntos para quitar poder a las transnacionales, parar sus abusos y crímenes. Las comunidades tienen que tener libertad para protegerse a si mismas, a su medio ambiente y a la sociedad del dominio de las transnacionales. – Apoyamos las campanas contra las transnacionales que violan los derechos humanos, sociales y sindicales, como aquellas contra Nestle y Coca-Cola en Colombia; y, Pepsi y Coca Cola en la India. – Apoyamos la lucha del pueblo palestino por sus derechos fundamentales y nacionales, incluso el derecho al retorno, basados en el derecho internacional y las resoluciones de la ONU. – Pedimos a la comunidad internacional y a los gobiernos imponer sanciones políticas y económicas a Israel, incluyendo el embargo sobre las armas. Llamamos a los movimientos sociales a movilizarse también por las desinversiones y boicots. Estos esfuerzos tienen el objetivo de presionar a Israel a implementar las resoluciones internacionales y respetar el parecer de la Corte internacional de Justicia de parar la construcción y destruir el muro ilegal del apartheid y terminar la ocupación. – Apoyamos a los activistas israelíes por la paz y los refusnik en su lucha contra la ocupación. – Condenamos el injusto bloqueo a Cuba y pedimos un juicio justo para los cinco cubanos presos en Estados Unidos. Igualmente, exigimos la retirada inmediata de las tropas militares extranjeras en Haití. – Reconocemos la diversidad de opción sexual como una expresión de un mundo alternativo y condenamos su mercantilización. Los movimientos se comprometen a compartir la lucha contra las exclusiones por iden- Teresa Cunha e Celina M. dos Santos Acção para a Justiça e Paz Abril de 2005 pág. 19 de 20 Olhares Feministas sobre o Fórum Social Mundial de 2005 tidad, género y homofobia. Juntaremos nuestras voces en contra todas la formas de mercantilización del cuerpo, de la mujeres y de las personas GLBT; – Apoyamos el proceso de construcción de una red global de movimientos sociales comprometidos con la defensa de los migrantes, refugiados y desplazados. El neoliberalismo y las politicas de la “guerra contra el terror” produjeron el crecimiento de la criminalizacion de los migrantes, de la militarización de las fronteras, del clandestinaje y de la disponibilidad de fuerza de trabajo barata. Apoyamos la campana por la ratificación de la Convención de las Naciones Unidas por los derechos de los migrantes, que ningún gobierno del Norte quiere aceptar. Apoyamos la campana por establecer un organismo independiente que sancione a los gobiernos que no respetan la Convención de Ginebra para los refugiados y los derechos de los y las migrantes. – Apoyamos las campanas y luchas por los derechos de los niños y las niñas, contra la explotación laboral y sexual, contra el trafico de niños y el turismo sexual. – Apoyamos el llamamiento de los excluidos, de los sin-voz, para desarrollar una campana de solidaridad activa e impulsar una marcha mundial en la que los y las oprimidos/as y excluidos/as del planeta levantan su voz para conquistar el derecho a una vida digna. – Desde el 14 hasta el 16 de septiembre, en la Asamblea general de la ONU, los jefes de gobierno de todo el mundo tomaran decisiones sobre la reforma de las Naciones Unidas y revisaran sus compromisos para erradicar la pobreza. Son ellos los principales responsables de la actual situación crítica de la humanidad. Apoyamos el llamado de redes internacionales que invitan a movilizarse globalmente el 10 de septiembre por un nuevo orden mundial democrático y contra la pobreza y la guerra. – Apoyamos el llamado por una movilización el dia 17 de noviembre, en el dia internacional de los estudiantes, en defensa de la educación publica, contra la privatización y la transnacionalizacion de la educación. – En solidaridad con Venezuela la juventud del mundo esta llamada de partecipar en el 16o festival mundial de la juventud y de los estudiantes en Venezuela entre los dias 7 a 15 de agosto. – La comunicación es un derecho humano fundamental. Apoyamos el llamado para las movilizaciones en el marco de la Cumbre Mundial de la Sociedad de da Comunicación, en Tunis el 16-18 de noviembre. Apoyamos el llamado a una fuerte convención internacional sobre la Diversidad Cultural y nos oponemos a la mercantilización de la información y de la comunicación por la OMC. – Apoyamos la economia social como expresión concreta de una alternativa de desarrollo justo, solidario, democrático y equitativo. – En defensa de la salud publica y contra su privatización, llamamos a todos los pueblos del mundo a una lucha permanente. Llamamos a la movilización en el marco de la Asamblea General en Defensa de la Salud de los Pueblos, en Cuenca, Perú en el año 2005 y al Foro Mundial de la Salud en el marco del Foro Social Mundial en África en 2007. Esta es una pequeña muestra de los movimientos sociales en lucha GLOBALICEMOS LA LUCHA, GLOBALICEMOS LA ESPERANZA! movsoc@uol.com.br / www.movsoc.org 1 O texto do Apelo encontra-se em Anexo, na sua versão em castelhano Apelo aos Movimentos Sociais 3 A este propósito, ver o estudo sobre a demografia do FSM feito por Boaventura de Sousa Santos. Santos, B. S., 2005, Fórum Social Mundial – Manual de Uso, Porto: Afrontamento, pp. 64 a 84 4 Texto de Encerramento do Fórum Social Mundial de 2005, http://www.forumsocialmundial.org.br/dinamic.php?pagina=encerra2005_por acedido a 13-04-2005 2 Teresa Cunha e Celina M. dos Santos Acção para a Justiça e Paz Abril de 2005 pág. 20 de 20