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ISSN 0103-5118 Órgão Oficial da Academia Brasileira de Neurocirurgia Volume 15 Número 3 Setembro/Dezembro de 2004 EDITOR Ápio Cláudio Martins Antunes Porto Alegre / RS EDITORES ASSOCIADOS Luiz Roberto Aguiar Curitiba / PR Paulo Henrique Iris de Aguiar São Paulo / SP CONSELHO EDITORIAL Benedito Oscar Colli Ribeirão Preto / SP Fernando Menezes Braga São Paulo / SP Hildo Cirne de Azevedo Filho Recife / PE Luiz Renato Mello Blumenau / SC Oswaldo Inácio Tella Junior São Paulo / SP Paulo Niemeyer Soares Filho Rio de Janeiro / RJ Sebastião Gusmão Belo Horizonte / MG EXPEDIENTE Academia Brasileira de Neurocirurgia Filiada à World Federation of Neurosurgical Societies DIRETORIA Biênio 2003/2005 Presidente: Carlos Thadeu Parisi de Oliveira – Bragança Paulista Presidente eleito: Marcos Masini – Brasilia Vice-presidente: Luiz Roberto Aguiar – Curitiba Secretário: Guilherme Contadore Bierrenbach de Castro Tesoureiro: Duarte Nuno Ribeiro Osório CONSELHO DELIBERATIVO Anselmo Saturnino Teixeira – Rio de Janeiro Ápio Cláudio Martins Antunes – Porto Alegre Durval Peixoto de Deus – Goiânia Edson Mendes Nunes – Rio de Janeiro Evandro Pinto da Luz Oliveira – São Paulo Feliciano Pinto – Rio de Janeiro Flávio Belmino Barbosa Evangelista – Fortaleza Gervásio Brito de Mello Filho – Belém Hildo Rocha Cirne de Azevedo Filho – Recife Hélio Ferreira Lopes – Rio de Janeiro João Mairton Pereira de Lucena – Fortaleza Luiz Fernando Pinheiro Franco – São Paulo Luiz Roberto Aguiar – Curitiba Mário Ferreira Coutinho – Porto Alegre Paulo Henrique Pires de Aguiar – São Paulo Sebastião Natanael Silva Gusmão – Belo Horizonte SECRETARIA PERMANENTE Secretário geral: Anselmo Saturnino Teixeira – Rio de Janeiro SEDE PRÓPRIA Rua da Quitanda, 159, 10º andar, Centro 22011-030 – Rio de Janeiro, RJ – Brasil Telefax: (21) 2233-0323 E-mail: abnc@openlink.com.br Rua Cunha Gago, 412, 2º andar, cj. 21, Pinheiros, 05421-001, São Paulo, SP. Fone/fax: 11 3039-5669. www.segmentofarma.com.br; e-mail: segmentofarma@segmentofarma.com.br Diretor gera: Idelcio D. Patricio Diretor executivo Jorge Rangel Diretor editorial Maurício Domingues Coordenação editorial Angela Helena Viel Produção gráfica Marcelo Barra e Fabio Rangel Gerentes de negócios Anna Maria Caldeira, Eli Proença, Norma Gaba, Luis Mauricio Feltran Cód. da publicação: 1166.09.05 Expediente J Bras Neurocirurg 15(3), 2004 ÍNDICE Índice / Contents ARTIGO ORIGINAL Qualidade de vida pré e pós-cirurgia de pacientes portadores de meningiomas .....................85 Quality of Life before and after Surgery in Patients with Meningiomas Camila Batista dos Santos, Paulo Henrique Pires de Aguiar, Maria Fernanda Gouveia da Silva, Raul Marino Jr. ARTIGOS DE REVISÃO Enfermedad Moyamoya ...................................................................................................................91 Moyamoya Disease Leonidas Quintana Marín Cirurgia psiquiátrica para agressividade ........................................................................................105 Psychosurgery for Aggressiveness Manoel Jacobsen Teixeira, Eda Zanetti Guertzenstein, Clement Hamani, Leandro Venturini, Maria Elvira Borges Calazans, Myriam Carolina Montenegro Meningioma da região do forame magno .....................................................................................112 Foramen Magnum Meningiomas Luis A. B. Borba, Ricardo M. R. Guimarães, Marlus S. Moro, Alceu Correia, Miguel Giudicissi-Filho, Carlos Vanderley Holanda RELATOS DE CASO Pseudotumores cerebrais por paracoccidioidomicose .................................................................119 Pseudocerebral tumor due to Paracoccidioidomycosis Luiz Alexandre Invernici, Mauro Roberto de Buone, Adriano Rieger, Nadia A Lorencette CARTA AO EDITOR Análise técnica do artigo “Uma avaliação sobre a problemática dos clipes de aneurismas no Brasil” ...............................................................................................................123 Victor G. Cademartori, Horácio A. Vielmo Eventos científicos ...........................................................................................................................126 Índice J Bras Neurocirurg 15(3), 2004 NORMAS PARA PUBLICAÇÃO indexado na base de dados LILACS Jornal Brasileiro de Neurocirurgia O Jornal Brasileiro de Neurocirurgia é o órgão oficial da Academia Brasileira de Neurocirurgia e propõe-se a publicar artigos sobre Neurocirurgia e todas as ciências afins. Assim, trabalhos inéditos, sob a forma de artigos originais, resumo de teses, apresentação de casos ou notas técnicas poderão ser aceitos, desde que não tenham sido enviados para publicação em outro periódico. Os trabalhos deverão ser redigidos em português, com resumo em inglês, incentivando-se a publicação de artigos em língua inglesa. Todo e qualquer trabalho poderá receber modificações, para que se adapte à estrutura geral do Jornal. Os artigos que não se enquadrarem nas normas ou que não forem adequados às necessidades editoriais do Jornal serão devolvidos ao(s) autor(es), para que proceda(m) às adaptações necessárias. Os artigos deverão ser enviados em disquetes, CD ou por e-mail e poderão ser utilizados os editores de texto “MS Word”, nas versões DOS ou Windows, devendo ser enviadas também duas vias de texto original conforme digitação. A estruturação do artigo deverá obedecer à seguinte orientação: a) página-título, na qual constem o título do artigo, nome completo do(s) autor(es) e da instituição onde o trabalho foi realizado; b) página constando a sinopse do trabalho estruturado (objetivo, métodos e conclusão), com, no máximo, 200 palavras, transmitindo a idéia geral da publicação, seguida por um “structured abstract”, que deve incluir: objetive, methods, and conclusion; c) corpo do artigo; d) referências bibliográficas, dispostas em ordem alfabética pelo sobrenome do primeiro autor, numeradas arábica e consecutivamente para efeito de citação no texto, de acordo com as normas da ABNT. Comunicações pessoais e trabalhos em preparação poderão ser citados no texto, mas não constarão das referências. Exemplos: • Artigos de revista: − sobrenome do autor, seguido pelas iniciais de seus prenomes, o que se repete para cada co-autor, se existente(s), intercalando-se “vírgula” e seguidos de “dois-pontos” após o último autor; − nome abreviado do periódico (conforme Cumulated Index Medicus), em negrito, seguido de “vírgula”; − o número (em arábico) do seu volume, seguido de “dois pontos”; − os números das páginas inicial e final do artigo, separados por “hífen” e seguidos de “virgula”; − o ano de publicação do periódico, seguido de “ponto”. Ex.: 1. BORZONE M, GENTILE S, PEREIRA C, RIVANO C, ROSA M: Vertex espidural hematomas. Surg Neurol, 11: 277-84, 1979. • Livros (considerados como um todo) − sobrenome do autor, seguido pelas iniciais de seus prenomes, o que se repete para cada co-autor, se existente(s), intercalando-se “vírgula” e seguidos de “dois-pontos” − nome da oba (grifado), seguido de “ponto”; − número da edição (caso não seja a primeira), seguido de “virgula”; − local da publicação, seguido de “vírgula”; − nome da editora, seguido de “virgula”; − ano da publicação do livro, seguido de “ponto”; Normas para publicação Ex.: 2. VI VINKEN PJ, BRUYN GW: Handbook of Clinical Neurology. Injuries to the Brain and Skull. Amsterdan, North Holand, 1976, Vol.24. • Livros (considerados em parte – capítulo): − sobrenome do autor do capítulo, seguido pelas iniciais de seus prenomes, o que se repete para cada co-autor, se existente(s), intercalando-se “vírgula” e seguidos de “dois-pontos” após o último autor; − nome do capítulo, seguido d “ponto”; − sobrenome do autor do livro, seguido pelas iniciais de seus prenomes, o que se repete para cada co-autor, se existente(s), intercalando-se “vírgula” e seguidos de “ponto”, precedido de “In:; caso seja(m) o(s) mesmo(s) arutor(es) do capítulo, seu(s) nome(s) deverá(ao) ser substituído(s) por “_____”; − nome da obra (grifado) e com as iniciais em maiúsculas, seguido de “ponto”; − número da edição (caso não seja a primeira), seguido de “virgula”; − local da publicação, seguido de “virgula”; − nome da editora, seguido de “virgula”; − ano da publicação do livro, seguido de “ponto”; − número do volume, caso existente, precedido de “Vol.”, seguido de “ponto”; − número do capítulo, precedido de “Cap.” E seguido de “vírgula”; − números iniciais e finais das páginas do capítulo, precedidos de “p”, intercalados por “hífen” e seguidos de “ponto”; Ex.: McLAURIN RL, McLENNAN JE: Diagnosis and Treatment of |Head Injuty in Children. In: Youmans JR: Neurological Surgery. 2nd ed, Philadelphia, Saunders, 1982. Vol. 4. Cap. 59, p 2084-136. Os artigos serão classificados em quatro tipos: artigos originais, relatos de casos, artigos de revisão e notas breves. Sugestão para elaboração do corpo de cada artigo: • Artigos Originais − introdução − material e métodos − resultados − discussão • Relato de Casos − introdução − apresentação do caso − discussão • Artigos de Revisão − introdução − apresentação do assunto As ilustrações devem ser enviadas soltas e em envelopes à parte, não excedendo, em sua totalidade a ¼ do espaço ocupado pelo artigo; as fotografias, em papel brilhante e em dimensões de 12 cm x 8 cm, devem conter, no verso e a lápis, o título do artigo, sua seqüência e posição, acompanhadas das respectivas legendas, em folha separada; os gráficos e as tabelas poderão ser datilografados. Os artigos deverão ser enviados ao Editor-chefe, Dr. Ápio Antunes, Rua Luciana de Abreu, 471, cj. 308, CEP 90570-060, Porto Alegre, RS – Telefax: (0xx 51) 3222-5760. End. eletrônico: dr.apioantunes@terra.com.br apioantunes@hotmail.com J Bras Neurocirurg 15(3), 2004 ARTIGO ORIGINAL Qualidade de vida pré e pós-cirurgia de pacientes portadores de meningiomas Camila Batista dos Santos* Paulo Henrique Pires de Aguiar** Maria Fernanda Gouveia da Silva*** Raul Marino Jr.***** Sinopse Objetivos: Avaliar a qualidade de vida antes e após a ressecção de meningiomas, bem como os diferentes aspectos que a compõem. Métodos: Foram avaliados, para este estudo, 17 pacientes, de ambos os sexos, com idade variando entre 30 e 72 anos, antes e após a intervenção cirúrgica. Para avaliar a qualidade de vida utilizou-se duas escalas: Innsbruck Health Dimensions Questionnaire for Neurosurgical Patients-(IHD NS) e o Perfil de Saúde de Nottingham-NHP. Resultados: Não foram observadas diferenças significativas na avaliação da qualidade de vida, em ambos os instrumentos, PSN e IHD NS, quando comparadas às avaliações pré e pós-intervenção cirúrgica. Conclusão: Apesar de não serem observadas diferenças significativas entre os resultados, antes e após a intervenção cirúrgica, pôde-se observar em ambas as escalas tendência à melhora da qualidade de vida no escore total e também nos domínios do PSN (nível de energia, dor, reações emocionais, sono e isolamento social). Contudo, este estudo apresentou limitações importantes, dado o tamanho da amostra * Psicóloga, pós-graduanda do Departamento de Neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). ** Professor colaborador do Departamento de Neurologia e Chefe do Grupo de Tumores da Divisão de Neurocirurgia do HC-FMUSP. *** Psicóloga, chefe do Serviço de Psicologia e Neuropsicologia do Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP. **** Professor titular de Neurocirurgia da FMUSP. SANTOS CB, AGUIAR PHP, SILVA MFG, MARINO Jr. R – Qualidade de vida pré e pós-cirurgia de pacientes com meningiomas e interferências como: fatores psicossociais na avaliação póscirúrgica (crise conjugal, familiar e/ou financeira), efeitos do processo de senescência e outras patologias. Palavras-chave Qualidade de vida, tumor intracraniano, meningiomas. Abstract Quality of Life before and after Surgery in Patients presenting with Meningiomas Objectives: To evaluate the quality of life, including all its different aspects, before and after surgical treatment of meningiomas. Methods: Seventeen patients of both sexes were appraised for this study, with age range between 30 and 72 years-old, before and after surgical intervention. For the assessment of quality of life patients preventing two scales were used: Innsbruck Health Dimensions Questionnaire for Neurosurgical Patients-IHD (NS) and the Profile of Health of NottinghamNHP. Results: Significant differences were not observed in the assessment of the quality of life, in both instruments, Profile of Health of Nottingham (PSN) and Innsbruck Health Dimensions Questionnaire for Neurosurgical Patients-IHD (NS), when comparing the assessments before and after surgical intervention. Conclusion: Although significant differences were not observed among the results before and after surgical intervention, it could be observed in both scales a tendency for the improvement of the quality of life in the total score and also in the domains of PSN J Bras Neurocirurg 15(3), 85-90, 2004 86 (level of energy, pain, emotional reactions, sleep and social isolation). However, this study presented with important limitations, given the size of the sample and interferences as: psychosocial factors in the post-surgical assessment (matrimonial, family and/or financial crisis), age effects and other diseases. Key words Quality of life, intracranial tumor, meningiomas. Introdução No âmbito da saúde, é notório o crescente interesse pelo tema qualidade de vida (QV), tanto para avaliar a eficácia, a eficiência e o impacto de determinados tratamentos, quanto para avaliar o impacto físico e psicossocial que as afecções, disfunções ou incapacidades podem acarretar às pessoas acometidas. Apesar de encontrar-se na literatura inúmeras definições para o termo QV, percebe-se que com o passar dos anos, esses conceitos vêm se tornando mais amplos, abordando tanto aspectos objetivos, quanto subjetivos, relacionados à doença, tratamento e seus efeitos. A maior parte dos estudos busca compreender a vida de pessoas acometidas por alguma doença em seus mais variados campos. Existem indícios de que o termo surgiu pela primeira vez, na literatura médica, na década de 1930 e que os primeiros passos nesta perspectiva foram dados por Karnofsky10, em 1948. A partir da década de 1990, houve aumento nas investigações relacionadas à QV, sendo esta descrita por vários autores como um amplo conceito, relacionado à expectativa, à percepção, à reação e ao bem-estar4,6-8,11. Os meningiomas são tumores das meninges, na maioria das vezes benignos, de crescimento lento, extra-axiais, diagnosticados com maior freqüência em pacientes do sexo feminino, com idade entre 20 e 60 anos2. Têm sua origem voltada às células meningoteliais que constituem a aracnóide, podendo então, ser encontrados em qualquer região onde a leptomeninge esteja presente18. Podem estar localizados na região supratentorial, nas regiões parassagitais, na foice e na convexidade, no tubérculo selar, no sulco olfatório ou na órbita, no seio cavernoso, na asa de esfenóide, na fossa média, silvianos ou no gânglio de Gasser, ou ainda, no ventrículo lateral, na fossa posterior, no tentório, no clívus ou no forame magno; por último na região espinhal. O tratamento é cirúrgico, sendo que a abordagem e a extensão da ressecção vão depender da localização do tumor. Após tratamento cirúrgico (remoção total), estudos apontam sobrevida em oito a dez anos3,12,19, melhora na QV1,3,9,11,13,17 e índice de mortalidade variando de 7% a 14%, em diferentes séries15. Na literatura, pode-se verificar alguns estudos relevantes em relação aos aspectos pesquisados neste trabalho. Contudo, são escassos os estudos que abordam detalhadamente o tema, em literatura internacional, e inexistentes em literatura nacional. O presente estudo tem como objetivo verificar, detalhadamente, a QV em pacientes com meningiomas antes e após o procedimento cirúrgico. SANTOS CB, AGUIAR PHP, SILVA MFG, MARINO Jr. R – Qualidade de vida pré e pós-cirurgia de pacientes com meningiomas Métodos Foram avaliados, neste estudo, 17 pacientes, de ambos os sexos (14 mulheres e três homens), com idade variando entre 30 e 72 anos, com meningiomas benignos tratados cirurgicamente. Quanto à localização, 15 eram supratentoriais e dois infratentoriais. Para avaliação da QV, foram utilizados os seguintes instrumentos: PERFIL DE SAÚDE DE NOTTINGHAM (PSN)20 Instrumento genérico de avaliação de QV, que fornece uma medida simples de saúde física, social e emocional do indivíduo, sendo considerado clinicamente válido para distinguir pacientes com diferentes níveis de disfunção e para detectar alterações importantes no quadro de saúde do paciente ao longo do tempo. Este questionário é constituído por 38 itens, baseados na classificação de incapacidade descrita pela Organização Mundial da Saúde, que devem ser respondidos com sim ou não. Os itens são organizados em seis categorias: nível de energia, dor, reações emocionais, sono, isolamento social e habilidades físicas. INNSBRUCK HEALTH DIMENSIONS QUESTIONNAIRE FOR NEUROSURGICAL PATIENTS – (IHD NS)13 Instrumento desenvolvido para avaliar a QV de pacientes neurocirúrgicos, que aborda os seguintes aspectos: situação econômica, comunicação, condição física, função do sistema nervoso autônomo, independência, condição psicológica e isolamento social. Este questionário é composto por 54 questões, respondidas com sim ou não. Para análise estatística, foi utilizado o teste t-pareado, indicado para comparação de dois grupos de informações, com nível de mensuração numérica. As amostras foram pareadas, tendo como objetivo saber, em média, se os dois grupos são diferentes. O nível de significância foi de 5% e o intervalo de confiança para a média foi de ± 1,96 e desvio-padrão /√ √ (n-1). Resultados A avaliação da QV pré e pós-cirurgia, através do PSN, mostrou os seguintes resultados: PONTUAÇÃO TOTAL Ao se analisar o escore total, que se refere à QV atual do indivíduo, englobando todos os domínios avaliados (nível de energia, dor, reações emocionais, sono, isolamento social e habilidades físicas), observou-se que não houve diferenças significativas entre o pré e o pós-cirúrgico (Tabela e gráfico 1). NÍVEL DE ENERGIA (NE) O item nível de energia é composto pelas seguintes questões: fico cansado o tempo todo / tudo para mim requer muito esforço / perco minha energia facilmente. A tabela e o gráfico 2 mostram que não foram encontradas diferenças significativas entre o pré e pós-cirúrgico. J Bras Neurocirurg 15(3), 85-90, 2004 87 TABELA 1 Médias e desvio-padrão do desempenho total pré e pós-cirurgia. Estatística Pré Pós Média Desvio-padrão Tamanho 9,24 6,18 17 7,35 8,21 17 Teste t-pareado (p) = 0,363. degraus / sinto dor quando estou sentado. A tabela e o gráfico 3 mostram que não houve diferença significativa antes e após o procedimento cirúrgico. TABELA 3 Médias e desvio-padrão do nível de D pré e pós-cirurgia. GRÁFICO 1 Análise do resultado total da QV pré e pós-cirurgia. 14 Estatística Pré Pós Média Desvio-padrão Tamanho 2,06 2,38 17 1,41 2,12 17 Teste t-pareado (p) = 0,327. 12 10 GRÁFICO 3 Análise da dor pré e pós-cirurgia. 8 6 3,5 4 3,0 2 2,5 0 Pré 2,0 Pós Intervalo de confiança para a média: média ± 1,96* desvio-padrão / √ (n-1). 1,5 1,0 0,5 TABELA 2 Médias e desvio-padrão do NE pré e pós-cirurgia. Estatística Pré Pós Média Desvio-padrão Tamanho 0,82 1,13 17 0,82 1,13 17 Teste t-pareado (p) = 0,964. GRÁFICO 2 Análise do nível de energia pré e pós-cirurgia. 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0 Pré Pós Intervalo de confiança para a média: média ± 1,96* desvio-padrão / (n-1). DOR (D) O item dor é composto pelas seguintes questões: sinto dor à noite / a dor que sinto é insuportável / sinto dor para mudar de posição / sinto dor quando ando / sinto dor quando fico em pé / sinto dor constantemente / sinto dor para subir e descer SANTOS CB, AGUIAR PHP, SILVA MFG, MARINO Jr. R – Qualidade de vida pré e pós-cirurgia de pacientes com meningiomas 0 Pré Pós Intervalo de confiança para a média: média ± 1,96* desvio-padrão / √ (n-1). REAÇÕES EMOCIONAIS (RE) O domínio reações emocionais engloba as seguintes questões: as coisas estão me deixando desanimado-deprimido / esqueci como fazer coisas que me divertem / me sinto extremamente irritado / os dias parecem muito longos / ultimamente perco a paciência facilmente / sinto como se estivesse perdendo o controle / as preocupações estão me mantendo acordado à noite / sinto que a vida não vale a pena ser vivida / acordo me sentindo deprimido. No que se refere às reações emocionais, não se constatou diferenças significativas antes e após a cirurgia (Tabela e gráfico 4). SONO (S) Não foram encontradas diferenças significativas, quanto ao sono dos indivíduos, antes e após a cirurgia (Tabela e gráfico 5). As questões que compõem este item são: tomo remédios para dormir / acordo de madrugada e não pego mais no sono / fico acordado a maior parte da noite / levo muito tempo para pegar no sono / durmo mal à noite. ISOLAMENTO SOCIAL (IS) O domínio interação social é composto pelas seguintes questões: me sinto sozinho / acho difícil fazer contato com as pessoas / sinto que não há ninguém próximo em que eu possa J Bras Neurocirurg 15(3), 85-90, 2004 88 TABELA 4 TABELA 6 Médias e desvio-padrão das RE pré e pós-cirurgia. Médias e desvio-padrão de IS pré e pós-cirurgia. Estatística Pré Pós Estatística Pré Pós Média Desvio-padrão Tamanho 3,29 2,82 17 1,71 2,23 17 Média Desvio-padrão Tamanho 0,88 1,41 17 0,82 1,51 17 Teste t-pareado (p) = 0,083. Teste t-pareado (p) = 0,797. GRÁFICO 4 GRÁFICO 6 Análise das reações emocionais pré e pós-cirurgia. 5,0 4,5 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 Pré Pós 0 Intervalo de confiança para a média: média ± 1,96* desvio-padrão / √ (n-1). TABELA 5 Médias e desvio-padrão do nível de S pré e pós-cirurgia. Estatística Pré Pós Média Desvio-padrão Tamanho 1,29 1,61 17 1,12 1,76 17 Teste t-pareado (p) = 0,687. GRÁFICO 5 Análise do sono pré e pós-cirurgia. 2,5 Pré Pós Intervalo de confiança para a média: média ± 1,96* desvio-padrão / √ (n-1). HABILIDADES FÍSICAS (HF) Quanto às habilidades físicas, não foram encontradas diferenças significativas antes e após a intervenção cirúrgica (Tabela e gráfico 7). As questões que compõem este domínio são: consigo andar apenas dentro de casa / tenho dificuldade para me abaixar / não consigo andar / tenho dificuldade para subir e descer escadas ou degraus / tenho dificuldade para pegar coisas no alto / acho difícil me vestir / preciso de ajuda para andar fora de casa. A avaliação da QV pré e pós-cirurgia, através do IHD NS, revelou os seguintes resultados: PONTUAÇÃO TOTAL A análise do escore total, que se refere à QV atual, englobando todos os domínios (comunicação, condição física, função do sistema nervoso autônomo, independência, condição psicológica e isolamento social), mostrou que não houve diferenças significativas antes e após o procedimento cirúrgico (Tabela e gráfico 8). 2,0 1,5 1,0 0,5 0 Análise de isolamento social pré e pós-cirurgia Pré Pós Intervalo de confiança para a média: média ± 1,96* desvio-padrão / √ (n-1). confiar / me sinto como um peso para as pessoas / estou tendo dificuldades em me relacionar com as pessoas. A tabela e o gráfico 6 mostram que não foram encontradas diferenças significativas antes e após a cirurgia quanto à IS. SANTOS CB, AGUIAR PHP, SILVA MFG, MARINO Jr. R – Qualidade de vida pré e pós-cirurgia de pacientes com meningiomas Discussão Este estudo apresentou limitações importantes, dado o tamanho reduzido da amostra, que impossibilitou correlacionar dados, como localização e tamanho do tumor, histologia, sexo e idade. Além disso, fatores psicossociais, como crise conjugal, familiar e/ou financeira, tiveram grande impacto nos resultados, visto que a QV engloba fatores como: percepção, satisfação e bem-estar4,7,8. Estas interferências ficaram evidentes em cinco indivíduos, que obtiveram pior pontuação nas escalas de QV após o procedimento J Bras Neurocirurg 15(3), 85-90, 2004 89 TABELA 7 Médias e desvio-padrão de HF pré e pós-cirurgia. Estatística Pré Pós Média Desvio-padrão Tamanho 0,76 1,25 17 1,35 1,87 17 Teste t-pareado (p) = 0,287. GRÁFICO 7 Análise de habilidades físicas pré e pós-cirurgia. 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0 Pré Pós Intervalo de confiança para a média: média ± 1,96* desvio-padrão / √ (n-1). TABELA 8 Médias e desvio-padrão do desempenho total pré e pós-cirurgia. Estatística Pré Pós Média Desvio-padrão Tamanho 9,12 6,54 17 8,88 7,34 17 Teste t-pareado (p) = 0,537. GRÁFICO 8 Análise do resultado total da QV pré e pós-cirurgia. 14 12 10 8 6 4 2 0 Pré Pós Intervalo de confiança para a média: média ± 1,96* desvio-padrão / √ (n-1). cirúrgico, pois em entrevista semidirigida, ficou explícito que viviam um momento de crise, que não ocorria antes da cirurgia. Fatores como presença de outras afecções e efeitos do processo de senescência, que foram pontuados também por outros autores13, igualmente foram difíceis de isolar na avaliação das escalas. SANTOS CB, AGUIAR PHP, SILVA MFG, MARINO Jr. R – Qualidade de vida pré e pós-cirurgia de pacientes com meningiomas Os resultados obtidos na avaliação total da QV, nos instrumentos PSN e IHD NS, não apontaram diferenças significativas de pontuação antes e após a intervenção cirúrgica, constatando que a intervenção cirúrgica não acarretou piora na QV. Mesmo assim, pode-se observar que no PSN, tanto na pontuação total, que representa a QV do indivíduo, quanto nos domínios, que são os aspectos que a compõem (NE, D, RE, S e IS), as pontuações no pós-cirúrgico diminuíram, o que corresponde à melhora de QV (com exceção das habilidades físicas), embora não significativa estatisticamente. O mesmo padrão foi observado no escore total do IHD NS, em que se observou melhora na QV, mas não estatísticamente significativa. Vale ressaltar que estudos que avaliam a QV de pessoas submetidas à cirurgia de meningiomas apontam significativa redução de sintomas16 e melhora na QV1,9,17. O presente estudo permitiu concluir que, apesar das diferenças não serem significativas, do ponto de vista estatístico, observou-se tendência à melhora na QV de indivíduos que foram submetidos a procedimento cirúrgico para ressecção de meningiomas, no escore total das escalas e em praticamente todos os domínios (NE, D, RE, S e IS), com exceção das habilidades físicas, onde se pode observar tendência à elevação das dificuldades após a cirurgia. Acredita-se que o número reduzido da amostra, assim como, aspectos psicossociais, de senescência e outras afecções foram fatores que interferiram nos resultados obtidos neste estudo. Referências bibliográficas 1. ARIENTA C, CAROLI M, BALBI S: Intracranial meningiomas in patients over 70 years old. Follow-up in operated and unoperated cases. Aging (Milano) 4:29-33, 1992. 2. BLACK PM: Meningiomas. Neurosurgery 32:643-57, 1993. 3. CHAN RC, THOMPSON GB: Morbidity, mortality, and quality of life following surgery for intracranial meningiomas. 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César 05403-010 – São Paulo – SP E-mail: cmlbs@ig.com.br J Bras Neurocirurg 15(3), 85-90, 2004 ARTIGO DE REVISÃO Enfermedad Moyamoya Leonidas Quintana Marín* Resumen En la presente revisión sobre la enfermedad Moyamoya se detallan aspectos generales relacionados con el orígen de su nombre, su epidemiología a nivel de las distintas regiones del mundo, siendo notoria su mayor frecuencia en Japón. Se mencionan aspectos asociados con su etiología, y posible base genética, y presentación de su anatomía patológica, esencialmente una endarteritis de las grandes arterias que configuran en polígono de Willis. Se tocan aspectos diagnósticos tanto clínicos, con sus 2 conocidas presentaciones isquémica en niños, y hemorrágica en adultos jóvenes, y de exámenes complementarios, que permiten su clasificación en distintas etapas de evolución, lo cual hace posible mencionar algunas guías para su diagnóstico. Se hace referencia a todas las posibilidades de revascularización quirúrgica intentadas en ésta patología. Palabras claves Enfermedad Moyamoya, arteritis, revascularización, isquemia cerebral, hemorragia cerebral. Abstract Moyamoya Disease. Review of literature. This review of Moyamoya Disease details general aspects related with the origin of its nomination, its epidemiology over different * Profesor Adjunto-Cátedra de Neurocirugía, Escuela de Medicina, Universidad de Valparaíso, Chile. MARÍN LQ – Enfermedad Moyamoya regions of the world, especially its outstanding frequency in Japan. Facts associated with its ethiopathogeny and possible genetic basis configure an endarteritis as the anatomical pathology of the arteries forming the Willis circle. Diagnostic aspects are mentioned: clinically with the two known patterns described, ischemia in childhood and hemorrhagie in young adults, with the complimentary examinations that permit its classification in different stages, and so making possible some guidelines for its diagnosis. The different surgical therapeutic treatments for revascularization in this disease are briefly mentioned. Key words Moyamoya Disease, arteritis, revascularization, cerebral ischemia, cerebral hemorrhage. Aspectos generales SOBRE EL NOMBRE DE LA ENFERMEDAD MOYAMOYA (EM) En la década de los 1950, los más connotados neurocirujanos japoneses comenzaron a notificar una entidad clínica nueva, la enfermedad Moyamoya. Puesto que su etiología precisa era y es aún desconocida, fue nominada de varias formas, y los nombres más frecuentemente mencionados fueron: Hipoplasia de las arterias carótidas bilaterales41, obstrucción espontánea del círculo de Willis29, enfermedad Moyamoya38, telangiectasia cerebral yuxta-basal37, rete arterial cerebral11, y rete vascular anormal en la base del cerebro35. Aparte de éstos nombres, recibió varios apodos, tales como Moya-Moya o Chiri-Chiri (como redes vasculares en la angiografía cerebral). Las porciones terminales de las arterias carótidas internas intracraneales se estenosan progresivamente, o se ocluyen, y como consecuencia del flujo sanguíneo cerebral disminuído, J Bras Neurocirurg 15(3), 91-104, 2004 92 los pequeños vasos colaterales de la base del cerebro se dilatan para convertirse en vías de circulación sanguínea colateral. Estos pequeños vasos se llaman “vasos moyamoya”, porque el aspecto angiográfico de éstos se asemeja a la “nube” o “voluta” del humo del cigarrillo, que se describe como “moya-moya” en lengua japonesa; también moya-moya es la palabra japonesa para describir el humo del cigarrillo, o para describir el aspecto nebuloso, o idea confusa o poco clara sobre algo39 (Figura 1). Finalmente, la enfermedad se denomina con mayor frecuencia en la literatura mundial como enfermedad Moyamoya (nombrada por Jiro Suzuki)39 y también se le nomina en el ámbito japonés, como la Obstrucción Espontánea del Círculo de Willis (nombrada por Kudo)29. Willis viene del nombre del neuroanatomista Thomas Willis (1621-1675). Él nació en Wiltshire, Inglaterra y estudió obras clásicas y medicina en Oxford. Enseñó filosofía en Oxford de 1660 a 1665. Entonces, se trasladó a Londres en 1666 y abrió una clínica para trabajar como médico. Publicó el libro de anatomía del cerebro “Anatomy of the brain, with a description of the nerves and their function”. En este libro, él describió los nueve pares de nervios craneales hasta entonces conocidos y las arterias en la base del cerebro. “Las arterias en la base del cerebro forman un círculo vascular, que funciona como vías de circulación colateral cuando uno o dos grandes vasos, que conectan con él se pueden ocluír”. Probablemente, él nunca pensó que su nombre se iba a utilizar para nominar ésta enfermedad que se presenta con mayor frecuencia en Japón2. Epidemiología La distribución de la edad de comienzo clínico de la EM tiene dos picos, que se describen con mayor frecuencia. En los niños bajo la edad de 10 años, en un 47,8% del total de los casos, en los cuales los síntomas de isquemia cerebral son comunes; y en los adultos entre 30 y 40 años de la edad, en los cuales los síntomas de hemorragia son más frecuentes. Por supuesto, la hemorragia en los niños y la isquemia en adultos pueden ocurrir, pero son menos comunes6 (Figura 2). El cuociente de hombre/mujer es 1:1.8, que demuestra la mayor frecuencia en el sexo femenino (Figura 2). La incidencia es 3.16/100.000 habitantes/año en Japón, dónde se diagnostican cerca de 400 nuevos pacientes anualmente. En 1994, el número estimado de pacientes portadores de EM en Japón era de 3.900. Aunque existen variados informes sobre la EM en todo el mundo, incluyendo Asia, Europa, Australia, y los Estados Unidos, los casos son mucho más comunes en Japón2,5,9. ENFERMEDAD MOYAMOYA EN COREA En Corea (Corea del Sur), se ha comunicado el segundo número mayor de pacientes con EM10. Entre 1976 y 1994, se trataron 334 pacientes con EM definida, en los centros neuroquirúrgicos de Corea. Hubo 213 adultos (63.8%) y 121 niños (36.2%). La presentación hemorrágica se observó en 144 pacientes mientras que 126 pacientes manifestaron la presentación isquémica. FIGURA 1 Vistas anteroposteriores de una angiografía carotídea derecha. A) Normal. B) Marcado desarrollo de vasos moyamoya en la base cerebral y un acentuado estrechamiento de la porción terminal de la carótida interna; se ve un pobre rellene de las arterias cerebral anterior y cerebral media. MARÍN LQ – Enfermedad Moyamoya J Bras Neurocirurg 15(3), 91-104, 2004 93 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 FIGURA 2 En el gráfico se observan dos picos en la distribución de la edad. Un alto pico bajo los 10 años de edad, y otro pico más bajo, se sitúa en la tercera y cuarta década de la vida. Las barras negras indican los pacientes de sexo masculino y las blancas los de sexo femenino. (Fukuyama Y, Umezu R: Clinical and cerebral angiographic evolution of idiopathic progressive occlusive disease of the circle of Willis (“moyamoya” disease) in children. Brain Dev 7;21-37, 1985). Al analizar el trabajo de Han y col.10 se observan muchas semejanzas entre la EM en Corea y Japón. La distribución de la edad tiene dos picos en la edad de 6-15 años y 31-40 años. En Corea, los pacientes adultos prevalecen sobre los niños. En general, los niños se presentaron con síntomas isquémicos y los adultos con síntomas hemorrágicos; no hubo diferencia sexual en la incidencia y la incidencia de familial fué baja (1.5%). La cirugía de by pass fué menos común en Corea. Cualquiera fuera la manifestación clínica, el 24% de adultos y el 62% de niños fueron tratados mediante by pass; 82% de las cirugías by pass fueron indirectas. Asombrosamente, la anastomosis directa (anastomosis de arteria temporal superficial-arteria cerebral media) fue realizada solamente en 9 pacientes. Se administraron varias drogas, entre ellas los anticonvulsivantes fueron las más comunes (72.2%), les siguieron en frecuencia los esteroides, las drogas antihipertensivas, drogas fibrinolíticas, drogas antifibrinolíticas etc. Los resultados clínicos aceptables se observaron en el 65.6% de los pacientes en la presentación inicial, y 73.1% en el seguimiento. Once pacientes (10 adultos y un niño) fallecieron. En resumen, la EM en Corea tiene las características siguientes: más pacientes adultos, mayores presentaciones hemorrágicas, no hay diferencia sexual, y menos cirugía de by pass directo10. DISTRIBUCIÓN MUNDIAL La EM se observa con mayor frecuencia en Asia del Este, especialmente en Japón y Corea (2,3,9,10,44). Sin embargo, también se han comunicado casos en las Américas y Europa. Hace MARÍN LQ – Enfermedad Moyamoya aproximadamente 10 años, Goto y Yonekawa9 comunicaron la distribución mundial de la EM, sin embargo, éstos resultados deben ser interpretado cautelosamente ya que muchos casos considerados provenientes de las Américas y Europa incluyeron la enfermedad considerada como “Cuasi-moyamoya”. Es decir, el paciente, en éstos casos tiene una enfermedad sistémica y una angio-arquitectura cerebral similares a la EM, que no satisfacen los criterios de la EM definidos por los investigadores japoneses. Por otra parte, se sabe que algunos de los pacientes portadores de EM en los E.E.U.U. son descendientes de japoneses9. En resúmen, se han comunicado muchos casos de la Obstrucción espontánea del círculo de Willis (EM) en Japón, pero los datos sobre la distribución mundial aún son confusos. En el trabajo de Goto y Yonekawa9 se comunicó el número total de casos en cada país, y se evaluaron las complicaciones según los datos entregados; según éste reporte un total de 1.063 casos han ocurrido en todo el mundo excepto Japón. Se observaron casos con mayor frecuencia en Asia y en poblaciones de origen no-caucásico (Figura 3). Etiología La etiología aún no se sabe con certeza. En un comienzo, se propusieron esencialmente la teoría congénita tales como anomalías vasculares congénitas, o la teoría adquirida, tal como alteraciones vasculares secundarias a procesos infecciosos. Los antecedentes familiares, es decir, la incidencia de cerca del 10% entre la relación hermanos/hermanas y la relación padres/hijos, y la alta incidencia entre los japoneses indican fuertemente la presencia de factores genéticos, que pudieran influir en la constitución inmunológica de los pacientes, y su respuesta frente a distintas noxas13,45. Actualmente, las etiologías más consensuadas son la combinación de la congénita y la adquirida: los factores genéticos así como factores ambientales pueden desempeñar un papel importante en la presentación de la EM. Es obvio que las infecciones por bacterias o virus no son la causa directa, así no existe la posibilidad de transmisión de la enfermedad a partir de una infección en forma directa, sin embargo, ésta infección puede desecadenar procesos de tipo inmunológicos más acentuados en determinados individuos, lo cual está determinado genéticamente2,7,13. En especial en países occidentales, la EM se asocia con patología de tipo sistémico como son: INFECCIONES: la leptospirosis y la tuberculosis; DESÓRDENES HEMATOLOGICOS: anemia aplástica, anemia de Fanconi, anemia de células falciformes, factor anticoagulante del lupus; SINDROMES CONGÉNITOS: síndrome de Apert, síndrome de Down, síndrome de Marfan, esclerosis tuberosa, síndrome de Turner, enfermedad de von Recklinghausen, enfermedad de Hirschsprung; ENFERMEDADES VASCULARES: enfermedad aterosclerótica, coartación de la aorta, displasia fibromuscular; OTRAS CAUSAS: como trauma craneal, lesión cerebral por radiación, tumores parasellares, hipertensión arterial y abuso de drogas simpaticomiméticas. J Bras Neurocirurg 15(3), 91-104, 2004 94 FIGURA 3 Del trabajo de Goto Y, Yonekawa Y: Worldwide distribution of moyamoya disease. Neurol Med Chir 32:883-6, 1992. Sin embargo, en Japón, éstos casos de Moyamoya son catalogados como Cuasi-Moyamoya, como se precisará más adelante. Hallazgos anátomo-patológicos La EM se caracteriza, al examen microscópico de la pared arterial afectada, por un engrosamiento de la íntima, en las paredes de las porciones terminales de las arterias carótidas internas en forma bilateral. El engrosamiento intimal puede contener depósitos lipídicos. Las arterias cerebrales anteriores, medias, y posteriores que configuran el círculo de Willis pueden demostrar distintos grados de estrechamiento desde la estenosis a la obstrucción. Esto se asocia al engrosamiento fibrocelular de la íntima, sinuosidad o corrugamiento de la lámina elástica interna, y adelgazamiento de la capa muscular media5,40 (Figura 4). Se pueden visualizar numerosos canales vasculares pequeños alrededor del círculo de Willis. Éstas son arterias perforantes y ramas anastomóticas. La piamadre de la convexidad de los hemisferios cerebrales también puede tener conglomerados reticulares de pequeños vasos sanguíneos. Debido a los cambios esteno-oclusivos progresivos de las arterias carótidas internas y/o de las arterias cerebrales anteriores y medias, en la base del cerebro, las arterias pequeñas normales, propias de la microcirculación (diámetro: 100-300 micrones) se desarrollan y llegan a ser prominentes y aumentan su diámetro, lo cual se puede reconocer fácilmente en las angiografías, como ya fue mencionado; éstos vasos morfológicamente se parecen a las volutas del humo del cigarrillo, denominándoseles así “vasos moyamoya”39,40. MARÍN LQ – Enfermedad Moyamoya Es necesario precisar que éstos pequeños vasos no son como los vasos neoplásicos anormales, tales como los que alimentan un tumor (vasos de neovascularización debido a la activación de procesos angiogénicos). Ellos son pequeños vasos normales, de FIGURA 4 Pared arterial de paciente fallecido de EM, que demuestra engrosamiento intimal, con reacción fibrocelular,y corrugamiento de la membrana elástica interna, con adelgasamiento de la capa muscular lisa. J Bras Neurocirurg 15(3), 91-104, 2004 95 la microcirculación en la estructura profunda basal del cerebro, que tienen que “asumir” la función de vía colateral al cerebro isquémico, y debido a la sobrecarga de perfusión cerebral a que son sometidos, y a rangos de presión arterial sistólica para los cuales no están diseñados, ocasionalmente se rompen y causan una hemorragia cerebral y/o intraventricular18 (Figura 5). Los vasos Moyamoya son prominentes en niños, pero no tan acentuados en adultos, y se cree que éstos vasos en niños son más flexibles y plásticos que en adultos, de ahí su mayor potencial de desarrollo. Clinica Los síntomas de la EM incluyen procesos de isquemia y/o hemorragia en el cerebro. Como ya se mencionó, hay dos picos en la distribución de la enfermedad por edad: bajo los 10 años y en la tercera y cuarta década. Bajo los 10 años, la isquemia cerebral es común, ya sea en las formas clínicas de un ataque isquémico transitorio o infartos cerebrales completados, mientras que la hemorragia cerebral es más común en los adultos de 30-40 años de edad6. Los síntomas de la EM incluyen hemiparesias, monoparesias, hemihipoestesias, convulsiones, movimientos involuntarios, alteraciones de la marcha, disartria, afasia, alteraciones visuales (estrechamiento del campo visual). Síntomas que, por supuesto, pueden estar presentes en otras enfermedades neurológicas. Sin embargo, hay síntomas atípicos y vagos que retrasan el diagnóstico de la enfermedad, que incluyen las dificultades de aprendizaje del niño, vértigo, comportamiento anormal, agitación, paraparesias, caídas bruscas, síncope, cefaleas, vómitos, náuseas etc. La isquemia cerebral puede ser temporal o permanente. La crisis isquémica transitoria (CIT) se define como la desaparición Ruptura de pequeña arteria Ventrículo lateral de los síntomas en el plazo de 24 horas, pero la CIT generalmente dura varios minutos o desaparece generalmente en el plazo de 30 minutos. Al comer muy rápido, tocar un instrumento musical de viento, como la flauta, cantar en voz alta, al gritar, o correr rápidamente, la concentración sanguínea de bicarbonato disminuye, las arterias cerebrales se tornan espásticas, el flujo sanguíneo cerebral disminuye, y se produce la isquemia cerebral. Esta isquemia puede dar lugar a alteraciones de conciencia, y al resto de alteraciones neurológicas descritas anteriormente. En niños, en ocasiones, los síntomas de menor importancia no son notados por los padres, conduciendo a retraso en el diagnóstico. Por otro lado, los niños pueden aprender automáticamente a evitar de gritar o hiperventilar para prevenir fenómenos isquémicos6,7. En el caso de la hemorragia cerebral, los síntomas dependen de la localización y del tamaño de la hemorragia. Cuando se presenta la hemorragia cerebral, según la localización y el tamaño de ésta, los pacientes presentan alteración de conciencia variable en magnitud e intensidad, paresias, alteraciones sensitivas, convulsiones, alteraciones del lenguaje o alteraciones mentales. Si la hemorragia es bastante grande, en ocasiones es fatal. Cuando la EM se asocia a un aneurisma sacular cerebral roto, hallazgo que ha sido descrito19, se presenta una hemorragia subaracnoídea, pero en la mayoría de los casos se trata de una hemorragia intracerebral o una hemorragia intraventricular18. Diagnóstico de la Enfermedad Moyamoya La EM es diagnosticada básicamente por síntomas clínicos y resultados angiográficos2,5-7,40. Cuando un niño desarrolla un ataque isquémico transitorio con hemiparesia, la hipótesis diag- Penetración al ventrículo Formación de pseudoaneurisma Desaparición de pseudoaneurisma Pequeña arteria FIGURA 5 Genesis de la hemorragia intraventricular, según Kodama N, Mineura K, Suzuki J, Onuma T: Ventricular hemorrhage due to chronic cerebral ischemia. Brain Nerve 28:823-31,1976. MARÍN LQ – Enfermedad Moyamoya J Bras Neurocirurg 15(3), 91-104, 2004 96 nóstica generalmente considera a la EM. Sin embargo, cuando el paciente presenta convulsiones o movimientos involuntarios, su diagnosis no es fácil. No es raro que se diagnostique al niño con EM como portador de problemas psicológicos o niño autista; así sucede que frecuentemente hay demora en llegar al diagnóstico de EM. NEUROIMÁGENES Tomografía Axial Computada (TAC) La TAC es útil en la etapa aguda para distinguir la isquemia de la hemorragia cerebral. Sin embargo, la TAC no es definitoria de diagnóstico para la EM, la cual es diagnosticada mediante la angiografía y la resonancia magnética nuclear (RMN). Angiografía Cerebral de 4 vasos Este método se requiere esencialmente para el diagnóstico de la EM, y es el patrón oro de neuroimágenes en ésta enfermedad. Sin embargo, la angiografía mediante catéter tiene riesgos inherentes al procedimiento relacionados con la patología de base, como el infarto cerebral, alergia a drogas, etc, aunque la incidencia es muy baja. Se debe ser cauteloso al realizar la angiografía porque muchos pacientes de Moyamoya están en edad pediátrica, los cuales se encuentran con un riesgo más alto para presentar isquemia que los adultos. Las etapas angiográficas de la Enfermedad Moyamoya Suzuki y Takaku39 clasificaron la progresión de la EM en 6 etapas. Según esta clasificación, muchos pacientes caen en la etapa 3 (Figura 6). Fukuyama y Umezu6 plantearon dividir la etapa 3 en 3 subdivisiones; 3a, 3b y 3c. Etapa 1: Estrechamiento de la bifurcación carótida. Etapa 2: Iniciación de los vasos “moyamoya; dilatación de las arterias principales intracerebrales. Etapa 3: Intensificación de los vasos “moyamoya”; no-llene de las arterias cerebrales anteriores y medias. 3a: el no-llene parcial de las arterias cerebrales anteriores y medias. FIGURA 6 Etapas angiográficas de la EM. Del trabajo: Suzuki J, Takaku A: Cerebrovascular “moyamoya” disease showing abnormal net-like vessels in base of brain. Arch Neurol 20:288-99, 1969. MARÍN LQ – Enfermedad Moyamoya 3b: preservación parcial de las arterias cerebrales anteriores y medias. 3c: no llene o ausencia de las arterias cerebrales anteriores y medias. Etapa 4: Minimización de los vasos “moyamoya”; desaparición de la arteria cerebral posterior. Etapa 5: Reducción de los vasos “moyamoya”; las arterias principales, ramas de la arteria carótida interna desaparecen. Etapa 6: Desaparición de los vasos “moyamoya”; los vasos originales moyamoya en la base del cerebro faltan totalmente, y solamente se visualiza la circulación colateral de la arteria carótida externa. Las inconveniencias de éstas clasificaciones son: muchos casos pertenecen a las etapas 3 a 5, especialmente a la etapa 3. Hay pocos casos en las etapas 1 y 6. Las etapas de la EM no se relacionan estrechamente con los síntomas clínicos. En las etapas 1 y 6, no se observan vasos “moyamoya” en la angiografía cerebral, lo cual no sería EM por la definición. La progresión de las etapas angiográficas se observa comúnmente en niños, pero en adultos muchos pacientes a menudo permanecen en las mismas etapas. Esta clasificación es demasiado subjetiva y aún para los neurocirujanos es difícil definir las etapas precisas en cada paciente de Moyamoya en particular. Resonancia magnética nuclear (RMN) y Angio – Resonancia magnética nuclear (Angio-RMN) Con el fin de evitar el riesgo inherente de la angiografía cerebral, la RMN y la Angio-RMN son útiles y seguras, aunque la eficacia de diagnóstico de la RMN y de la Angio-RMN es inferior a la de la angiografía convencional. La indicación de ambos métodos se debe balancear considerando sus méritos y riesgos. Entre los pacientes de Moyamoya, los niños son buenos candidatos para la RMN y la Angio-RMN. Guías de diagnóstico con RMN y Angio-RMN 1. Cuando las imágenes de la RMN y la Angio-RMN satisfacen todos los requisitos siguientes que se incluyen en la pauta de diagnóstico usando la angiografía cerebral convencional, no se requiere efectuar la angiografía necesariamente. 1) La RMN demuestra los cambios esteno-oclusivos en la porción terminal de la arteria carótida interna intracraneal y las porciones próximas de las arterias cerebrales anteriores y medias. 2) La RMN demuestra la red vascular anormal en la base del cerebro. Nota: 2) cuando la RMN demuestra por lo menos dos signos de vacíos de flujo en un lado de los ganglios basales, pueden ser considerados como red anormal. 3) 1) y 2) se observan bilateralmente. 2. Métodología de la imagenología 1) La RMN funciona en Tesla 1.0 o superior 2) Las secuencias de la Angio-RMN no se especifican. 3. La EM de los adultos es similar a la enfermedad vascular con otras etiologías. Así, el diagnóstico solamente con J Bras Neurocirurg 15(3), 91-104, 2004 97 RMN y Angio-RMN debe ser reservado para la forma pediátrica(Figura 7). Pauta de diagnóstico para la Obstrucción Espontánea del Círculo de Willis (EM), propuesta por el Comité de Investigación del Ministerio de Salud, Trabajo y Bienestar del Japón 1. Hallazgos Clínicos 1.1.a La edad de inicio varía, pero afecta con mayor frecuencia a los jóvenes y a las mujeres. La ocurrencia solitaria es común, pero la ocurrencia familial se observa ocasionalmente. 1.1.b Los síntomas y la evolución varían, no presentándose síntomas en algunos casos (hallazgos incidentales), alteraciones transitorias, o déficit neurológico completado de grado leve a severo. 1.1.c La isquemia cerebral es más común en niños, mientras que la hemorragia intracraneal es más común en adultos. 1.2 . En niños, la hemiparesia, la monoparesia, el compromiso sensitivo,los movimientos involuntarios, la cefalea, o las convulsiones aparece con a menudo en forma repetitiva, y ocasionalmente en lados alternantes. Se puede presentar retraso mental o déficit neurológico fijado. A diferencia de los adultos, la hemorragia intracraneal es rara. 1.3 En adultos, se pueden presentar síntomas similares a los niños, pero la hemorragia intraventricular, la hemorragia subaracnoídea, o intracerebral de inicio ictal, ocurre con mayor frecuencia. En la mayoría de los casos se observa recuperación de tal hemorragia con o sin secuelas neurológicas, a excepción de ésas con curso severo y resultado mortal. 2. La angiografía cerebral es imprescindible para el diagnóstico, y presenta por lo menos los resultados siguientes 2.1 Estenosis u oclusión de la porción terminal de la arteria carótida interna y en la porción proximal de las arterias cerebrales anteriores y medias. 2.2 Red vascular anormal vista en la vecindad de la obstrucción arterial en fase arterial. 2.3 Estos hallazgos se presentan en forma bilateral. 2.4 Cuando las imágenes de la RMN y de la Angio-RMN concuerdan con los criterios antedichos, la angiografía cerebral no es obligatoria. 3. La etiología es desconocida. No debe existir ninguna de las enfermedades de base, tales como arterioesclerosis, enfermedades autoinmunes, meningitis, neoplasias, síndrome de Down, Enfermedad de Recklinghausen, trauma o irradiación 4. Resultados patológicos útiles para el diagnóstico: 4.1 Se observa engrosamiento intimal causante de estenosis u oclusión del lumen de la porción terminal de la arteria carótida interna, generalmente en ambos lados. El depósito de lípidos se considera ocasionalmente en la intima proliferante. 4.2 Las arterias que constituyen el círculo de Willis tales como las arterias cerebrales anteriores,medias y comunicantes posteriores demuestran a menudo estenosis de grado variable u oclusión asociada al engrosamiento fibrocelular de la intima, ondulaciones de la lámina elástica interna y adelgazamiento de la media. 4.3 Se observan numerosas pequeñas arterias alrededor del círculo de Willis (ramas perforantes y anastomóticas). 4.4 Los conglomerados reticulares de pequeños vasos se ven a menudo en la piamadre de la convexidad hemisférica. CRITERIOS DIAGNÓSTICOS En referencia a 1. mencionado anteriormente, los criterios de diagnóstico se clasifican como sigue: Los casos que llegan a la Anatomía Patológica sin angiografía cerebral se deben investigar por separado en referencia a 4. Caso definido: uno que concuerda totalmente con los puntos 2. y 3. En niños, sin embargo, un caso que concuerda con los puntos 2. 1) y 2) en un lado y claramente se presenta con estrechamiento luminal en la porción terminal de la arteria carótida interna en el lado opuesto también se incluye. Caso probable (unilateral): uno que concuerda con los puntos 2. y 3. a excepción de 2. 3). Resumen de criterios de diagnóstico FIGURA 7 Imágenes de EM mediante RMN (T2). Se observa, tanto en los cortes axiales como parasagitales, la presencia de signos de vacío de flujo en los ganglios basales y sustancia blanca periventricular, que se visualizan,en ésta secuencia, como como señales hipointensas de aspecto petequial y de microcanales, como panal de termitas. MARÍN LQ – Enfermedad Moyamoya 1. Cambios esteno-oclusivos en las porciones terminales de las arterias carótidas internas intracraneales, y desarrollo de vasos “moyamoya” en la base del cerebro. 2. Los hallazgos antes mencionados se observan en forma bilateral. Cuando la lesión es bilateral,el diagnóstico de la EM es definida, pero de otra manera es probable. J Bras Neurocirurg 15(3), 91-104, 2004 98 Los criterios de exclusión incluyen arterioesclerosis, enfermedades autoinmunes, tumores cerebrales, encefalopatía actínica, enfermedad de von Recklinghausen, síndrome de Down, etc. (criterios propuestos por el Comité de investigación de la EM del Ministerio de Salud japonés)2,5,7. Muchos pacientes de moyamoya comunicados en la literatura mundial no se basan en estos criterios. Cuando la angioarquitectura es similar a la de la EM, se le llama Síndrome Moyamoya o Fenómeno Moyamoya. ENFERMEDAD UNILATERAL Y CUASI-MOYAMOYA A excepción de la enfermedad definida moyamoya, las condiciones clínicas similares no están bien establecidas. (1) los resultados angiográficos típicos se observan solamente en un lado, pero el lado opuesto es totalmente normal. (2) los resultados angiográficos típicos se observan bilateralmente, pero se asocia a las enfermedades sistémicas mencionadas anteriormente. Otra condición es (1) + (2), es decir, la lesión es unilateral y se asocia con una enfermedad sistémica. (1) se llama “Enfermedad Moyamoya unilateral”, y (2) se llama “Cuasi Moyamoya” o “Akin Moyamoya”. Entre las EM unilaterales, algunos permanecen como unilaterales, pero algunas se convierten en enfermedad bilateral. Porque las etiologías de las enfermedades unilaterales y del Cuasi-Moyamoya no están aun bien determinadas, se tratan generalmente de manera similar a la EM definida. Tratamiento A. TRATAMIENTO DE EMERGENCIA En la etapa aguda, el tratamiento es esencialmente igual que en el infarto o la hemorragia cerebral debido a otras causas. En el infarto cerebral, se pueden administrar fármacos protectores cerebrales, fármacos anti-trombóticos o antiagregantes plaquetarios, y en general, el manejo farmacológico convencional de la isquemia cerebral. En la hemorragia ventricular,si ésta es de evolución aguda con signos de hipertensión endocraneana, se indica una derivativa externa de LCR (DVE). En la hemorragia intracerebral, inicialmente se indica el manejo conservador, incluyendo control de la presión arterial, generalmente cuando el hematoma es pequeño (< 25 cc). Si el hematoma intracerebral es de mediano volumen (2550 cc) o grande (> 50 cc), y es de ubicación lobar, ejerciendo efecto de masa sobre estructuras de línea media, se indica su evacuación quirúrgica. Frecuentemente se indica la infusión de agentes osmóticos para controlar la presión intracraneana, y agentes anticonvulsivantes. No hay justificación de realizar cirugía de by pass en la etapa aguda. MARÍN LQ – Enfermedad Moyamoya B. TRATAMIENTO EN LA ETAPA CRÓNICA B.1. Pacientes con isquemia cerebral No hay consenso en el tratamiento médico utilizando aspirina, otros fármacos antiagregantes plaquetarios, anticoagulantes, o fármacos vasodilatadores para prevenir los cuadros isquémicos futuros. Anastomosis quirúrgica La cirugía de by pass se acepta como una opción de tratamiento para prevenir o eliminar síntomas isquémicos recurrentes. El sitio de la anastomosis es determinado ocasionalmente por los resultados del exámen de flujo sanguíneo cerebral (Xe133-CT Scan, SPECT, PET Scan)14,43. Las anastomosis vasculares se clasifican como directas o indirectas. En la anastomosis directa, la arteria temporal superficial se diseca de la galea aponeurótica y se anastomosa con una rama de la arteria cerebral media en la superficie cerebral, bajo microcirugía. Este método quirúrgico proporciona bastante flujo sanguíneo inmediatamente después de la cirugía16 (Figura 8). Sin embargo, en los casos pediátricos los diámetros de las arterias corticales son muy pequeños, y ésta técnica anastomótica requiere, para su correcta ejecución, arterias corticales de un mínimo de 1 milímetro de diámetro. En la anastomosis indirecta, el periostio, la duramadre, la galea o el músculo temporal se colocan directamente sobre la superficie del cerebro, esperando el desarrollo espontáneo de nuevas anastomosis entre la circulación extracraneana e intracraneana, requiriéndose un cierto período para que tal anastomosis se produzca y funcione con utilidad. Así, el parénquima cerebral es provisto de circulación colateral proveniente, a través de éstas estructuras, de las arterias temporal superficial (ATS), arteria temporal profunda, arteria meníngea media y anterior. Durante la técnica quirúrgica (sinangiosis), éstas arterias deben ser preservadas (Figura 9). En algunos casos, y para asegurar el estrecho contacto de la ATS y galea circundante a la corteza cerebral, se efectúa la extirpación de la piamadre en zonas o “ventanas”, suturando los bordes de la galea a la piamadre1. Si bien, medi- FIGURA 8 Anastomosis directa, término-lateral,de la arteria temporal superficial a rama de la arteria cerebral media. J Bras Neurocirurg 15(3), 91-104, 2004 99 FIGURA 9 A.Se ha efectuado una craniotomía temporal, abierto la duramadre, exponiendo la corteza cerebral. B.Se ha suturado los bordes de la galea que rodea la arteria temporal superficial a los bordes de la duramadre,sobreponiendo éstas estructuras sobre la corteza cerebral. ante éstas técnicas indirectas, no se efectúa un aporte alto de flujo sanguíneo cerebral de inmediato, es frecuente visualizar revascularización precozmente, entre los 3 a 6 meses siguientes a la intervención, especialmente en los casos pediátricos que cursan con isquemia cerebral. Es común agregar un by pass indirecto cuando se programa efectuar un bypass directo12. En raras ocasiones, se realiza la técnica quirúrgica de efectuar múltiples agujero de trépano sobre la calota craneana, esperando el desarrollo de anastomosis espontáneas4. Otra cirugía menos frecuente es el autotransplante de omentum17, y la transposición de omentum8. En la EM ambos hemisferios cerebrales se encuentran isquémicos, de tal forma que la cirugía de by pass se realiza bilateralmente, efectuándose generalmente, la operación al lado del hemisferio más isquémico, y posteriormente, algunos meses después se efectúa el by pass contralateral. Las técnicas de revascularización indirectas más difundidas y utilizadas son la encéfalo-duro-arterio-sinangiosis y la encéfalomio-sinangiosis31-33,42. Hay muchas otras técnicas de anastomosis indirectas. En el trabajo de T. Matsushima34, tales técnicas se revisaron y se anotan a continuación: MARÍN LQ – Enfermedad Moyamoya 1. Procedimientos usando arterias del cuero cabelludo 1-0. Encéfalo-duro-arterio-sinangiosis (EDAS). Matsushima Y (1980) 1-1. Cerebroarteriosinangiosis (CAS). Balagura S (1985) 1-2. EDAS modificada = sinangiosis pial. Rooney CM (1991), Adelson PD (1995) 1-3. Encéfaloarteriosiangiosis (EAS). Lesoin F (1983) 1-4. Encéfalo-arterio-sinangiosis (EAS). Nakagawa Y (1983) 1-5. EAS (ideado para la porción frontal). Ichikawa A (1989) 1-6. EDAS Múltiple. Tenjin H (1977) 2. Procedimientos usando la galea 2-1. Encéfalo-galeo-sinangiosis (EGS). Ishii R (1986) 2-2. Procedimiento de la cinta (cinta EDAMS). Tokunaga K (1993) 3. Procedimientos usando la duramadre 3-1. Durapexia. Tsubokawa T (1964) 3-2. Encéfalo-duro-sinangiosis (EDS). Wakuta Y (1964), Ikeda Y (1984) 3-3. Orificio de trépano craneano. Endo M (1989) 3-4. Duropexia invertida. Fujimoto T (1993) 3-5. Múltiples orificios de trépano craneanos. Kawaguchi T (1996) 3-6. Duroencéfalosinangiosis separadas. Kashiwagi S (1996) 3-7. Procedimiento de inversión de la duramadre. Dauser RC (1997) 3-8. Incisión e inversión del borde dural. Kinugasa K (1993) 3-9. Inserción de pedículo dural. Hara Y (1994) 4. Procedimientos usando los músculos temporales u otros 4-1. Encéfalo-mio-sinangiosis (EMS). Karasawa J (1997) 4-2. Encéfalo-mio-sinangiosis (EMS). Takeuchi S (1983) 4-3. Trasplante del músculo gracilis. Touho H (1995) 4-4. Transposición de colgajo libre del músculo Serratus anterior. Yoshioka N (1996) 4-5. Transposición de colgajo libre del músculo Latissimus dorsi. Yoshioka N (1997) 5. Procedimientos usando el Omentum 5-1. Trasplante omental. Karasawa J (1980) 5-2. Trasplante omental. Havlik N (1997) 6. Procedimientos usando la combinación de los anteriores 6-1. EMAS (EMS + EAS). Nakagawa Y (1983) 6-2. Sinangio-duro plastía (SDP). Wanibuchi H (1985) 6-3. Encéfalo-duro-arterio-mio-sinangiosis (EDAMS). Kinugasa K (1993) 6-4. Revascularización combinada. Sato H (1991) 6-5. G a leo - en cé f a lo - d u r o - ar ter io - mio - s in an g io s is (GEDAMS). Nishimoto A (1991) 6-6. Encéfalo-mio-arterio-sinangiosis frontal. Inoue T (1992) 6-7. Cinta EDAMS. Tokunaga K (1993) J Bras Neurocirurg 15(3), 91-104, 2004 100 6-8. By pass no anastomótico usando el músculo temporal, galea, y duramadre. Hara Y (1993) 6-9. By pass indirecto combinado Fronto-temporo-parietal. Matsushima T (1995) 6-10. Cirugía vascular reconstructiva indirecta extensa en una etapa. Kohno K (1997) 6-11. S-EDAS (EDAS separada). Matsushima Y (1998) 6-12. Transposición de colgajo libre del músculo serratus anterior y de omentum. Yoshioka N (1996) 7. Anastomosis combinada directa e indirecta 7-1. Anastomosis ATS-ACM y encéfalo-mio-sinangiosis. Karasawa J (1977) 7-2. Anastomosis ATS-ACM y encéfalo-duro-arterio-miosinangiosis. Houkin K (1997) Complicaciones quirúrgicas La incidencia de la complicación quirúrgica es muy baja, sin embargo, no es nula. Las complicaciones incluyen hemorragia postoperatoria del lecho quirúrgico (subcutánea, epidural, subdural, y intracerebral), anemia, infarto cerebral (como consecuencia de una hipotensión perioperatoria, de una hipocapnia por hiperventilación no controlada, y al clipaje temporal prolongado de la arteria recipiente), crisis isquémica transitoria, necrosis del cuero cabelludo, infección de la herida operatoria y sindrome convulsivo. Los efectos de la operación no aparecen inmediatamente, sin embargo, generalmente la frecuencia de los eventos isquémicos tienden a reducirse gradualmente hasta desaparecer. Por lo tanto, la evolución postoperatoria es variable y depende del incremento de flujo sanguíneo cerebral, del método de operación etc. La anestesia general para la EM tiene, en general, un riesgo bajo de producir un infarto cerebral, tanto en la cirugía de by pass como durante la angiografía cerebral en los niños. Manejo perioperatorio de la enfermedad Moyamoya pediátrica La mayor complicación perioperatoria en la EM pediátrica es la isquemia cerebral causada por el “llanto”, debido al dolor y a la ansiedad. Sucede ocasionalmente después de una cirugía de by pass exitosa,presentándose una isquemia cerebral simplemente porque el niño grita y llora descontroladamente. Recientemente, Nomura y col.36 comunicaron su experiencia para prevenir complicaciones isquémicas perioperatorias. Su protocolo es como sigue: 1. Sedación oral antes de la instalación de una línea intravenosa. Sedación intravenosa previa al estudio de neuroimágenes. Sedación y control del dolor inmediatamente después del exámen neurológico postoperatorio. 2. Técnicas del manejo de la herida quirúrgica en el postoperatorio. Utilizar sutura subcuticular reabsorbible, sellando la cicatriz con “Steristrip”. Dejar una sutura no anudada para el cierre de la incisión del drenaje, luego de su retiro. Aplicar una gasa suave con parafina estéril sobre la herida, con un vendaje suave para la fijación de los apósitos. 3. Otras. Aplicar gel de lidocaína reabsorbible a la piel antes de la punción venosa. Mantener un catéter venoso central hasta 1 semana después de la cirugía. MARÍN LQ – Enfermedad Moyamoya Los procedimientos antes mencionados no se requieren necesariamente en cada paciente pediátrico, y lo mejor es la confianza cercana y mutua entre los pacientes y el personal médico y de enfermería. Resultados de la anastomosis quirúrgica (by pass) El propósito del método quirúrgico de anastomosis, ya sea directa o indirecta, es esencialmente prevenir la enfermedad cerebrovascular recurrente. Esto significa que no hará desaparecer el déficit neurológico que está ya presente, como consecuencia de un infarto cerebral ya completado. En los casos de inicio isquémico, el propósito es prevenir eventos isquémicos recurrentes. Aunque no hay trabajos que lo comprueben científicamente,la mayoría de los neurocirujanos con experiencia en el tema opinan que éste tratamiento es un aporte importante en la evolución natural de la enfermedad, y realmente, muchos pacientes con antecedentes de eventos isquémicos experimentan la reducción o desaparición de los síntomas gracias a la cirugía. En los casos de inicio hemorrágico, el propósito de la anastomosis es prevenir la hemorragia recurrente. Las ventajas de la cirugía en éstos casos son más discutibles, y existe mayor controversia, comparados con los resultados de los casos de inicio isquémico, por lo que actualmente se encuentra en pleno desarrollo un Ensayo Clínico Japonés sobre éstos casos hemorrágicos, que se detalla más adelante. B.2. Pacientes con Hemorragia Cerebral Se cree que la hemorragia ocurre como consecuencia de la sobrecarga hemodinámica a que son sometidas las arterias colaterales finas (moyamoya) en el cerebro, en las zonas de circulación colateral terminal, vecina a la pared ventricular (Figura 5). Sin embargo, la ventaja del tratamiento quirúrgico de by pass con las técnicas antes señaladas aún se debe probar. De acuerdo a esto, se encuentra en pleno desarrollo un ensayo clínico en Japón. En los casos hemorrágicos, los pacientes hipertensos se tratan con fármacos antihipertensivos, y no se administran fármacos antiagregantes plaquetarios. Ensayo Japonés de Moyamoya del Adulto Hemorrágico (JAM) El estudio doble ciego aleatorizado comenzó en Japón en enero de 2001, para evaluar la eficacia de la cirugía by pass en los pacientes de Moyamoya con presentación hemorrágica. Se diseñaron dos grupos: el mejor tratamiento médico vs. el mejor tratamiento médico y de cirugía by pass. Los criterios de inclusión son como sigue: 1. Pacientes con Moyamoya de presentación hemorrágica (hemorragia intracerebral, hemorragia intraventricular, y hemorragia subaracnoídea), que ocurrió en el plazo de un año antes del ingreso al estudio. 2. Pacientes funcionalmente independientes en sus vidas diarias. 3. Edades entre 18 y 60 años. Los métodos quirúrgicos deben incluir la cirugía directa de by pass bilateral, y los pacientes no deben recibir antiagregantes plaquetarios ni anticoagulantes. J Bras Neurocirurg 15(3), 91-104, 2004 101 En los 5 años de estudio el número previsto de pacientes, para cada grupo es de 80, así el número total de los pacientes previsto que ingresarán al estudio es de 160. Casos incidentales o asintomáticos La incidencia familiar de la EM es cercana al 10%. En Japón, se realizan con frecuencia los exámenes de pesquiza de patología encefálica, utilizando la RMN (Brain Check Up). Así, incidentemente la EM se diagnostica en éstos exámenes. No es de certeza absoluta que éstos casos de enfermedad incidental o asintomática llegarán a ser sintomáticos en el futuro. Así, no existe consenso en el tratamiento preventivo para estos pacientes. Enfermedad Moyamoya y flujo sanguíneo cerebral En la EM las porciones terminales de las arterias carótidas internas intracraneanas se presentan esteno-oclusivas. Cuando el flujo sanguíneo cerebral (FSC) cae a un cierto grado, la autoregulación se mantiene en la primera etapa (vasodilatación de las arterias pequeñas y arteriolas, donde asienta la autoregulación). Si la caída del FSC es más acentuada, normalmente bajo los 60 mmHg de presión arterial media (app. 50 mmHg de presión de perfusión), el cerebro pone a actuar el segundo mecanismo de protección que es aumentar la fracción de O2 extraída de la sangre arterial (FOE). Cuando estos dos pasos no son suficientes, y el FSC cae aún más, o se forma un trombo en las arterias cerebrales que compromete el FSC, ocurre el ataque isquémico transitorio o el infarto cerebral, dependiendo de las vías de circulación colateral y la cuantía e intensidad de la isquemia cerebral. En la EM, el cerebro también pone en juego mecanismos de defensa ante el compromiso del FSC en descenso en forma crónica, descrito anteriormente, y mejora la prefusión cerebral desarrollando espontáneamente vías de circulación colateral, esencialmente a nivel de las arterias perforantes que irrigan los ganglios basales y sustancia blanca periventricular, y también a nivel de la convexidad cerebral, lo que se denomina “vasos moyamoya de la convexidad” (Vault Moyamoya); incluso el desarrollo de ésta última forma de circulación colateral se ha comunicado como factor pronóstico, de respuesta del cerebro a la revascularización quirúrgica20. Mediante la anastomosis quirúrgica, se mejoran aun más las posibilidades de defensa del parénquima cerebral, al aumentar mayormente las vías de circulación colateral. Según el conocimiento actual, no existe un tratamiento médico para superar el FSC disminuido en la EM. Para examinar el FSC, se utilizan comúnmente la TAC con inhalación de Xe133, el SPECT, y el PET14,43. Recientemente, la RMN de Perfusión y Difusión se utilizan para este propósito. Takeuchi S. y col.43 han comunicado sobre el estudio del FSC en la EM, exponiendo el método más utilizado de inhalación de Xe133. Según el trabajo de éstos autores, el FSC regional fue medido por el método de la inhalación de Xe133 en 20 pacientes jóvenes con EM y cinco voluntarios jóvenes y sanos. La mayoría de los paciMARÍN LQ – Enfermedad Moyamoya entes con Moyamoya demostraron valores medios bajos de FSC hemisférico cerebral bilateral. El FSC regional se encontraba en valores bajos en la región frontal superior y en valores promedio normales en las regiones posterotemporales y occipitales, lo cual era muy diferente del patrón de FSC “hiperfrontal” en voluntarios sanos. El FSC regional fue reducido uniformemente mediante hiperventilación, y luego mediante la inhalación de CO2 al 5%, el FSC se aumentó en las regiones temporooccipitales pero no sufrió cambios, permaneciendo disminuido en las regiones frontales, en los pacientes con Moyamoya. Estenosis/Oclusión de la arteria cerebral media y Moyamoya La arteria cerebral media (ACM) proporciona irrigación a gran parte del hemisferio cerebral. La estenosis y/o oclusión de la ACM ocurre debido a varias causas, siendo la ateroesclerosis el factor causal en la mayoría de éstos casos. Sin embargo, se ha comunicado que algunos pacientes con estenosis u oclusión de la ACM no tienen ningún factor de riesgo tales como hipertensión arterial, diabetes mellitus, o hiperlipidemia, tratándose de pacientes relativamente jóvenes entre 30 y 40 años de edad. Interesante es el hecho clínico que con frecuencia, no desarrollan infartos cerebrales extensos y algunos no tienen ningún tipo de síntomas isquémicos. Algunos de ellos fueron diagnosticado incidentemente en controles médicos periódicos (Brain Check Up). Son lesiones unilaterales, pero también se observan lesiones simétricas bilaterales (imagen en espejo). Bajo estas condiciones, las arterias perforantes que irrigan las regiones de los ganglios basales se pueden dilatar o no. Los problemas en el diagnóstico es que la diferenciación de éstas lesiones de la ACM de la EM es difícil. En la EM pediátrica los vasos moyamoya están generalmente bien desarrollados, pero en la EM del adulto, los vasos moyamoya están mal desarrollados en la mayoría de los casos. Clínicamente, la neta diferenciación entre el Moyamoya y la obstrucción de la ACM de éstos casos, no es clara,y esto se debe, en parte, porque la definición de la entidad EM es aun vaga. Komiyama y col postulan que hay factores etiológicos comunes entre estas dos entidades clínicas22,23. Los vasos Moyamoya se encuentran no solamente en la EM, si no que además en otras enfermedades21,2426 . En los casos de estados esteno-oclusivos de arterias cerebrales en enfermedades no-moyamoya, tales vasos moyamoya se observan con cierta frecuencia, y a esta situación clínica, se le llama “fenómeno moyamoya”. Embarazo y Parto en las pacientes con Enfermedad Moyamoya La EM, en general, es más frecuente en mujeres que hombres. Muchas pacientes mujeres desarrollan la enfermedad en la niñez, lo cual significa que éstas pacientes enfrentan los problemas propios de la enfermedad en el embarazo y el parto, luego que ellas crecen. Desafortunadamente, no existen guías o pautas para J Bras Neurocirurg 15(3), 91-104, 2004 102 enfrentar la situación clínica bajo éstas condiciones, lo cual es un problema para el médico cuando es consultado por ésta causa. Aunque el parto de la mayoría de las pacientes con Moyamoya se lleva a cabo sin problemas, existen elementos clínicos con respecto a su embarazo que deben ser diferenciados. Las pacientes en que se ha diagnosticado la enfermedad antes del embarazo y a las pacientes que se diagnostica la enfermedad por primera vez durante embarazo. EM DIAGNOSTICADA ANTES DE EMBARAZO Anticoncepción: Las píldoras anticonceptivas se conocen como factor de riesgo de infarto cerebral. Es mejor evitar su uso para la anticoncepción. Parto: Es controversial si el parto por cesárea es más seguro que el parto vaginal espontáneo. De los escasos datos que figuran en la literatura, no hay evidencias que el parto vaginal conlleve más riesgo, sin embargo, puesto que la negligencia o mal praxis es una preocupación social muy en boga, la operación cesárea se elige con mayor frecuencia para evitar problemas legales. Tratamiento de Esterilización: El tratamiento anticonceptivo se fundamenta en el uso de fármacos con principios hormonales que contienen estrógenos, los cuales tienen un riesgo de producir isquemia cerebral mayor, por lo que el tema de la esterilización se debe tratar, luego del parto, de común acuerdo con la pareja. EM DIAGNOSTICADA POR PRIMERA VEZ DURANTE EMBARAZO La mayoría de las pacientes presentan una hemorragia cerebral. Su pronóstico depende, al igual que la hemorragia intracerebral espontánea, de su magnitud y topografía. El tratamiento se indica a la madre, para tratar la hemorragia cerebral, en forma convencional. En éste contexto, cuando la operación cesárea es posible, de acuerdo al desarrollo del feto, ésta se indica para mejorar las condiciones de vida de éste. En general, el tratamiento de la EM de las mujeres embarazadas es básicamente igual al de las mujeres no embarazadas. A excepción de los primeros meses del embarazo, la exposición a radiografías, administración de fármacos, y la cirugía no causan efectos nocivos sobre el bebé27,28. FIGURA 10 Oclusión de la ACM derecha con desarrollo de vasos moyamoya, como una forma de circulación colateral. MARÍN LQ – Enfermedad Moyamoya Enfermedad Moyamoya y Genética En un comienzo, se pensó que la EM era causada por factores adquiridos, tales como infecciones virales o bacterianas. Sin embargo, los estudios más recientes sugieren la naturaleza congénita de esta enfermedad. Gracias a la investigación humana del genoma, se han encontrado muchos genes que causan enfermedades congénitas. El reciente genoma investigado para la EM sugirió que el lugar genético se encontró en los cromosomas 3, 6, y 17, sólo entre portadores de EM familiar, sin embargo, éstos estudios se deben interpretar con precaución, ya que los resultados con análisis estadísticos más precisos sólo sugieren que el lugar genético esté establecido en tales cromosomas en la EM familiar13,15,45. Se requieren mayores estudios para establecer claramente el gene relacionado con esta enfermedad. Pronóstico No hay muchos informes sobre el pronóstico de la EM. Cuando hablamos del pronóstico, se debe separar el pronóstico para los pacientes pediátricos, cuya presentación es esencialmente isquémica, del pronóstico de los pacientes adultos cuya presentación es predominantemente hemorrágica. En el caso de la presentación isquémica, la CIT no siempre evoluciona a un infarto cerebral, y en algunos casos, la evolución espontánea de la CIT es tendiente a desaparecer. En otros casos más severos, habitualmente diagnosticados tardíamente, los niños con EM tienen lesiones isquémicas irreversibles, y/o infartos cerebrales recurrentes a pesar de todo tratamiento, determinando clínicamente un retardo mental o retraso psicomotor, como consecuencia de una involución cerebral de causa isquémica6,7. En raras ocasiones, los pacientes con presentación isquémica inicial presentan posteriormente una hemorragia cerebral. La hemorragia recurrente, en los pacientes con presentación hemorrágica inicial es común, y el pronóstico es pobre especialmente para los pacientes de mediana edad y ancianos. En la EM, el pronóstico fatal es en la mayoría de los casos atribuible a la hemorragia recurrente. Se cree que la cirugía de by pass es beneficiosa para los pacientes con presentación isquémica, sin embargo, no hay estudio doble ciego aleatorizados que comparen el pronóstico de los pacientes tratados con cirugía de by pass y el de los pacientes tratados en forma conservadora. Tal estudio no se puede realizar hoy en Japón, como tampoco en otros países, por la ventaja ampliamente demostrada de la cirugía de by pass sobre el tratamiento no quirúrgico, en éstos casos. La situación para los pacientes con presentación hemorrágica es diferente porque aún existen dudas sobre las ventajas de la cirugía de by pass en los pacientes con presentación hemorrágica. Kurokawa y col.30 comunicaron sobre el pronóstico de 27 pacientes entre 11 meses y 4 años y 11 meses de edad. Los períodos de observación variaron de 4 años (13 pacientes), 5-9 años (5 pacientes), y 10-15 años (9 pacientes). Once pacientes fueron sometidos a tratamiento quirúrgico y se incluyó J Bras Neurocirurg 15(3), 91-104, 2004 103 su pronóstico antes de la cirugía. Las CIT se observaron frecuentemente en los primeros 4 años, para disminuir luego de éste período. El deterioro intelectual y motor aumentó con el tiempo. No hubo diferencias de presentación predominante en algún sexo. El resultado final incluyó un estado neurológico normal en cinco (19%), CIT o cefaleas ocasionales en nueve (33%), deterioro intelectual leve y/o compromiso motor leve en siete (26%), necesidad de una escuela especial o de cuidados especiales de los padres o de instituciones, después de alcanzar la adolescencia en tres (11%), cuidado continuos de 24 horas en dos (7%), y fallecido un caso (3%). El mal pronóstico se correlacionó con una edad temprana de inicio de la enfermedad y la hipertensión arterial. Fukuyama y col.7 comunicaron el pronóstico a largo plazo de 21 niños de Moyamoya con CIT (seis varones y quince mujeres, con edad media de 22 años). Los síntomas clínicos, el déficit neurológico, la actividad de la vida diaria, y los signos neurológicos se evaluaron en nueve pacientes. El período medio de seguimiento fue de 16.5 años. Solamente tres pacientes (27.3%) bajo tratamiento conservador demostraron buen pronóstico. En cambio, cuatro de seis pacientes que recibieron tratamiento quirúrgico demostraron mejoría clínica. Estos resultados sugirieron que el tratamiento quirúrgico puede ser apropiado en niños que presentan CIT bajo tratamiento conservador, y que demuestren síntomas clínicos residuales. Morbilidad/Mortalidad: Los porcentajes de mortalidad son de aproximadamente 10% en adultos y 4.3% en niños. La muerte es generalmente causada por la hemorragia cerebral. Aproximadamente entre el 50-60% de los individuos afectados experimentan un deterioro gradual de las funciones cognitivas, probablemente debido a accidentes vasculares recurrentes. Enfermedad Moyamoya y Muerte Cerebral ¿Qué sucede con el trasplante de órganos de un donante con muerte cerebral portador de EM? El dilema médico en ésta situación es si los órganos de pacientes portadores de Moyamoya son útiles y convenientes para un trasplante. En otras palabras, si es que las alteraciones patológicas presentes en las arterias cerebrales ocurren en las de otros órganos tales como corazón, pulmón, hígado, riñón etc. Los cambios histopatológicos de las arterias cerebrales es de un “engrosamiento” intimal, de la pared arterial, sin ateroesclerosis ni cambios inflamatorios. Se sabe que tales cambios patológicos si pueden ocurrir en las arterias del corazón, del riñón, del bazo, y del cuero cabelludo24,26; sin embargo, éstas alteraciones no ocurren en todos los pacientes con EM, y cuando se presentan esos cambios, no todos los segmentos de tales arterias demuestran tales alteraciones patológicos (estenosis u obstrucción). Por ejemplo, si todas las arterias del cuero cabelludo presentaran tales cambios esteno-oclusivos, la anastomosis quirúrgica perdería su función de fuente adicional de FSC a través de las anastomosis, debido a la obstrucción de las arterias del cuero cabelludo. Así, la incidencia de cambios esteno-oclusivos en las arterias de los órgano es probablemente muy baja, y se cree que es poco probable que MARÍN LQ – Enfermedad Moyamoya tales cambios patológicos puedan causar problema clínico en el trasplante del órgano. En cambio, la ateroesclerosis puede ser un problema mayor en tal situación. No se puede afirmar con certeza que el trasplante de órganos de los pacientes con EM no tiene ningún problema clínico, sino que probablemente en muchos casos, no causará problemas clínicos. Referencias 1. ADELSON PD, SCOTT RM: Pial synangiosis for moyamoya syndrome in children. Pediatr Neurosurg 23:26-33, 1995. 2. Association of the Patients and Their Families of Moyamoya Disease (ed): Clinical investigation on Moyamoya Disease. 2001. 3. CHENG MK: A review of cerebrovascular surgery in the People’s Republic of China. Stroke 13:249-55, 1982. 4. ENDO M, KAWANO N, MISAYAKA Y, YADA K: Cranial burr hole for revascularization in moyamoya disease. J Neurosurg 71:180-5, 1989. 5. FUKUI M: Guidelines for the diagnosis and treatment of spontaneous occlusion of the circle of willis (‘Moyamoya’ disease). Clin Neurol Neurosurg 99:S238-S40, 1997. 6. 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Endereço para correspondência: Prof. Dr. Leonidas Quintana Marín Neuromédica Av. Libertad 1405 Of. 301 – Torre Coraceros Viña Del Mar – 254-1194 – Chile Fono: (56 32) 68-3860 Fax: (56 32) 68-3861 E-mail: leonquin@vtr.net J Bras Neurocirurg 15(3), 91-104, 2004 ARTIGO DE REVISÃO Cirurgia psiquiátrica para agressividade Manoel Jacobsen Teixeira* Eda Zanetti Guertzenstein** Clement Hamani*** Leandro Venturini**** Maria Elvira Borges Calazans***** Myriam Carolina Montenegro****** Sinopse A agressividade humana é condição que apresenta grande impacto social. Seu tratamento permanece controverso. Várias teorias sobre sua etiologia, substratos biológicos, genéticos e socioculturais foram propostas para justificá-la. Os autores apresentam revisão sumária sobre bases anatômicas e neuroquímicas, aspectos psiquiátricos e ético-legais da agressividade sobre a seleção e indicações dos procedimentos terapêuticos cirúrgicos destinados a seu controle. Palavras-chave Psicocirurgia, agressividade, alterações do comportamento, hipotalamotomia, amigdalectomia. * Professor Doutor do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e Diretor Técnico de Divisão de Saúde da Divisão de Neurocirurgia Funcional do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP. ** Doutora, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPqHC-FMUSP). *** Médico Neurocirurgião do Deptment of Neurosurgery University of Toronto Canadá. **** Doutor, neurocirurgião da Divisão de Neurocirurgia Funcional do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). ***** Advogada, doutoranda pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). ****** Médica Neurocirurgiã. Estagiária do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Abstract Psychosurgery for Aggressiveness Human aggressive behaviour is a condition with growing prevalence, carring to a high social impact. Its treatment remains controverse. Biological, genetic, social and cultural factors are involved in its occurrence. A review of the main anatomical, physiological and biochemical bases of its aetiology and of the psychiatric, ethical and legal aspects is presented. The usefulness of the evaluation and the selection of the appropriate surgical procedures for the treatment of difficult patients presenting with medical aggressiveness is presented with. Key words Psychosurgery, Aggressiveness, Behaviour disorders, Amygdalectomy, Hypothalamotomy, Stereotactic amygdalectomy, Stereotactic hypothalamotomy. Introdução A agressividade humana é condição que assume prevalência crescente e grande impacto social. Diversos estudos foram realizados para melhorar a compreensão de suas várias facetas, especialmente quanto à etiologia, aspectos clínicos e terapêuticos. As teorias sobre a etiologia da agressividade contemplam a dicotomia, que por um lado caracteriza seus substratos biológico e genético e por outro fatores socioculturais vivenciados pelos indivíduos considerados violentos27. Para facilitar, a análise dos procedimentos terapêuticos e cirúrgicos indicados para o tratamento da agressividade serão descritos, TEIXEIRA MJ, GUERTZENSTEIN EZ, HAMANI C, VENTURINI L, CALAZANS MEB, MONTENEGRO MC – Cirurgia psiquiátrica para agressividade J Bras Neurocirurg 15(3),105-111, 2004 106 sumariamente, as bases anatômicas e neuroquímicas da agressividade e os aspectos psiquiátricos e legais, a ela relacionados. Bases anatômicas da agressividade Embora haja tendência de encarar a agressividade como comportamento hostil, fisiologicamente é interpretada como exercendo funções relevantes no que diz respeito à alimentação predatória, defesa territorial, proteção da prole e comportamento sexual visando à preservação da espécie. Neurônios e circuitos neuronais que regulam estas ações e funções básicas são organizados no sistema nervoso central (SNC) de maneira hierárquica. Animais inferiores apresentam reações menos elaboradas que, progressivamente na escala filogenética, passam a ser controladas, respectivamente, pelo tronco encefálico seguindo-se o hipotálamo, o sistema límbico (particularmente a amígdala) e, em primatas, o córtex pré-frontal3,17,21. TRONCO ENCEFÁLICO Diversos núcleos bulbares, pontinos e mesencefálicos relacionam-se com o comportamento agressivo. No entanto, lesões nestas estruturas, geralmente, não originam importante comportamento agressivo ou de embotamento afetivo. Faz exceção a agressividade vinculada a alterações do ciclo sono–vigília, do sono REM (rapid eye movement) em particular. Durante o sono REM, alguns neurônios do locus ceruleus inibem motoneurônios espinais e suprimem a atividade motora, gerando atonia. Lesões bilaterais no tegmento pontino bloqueiam esta inibição, culminando com comportamento onírico, em que o doente agride, morde e ataca os lençóis, a cama, os móveis localizados ao seu redor ou mesmo a pessoa com quem divide seus ambientes na cama. A polissonografia confirma estas correlações e a condição, usualmente, melhora com benzodiazepínicos. HIPOTÁLAMO O hipotálamo humano age, via conexões, com o sistema nervoso neurovegetativo e a hipófise, caracteriza-se pela capacidade de organizar informações relacionadas à homeostase interna. A estimulação no núcleo posterolateral do hipotálamo evoca reações estereotipadas de agressão em animais, expressadas como exposição das garras, piloerecção, dilatação pupilar e mordidas. Estas independem do córtex cerebral e assemelham-se ao ataque predatório14. De maneira contrária, a estimulação do núcleo ventromedial inibe a agressividade e promove comportamento de postura defensiva22,21. AMÍGDALA Esta estrutura promove conexão entre a informação sensitiva processada nos córtices de associação secundários e terciários e a atividade oriunda do tronco encefálico, hipotálamo e restante do sistema límbico, é capaz de elaborar modelo da realidade externa ao corpo e organizar reações hipotalâmicas específicas, evocando medo, dor e fome, dentre outras1,22,30. CÓRTEX PRÉ-FRONTAL O córtex pré-frontal recebe extensa rede de conexões a partir das áreas de associação sensitivas parietais e origina extensa inervação destinada aos sistemas motores, como o piramidal. Recebe conexões importantes, tanto do hipotálamo, através do núcleo mediodorsal do tálamo, quanto do sistema límbico, via fascículo uncinado. Exerce funções importantes, pois integra situações sensitivas complexas vividas no meio externo, com a atividade adequada das reações intracorpóreas e com a memória de situações previamente vivenciadas, possibilitando a elaboração de reações motoras e fisiológicas, adequadas para melhor beneficiar o organismo. Lesões na região dorsolateral do córtex pré-frontal, usualmente, causam apatia, indiferença e redução da capacidade de solucionar problemas simples. As lesões da região orbitofrontal resultam em reações não condicionadas, reflexas e superficiais, bem como, em irritabilidade. Os doentes reagem rapidamente a provocações levianas e não medem as conseqüências de seus atos. Também não são capazes de abstrações complexas. Trabalhos realizados com doentes violentos e criminosos revelaram que havia, nos lobos frontais, anomalias evidenciadas aos exames convencionais de imagem e hipofunção neurogênica, segundo exames funcionais como a tomografia por emissão de positrons, além das anormalidades neuropsicológicas3,21,17. Bases neuroquímicas da agressividade Diversos neurotransmissores e hormônios foram relacionados à agressividade. Dentre estes, um dos mais relevantes é a serotonina, que está reduzida no SNC em doentes com agressividade e ideação suicida8. Corroborando estes achados, evidenciou-se que, em seres humanos, ocorre elevação dos níveis de serotonina após hipotalamotomia. Outro transmissor com papel consolidado experimentalmente no mecanismo da agressividade, mas ainda sem subsídios clínicos confirmatórios, é a acetilcolina21. Sistemas catecolominérgicos, como os relacionados à dopamina e à noradrenalina, parecem também relacionar-se à agressividade. Agentes dopaminérgicos e agonistas alfa-2 exacerbam comportamentos agressivos, que são suprimidos com antagonistas da dopamina e agentes betabloqueadores21. A administração de agonistas GABAérgicos a animais bloqueia a agressividade. No entanto, às vezes, é observado efeito paradoxal. Estima-se que centros de integração superiores, que habitualmente bloqueiam o comportamento agressivo, passem a ser inibidos, liberando, desse modo, alguns núcleos no SNC, como o hipotálamo e a amígdala, que passariam a gerar exacerbação da atividade agressiva latente, após o uso destes medicamentos. A testosterona também se relaciona com a agressividade. Diversos estudos, envolvendo animais e seres humanos, relacionam os níveis de hormônio androgênicos circulantes com o comportamento agressivo. Embora a administração de antagonistas do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) reduza os níveis de testosterona e da agressividade em seres humanos, terapias TEIXEIRA MJ, GUERTZENSTEIN EZ, HAMANI C, VENTURINI L, CALAZANS MEB, MONTENEGRO MC – Cirurgia psiquiátrica para agressividade J Bras Neurocirurg 15(3),106-112, 2004 107 com este enfoque, usualmente, causam efeitos indesejáveis, o que impede sua utilização terapêutica. Aspectos psiquiátricos A agressão é um comportamento complexo, conduzido pelo indivíduo contra um alvo, resultando dano. Constitui ato multideterminado que, freqüentemente, resulta em doença psíquica ou física que pode ocorrer dentro ou fora dos limites da medicina. As manifestações comportamentais da agressividade caracterizam-se por aumento da vigilância e da presteza para o ataque, podem ser premeditadas, defensivas ou impulsivas (agressão e impulsividade ocorrem simultaneamente). Algumas vezes, a impulsividade é confundida com a agressividade. Embora ambas possam ser expressas simultaneamente, não apresentam o mesmo significado. A impulsividade é definida como incapacidade de resistir a um impulso, direção ou tentação prejudicial a si ou a outros. O impulso, também chamado estado motivacional ou pulsão, constitui estado teórico, nãofenomenológico. Um impulso representa um estado interno, uma vivência afetiva que induz o indivíduo a atuar no sentido de satisfazer uma necessidade. O impulso não deve ser confundido com instintos que são comportamentos complexos, estereotipados e inatos, compartilhados por animais da mesma espécie. Servem para conservação da vida e perpetuação da espécie. Os atos impulsivos caracterizam-se por serem súbitos, incoercíveis e incontroláveis; saltam as etapas da deliberação e da decisão do processo volitivo, evoluindo da intenção para a ação. Presumivelmente, estes atos ocorrem em função do aumento da intensidade dos impulsos ou do enfraquecimento dos mecanismos de inibição e tornam-se patológicos quando são empaticamente incompreensíveis para o observador. São alguns exemplos: comportamentos hétero ou auto-agressivos e ou suicidas, frangofilia, piromania, dromamania, dipsomania, ataques de hipertensão alimentar (bulimia nervosa) e jogo patológico (ato impulsivo, mas não necessariamente agressivo); uma tentativa de assassinato premeditado, bem planejado, é agressivo, mas não necessariamente impulsivo. Os conceitos de impulsividade e agressividade não são diagnósticos específicos, mas podem ser interpretados como construto dimensional. Resultados de pesquisas recentes sugerem que indivíduos com transtornos psiquiátricos cometem atos de violência mais freqüentemente que indivíduos sem doença psiquiátrica e que os transtornos psiquiátricos nos quais se identificam riscos particularmente maiores de comportamento agressivo são: esquizofrenia e psicoses não especificadas, transtornos afetivos, abuso de álcool e substâncias, transtorno explosivo intermitente, transtorno do déficit de atenção com ou sem hiperatividade, transtorno da personalidade antissocial, transtorno da personalidade borderline, transtorno da personalidade paranóide e retardamento mental, transtornos mentais orgânicos primários do SNC (crises convulsivas – durante o período ictal, intra-ictal ou pós-ictal e doenças estruturais que acometem o SNC). O meio ambiente é tão importante, quanto são os transtornos psiquiátricos e as doenças físicas, na determinação do nível de periculosidade. Os parâmetros envolvidos são: ocupacionais, educacionais, econômicos, relacionamentos sociais e problemas legais. Considera-se ainda, nessa avaliação, a abordagem de funcionamento global do indivíduo. Terapêutica da agressividade O tratamento dos doentes agressivos, idealmente, exige a atuação de equipe multidisciplinar que integre psiquiatras, psicólogos, neurologistas, enfermeiros, assistentes sociais, fisiatras, fisioterapeutas, eletrofisiologistas, terapeutas ocupacionais e neurocirurgiões. As causas da agressividade devem ser investigadas e, sempre que possível, as alterações orgânicas ou funcionais tratadas. Dentre algumas condições orgânicas geradoras de agressividade destacam-se as lesões do SNC, como os tumores hipotalâmicos, as epilepsias do lobo temporal, os traumatismos cranioencefálicos, as encefalopatias secundárias a encefalites ou a vasculopatias, as disfunções metabólicas, a deficiência de vitamina B12, o abuso de drogas, a esquizofrenia, as alterações do humor (como transtornos bipolares) e as demências. Caso nenhuma alteração seja encontrada, deve-se instituir terapias “não-específicas”, incluindo a adequação da alimentação e o ciclo vigília–sono dos doentes à terapêutica medicamentosa e ao suporte psicológico. Os medicamentos utilizados para o controle crônico da agressividade devem contemplar as alterações neuroquímicas, previamente descritas neste artigo. Dentre os agentes mais utilizados, destacam-se os bloqueadores beta-adrenérgicos (propanolol), inibidores seletivos da recaptação de serotonina (fluoxetina, sertralina, paroxetina) e agonistas colinérgicos (utilizadas com menor freqüência, pois sua eficácia não foi completamente comprovada). Doentes com surtos de agressividade aguda podem ser controlados com benzodiazepínicos ou antipsicóticos (haloperidol). Doentes com epilepsia, esquizofrenia e alterações de humor devem ser tratados com anticonvulsivantes (carbamazepina, valproato, fenobarbital), antipsicóticos (haloperidol, risperidona, clozapina) e estabilizadores do humor (lítio), respectivamente. A psicoterapia pode ser opção adequada, quando as evidências de anormalidades orgânicas são menores ou quando a agressividade é atribuída a abuso de substâncias. Detalhes sobre dosagens e resultados específicos do tratamento clínico da agressividade fogem ao escopo deste artigo. Tratamento cirúrgico A cirurgia psiquiátrica sofreu grande avanço desde os primeiros momentos em que doentes, com diversos transtornos psíquicos, eram invariavelmente submetidos à leucotomia límbica e evoluíam, geralmente, com comprometimento da função dos lobos frontais3,10,16,17,21,25. Apesar dos avanços, o tratamento cirúrgico da agressividade ainda permanece controverso, devido às im- TEIXEIRA MJ, GUERTZENSTEIN EZ, HAMANI C, VENTURINI L, CALAZANS MEB, MONTENEGRO MC – Cirurgia psiquiátrica para agressividade J Bras Neurocirurg 15(3),105-111, 2004 108 plicações sociais e ideológicas que evoca. Não existem relatos fidedignos quanto às especificações necessárias para a adequação desses procedimentos. Assim, os poucos estudos publicados não satisfazem muitos aspectos, pois, em geral, não são controlados, não são prospectivos, as indicações cirúrgicas não são claras ou consistentes, o número de doentes relacionados é pequeno, a descrição dos resultados é insatisfatória e mal classificada e as complicações, muitas vezes, não são descritas adequadamente. Assim, torna-se complexa a avaliação de conclusões nítidas acerca da validade real desses procedimentos. INDICAÇÕES CIRÚRGICAS São possíveis candidatos, para tratamento neurocirúrgico da agressividade, os doentes com esquizofrenia e psicoses não especificadas, com transtorno explosivo intermitente, com retardamento mental ou com transtornos primários do SNC, principalmente os transtornos convulsivos, desde que não haja controle satisfatório do comportamento agressivo, com métodos de tratamento existentes e o doente ou seu representante concordarem ou aceitarem os riscos da cirurgia6,13,19,23,29. Dentre todos os problemas relacionados à cirurgia psiquiátrica moderna e, em especial, à cirurgia da agressividade, a seleção dos casos é o que constitui a maior dificuldade. A terapêutica clínica (farmacológica, psiquiátrica, psicológica, eletroconvulsoterápica) deve ser aplicada primeiramente e a cirurgia deve ser utilizada como último recurso, após a exposição dos riscos aos familiares e o consentimento dos mesmos em concordância com uma junta médica multidisciplinar3,16,17,21,22. O tratamento cirúrgico deve ser indicado, exclusivamente, para beneficiar os doentes e nunca por razões políticas ou sociais21. Os doentes selecionados geralmente incluem aqueles com agressividade oriunda de neuropatias decorrentes de encefalites, meningites, alterações perinatais, anormalidades congênitas (muitas vezes não-especificadas) e, mais freqüentemente, de quadros ditos “pós-epilépticos” (sem maiores detalhes), assim como, de doentes com esquizofrenia paranóide e delinqüência sexual2-4,7,8,10,11,14,17,18,21,22,25-28. Entretanto, há clara heterogeneidade nas amostras, o que impossibilita a extração de conclusões específicas sobre os resultados da cirurgia para agressividade. Mais ainda, de ser uma possível alternativa eficaz para os doentes refratários à psicocirurgia. A relação custo–benefício da cirurgia pode ser favorável; alguns estudos revelaram que ocorre redução das estadias hospitalares e dos custos da cirurgia em relação às terapias conservadoras crônicas21. PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS Dentre os procedimentos mais utilizados atualmente, destacamse a hipotalamotomia, a amigdalectomia e a neuromodulação. A hipotalamotomia é primária quando é o primeiro procedimento realizado no doente e secundária quando segue algum procedimento inicial destinado ao controle da agressividade. A modificação da função das estruturas encefálicas pode ser feita por meios químicos, térmicos ou elétricos21. Hipotalamotomia A hipotalamotomia é um procedimento eficaz no controle da agressividade de doentes não-epilépticos. O núcleo posteromedial do hipotálamo e a área posterior do hipotálamo são os alvos mais freqüentes das cirurgias. Em delinqüentes sexuais, o hipotálamo ventromedial é o alvo preferencial7,8,21,22. Atualmente os procedimentos tornaram-se mais simples e seguros, graças ao advento das técnicas de fusão de imagens de ressonância magnética e tomografia computadorizada e da melhora das técnicas de neurocirurgia funcional e do desenvolvimento de radiofreqüência. A estimulação da região pósteromedial do hipotálamo gera hiperatividade neurovegetativa simpática, representada por dilatação pupilar, taquicardia e hipertensão arterial, assim como desvio medial e para baixo dos olhos. As mais freqüentes complicações pós-operatórias transitórias são representadas pelo diabetes insípido transitório e os movimentos balísticos. As complicações permanentes são raras: obviamente, os doentes submetidos ao procedimento correm os riscos habituais relacionados a cirurgias estereotáxicas, como hematomas, infeções etc. A maioria dos estudos caracteriza os resultados como bons e ótimos, uma vez que, a maioria dos doentes pode interromper ou reduzir, consideravelmente, a dosagem dos medicamentos até então utilizados; alguns autores relatam que 62,5% a 75% dos doentes apresentaram algum controle da agressividade2,4,18,22,26,28. Amigdalectomia A amigdalectomia estereotáxica por radiofreqüência é o procedimento mais utilizado para tratar a agressividade11. Algumas casuísticas incluem doentes com agressividade relacionada à epilepsia2,21. Os resultados são considerados como bons e ótimos pela maioria dos autores; a melhora ocorre em 75% a 80% dos casos21. A maior parte dos doentes apresentou agressividade sem uso ou com doses reduzidas das medicações e cursaram com qualidade de vida melhor que a apresentada no pré-operatório. As complicações mais comumente descritas para as amigdalectomias, além das relacionadas ao próprio procedimento estereotáxico, são a hemiparesia (plegia) transitória ou permanente e os movimentos balísticos1. Neuromodulação Na última década a neuroestimulação (estimulação elétrica como modalidade de neuromodulação) encefálica profunda passou a ser utilizada como instrumento de tratamento de enfermidades psiquiátricas12,15,16,21. A eletroconvulsoterapia foi um dos primeiros procedimentos aplicados no tratamento de doentes psiquiátricos14. A neuroestimulação consiste de implante neurocirúrgico de eletródios para estimular eletricamente o nervo vago12, as estruturas encefálicas profundas16,21 e o córtex cerebral (estimulação magnética transcraniana)12,15 ou todo o encéfalo (eletroconvulsoterapia). As vantagens da neuromodulação são a reversibilidade, a possibilidade de modificação do padrão de estimulação, conforme as necessidades e conveniências dos doentes, resgate da melhora quando há progressão da doença, TEIXEIRA MJ, GUERTZENSTEIN EZ, HAMANI C, VENTURINI L, CALAZANS MEB, MONTENEGRO MC – Cirurgia psiquiátrica para agressividade J Bras Neurocirurg 15(3),105-111, 2004 109 recorrência dos sintomas e possibilidade da realização de estudos duplamente encobertos16,21. Aspectos ético-legais Os países, cujos centros médicos oferecem a neurocirurgia como tratamento de transtornos psíquicos, geralmente, adotam legislação específica que regula o acesso ao tratamento neurocirúrgico e os cuidados com os doentes. Na Grã-Bretanha, por exemplo, sob o Mental Health Act, é mantida uma comissão com o propósito de supervisionar e aprovar as cirurgias psiquiátricas. A Mental Health Act Comission, constituída de um médico – desde que não seja o que trata e é responsável pelo doente – e dois leigos em matéria médica, especialmente designados por ato do secretário de Estado, deve certificar a compreensão e o consentimento do doente. O médico comissionado deve ainda certificar, por escrito, que há a probabilidade de o tratamento aliviar ou prevenir a deterioração das condições do doente. A decisão da comissão é final. Qualquer segunda opinião ou reivindicação é possível mas, não cabe recurso para a Suprema Corte a partir da decisão da Corte Especial. Sob o ponto de vista jurídico, não há, no Brasil, qualquer previsão legislativa que normatize o tratamento neurocirúrgico para transtornos mentais. O procedimento brasileiro está regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina (Resolução 1.408/94), recomendando que a cirurgia psiquiátrica seja realizada com o consentimento do doente, emitido depois de prévia e completa informação. A supervisão da neurocirurgia está a cargo de um corpo de profissionais, solicitados e indicados pelo Conselho Regional de Medicina, a que está subordinado o centro que a realizará, que deverão certificar se houve genuinamente aplicação do consentimento previamente esclarecido e se o tratamento é o que melhor atende às necessidades de saúde do doente. Além dessas recomendações, a conduta médica deve ser norteada por princípios éticos do Código de Ética Médica, adotado pelo Conselho Federal de Medicina Brasileiro, das convenções internacionais, da Organização Mundial de Saúde e os estabelecidos por congressos, encontros e reuniões nacionais e internacionais, para a proteção da pessoa humana. Esses princípios garantem ao doente o respeito à sua dignidade como ser humano, incluindo, dentre outros, o direito à informação transmitida em linguagem acessível ao leigo e abrangendo o diagnóstico, todos os aspectos da doença, os tratamentos disponíveis e acessíveis, os procedimentos pré-operatórios, o procedimento cirúrgico, os riscos da cirurgia, inclusive os riscos anestésicos, os procedimentos e tratamentos pós-operatórios, os benefícios, os efeitos adversos e os resultados esperados da cirurgia. Devem ser garantidos, também, a confidencialidade, o sigilo e a privacidade do tratamento. Outra norma ética, essencial à dignidade da pessoa do doente, é o respeito à sua autonomia de vontade, cujo instrumento é o consentimento para o tratamento neurocirúrgico. Nenhuma neurocirurgia para tratamento de transtornos psíquicos deve ser realizada sem o expresso, prévio e livre consentimento do doente, depois de fornecidas as informações necessárias, estando recomendado em todas as disposições éticas atuais, como um cuidado primordial, sob a usual denominação de “Consentimento Informado (CI)”. O direito ao CI é irrenunciável, sem o qual não poderá haver tratamento. Sob o aspecto do CI, surge uma questão jurídica importante. O CI só poderá ser validamente emitido por pessoa juridicamente capaz, ou seja, para consentir, o doente deve ter capacidade de autodeterminação. Portanto, esta capacidade deve ser analisada sob dois aspectos: o clínico e o legal ou jurídico. Sob o aspecto clínico, deve ser verificada e constatada por profissional médico especialista na área psiquiátrica. Estes profissionais têm buscado padrões que determinem a capacidade, tendo concluído que, de maneira geral, a pessoa dever ter habilidade de avaliar e deliberar; de entender e comunicar informações e possuir valores e metas9. O ser humano adquire a capacidade de se autodeterminar durante a vida e a alcança com o amadurecimento. Há pessoas, no entanto que, por enfermidade, inaptidão mental ou por circunstâncias que restringem intensamente sua capacidade de julgamento e liberdade de escolha, nunca a alcançam ou a perdem total ou parcialmente. O imaturo e o incapacitado demandam proteção até que alcancem o amadurecimento ou enquanto permaneçam incapacitados, sendo que o grau de proteção deverá ser diretamente proporcional ao grau de incapacidade. Sob o aspecto jurídico, o nosso Código Civil (2002), versando em seus Artigos 3o e 4o, sobre a incapacidade das pessoas, distingue-as, classificando-as como: absolutamente incapazes para exercerem pessoalmente os atos da vida civil – os menores de 16 anos; os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos e, os que, mesmo por motivo transitório, não puderem exprimir sua vontade – e, como relativamente incapazes – os maiores de 16 anos e menores de 18 anos; os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo e os pródigos. Os pais detêm o poder familiar, representando os menores impúberes até os 16 anos e assistindo os filhos menores púberes até os 18 anos. O menor – quando órfão ou quando por qualquer motivo legal, os pais tenham decaído do poder familiar – deve ser representado ou assistido por tutor, de preferência um de seus familiares, nomeado por juiz. Cabe ao juiz, também, a nomeação de curador aos incapazes maiores de 18 anos, que os representem ou os assistam, dependendo de seu grau de incapacidade, em todos os atos de sua vida. Sob a Lei Civil, portanto, a pessoa com doença incapacitante é considerada incapaz de gerir sua própria vida e, como tal, sendo maior de 18 anos, deve ser interditada, para que seu curador manifeste sua vontade, dando o consentimento para o tratamento. As normas éticas no campo da medicina, seguindo as declarações e princípios internacionais, contornam as dificuldades surgidas da incapacidade legal do doente, prevendo que um “responsável legal” manifeste sua vontade pelo incapaz. Este “responsável legal” abrange, não só o “representante ou responsável legal”, no conceito jurídico mas, qualquer “parente”. Na prática, portanto, o consentimento do doente incapaz pode ser suprido pelo pai, TEIXEIRA MJ, GUERTZENSTEIN EZ, HAMANI C, VENTURINI L, CALAZANS MEB, MONTENEGRO MC – Cirurgia psiquiátrica para agressividade J Bras Neurocirurg 15(3),105-111, 2004 110 mãe, tutor, curador, cônjuge ou algum familiar próximo. Na falta de qualquer destas pessoas, o Ministério Público pode requerer o suprimento judicial do consentimento. Há que se observar, ainda, que a pessoa a dar o consentimento pelo doente deve ser uma pessoa capaz, – pelos padrões médicos – de emitir a declaração de vontade. Depreende-se do conjunto dos princípios éticos e da análise da legislação brasileira sobre a capacidade da pessoa, que a ética na assistência médica e no tratamento repousa, primordialmente, no respeito à pessoa do doente, em obediência aos seus direitos básicos e fundamentais, como ser humano e passa pela proteção ao incapaz, observado, principalmente, o princípio da beneficência, afastando o risco e visando ao benefício do tratamento. AGRESSIVIDADE Quanto à neurocirurgia para transtorno psíquico da agressividade, o enfoque ético deve ser fundamentado sob o aspecto político, social e, principalmente, o individual20, passando pelos princípios dos direitos humanos. A utilização da neurocirurgia para fins políticos é absolutamente rechaçada em todo o mundo civilizado. O uso da técnica cirúrgica para modificação do comportamento anti-social ou normalmente agressivo, apesar de encontrar alguns defensores, continua sendo inaceitável à maioria das sociedades. Se esta técnica fosse utilizada para tais propósitos, haveria sempre a dúvida de estar sendo utilizada como tratamento para uma doença ou com a intenção de transformar um indivíduo em mais dócil e afável ou, ainda, impingir-lhe um castigo. Se há indicações indesejáveis, há também operações indesejáveis. Neste sentido, também inaceitável é a utilização do tratamento cirúrgico para correção de desvios sociais, tais como ocorre em casos de correção de comportamento sexual agressivo. No aspecto individual, da pessoa do doente, o tratamento neurocirúrgico para o transtorno psíquico da agressividade deve ser enfocado, não só sob o direito da pessoa, como indivíduo, como sob os princípios dos direitos humanos. Todas as pessoas têm direito à vida e, sob o aspecto dos direitos humanos, não a qualquer vida, mas, a uma boa qualidade de vida. Conclusões As cirurgias funcionais para tratamento da agressividade são temas bastante controversos. Há grande inconsistência, no que tange aos critérios adequados de indicação, controle clínico apropriado, investigação de eventos orgânicos responsáveis pelos quadros, assim como a falta de métodos apropriados para avaliar os resultados pós-operatórios são fatores que limitam a análise crítica dos resultados desses procedimentos. A crescente retomada da cirurgia psiquiátrica, nos últimos anos, e os relatos prévios, revelando que os efeitos adversos das cirurgias ablativas são escassos e o desenvolvimento tecnológico atual (estereotaxia, imagens funcionais, computação gráfica, microrregistro, radiofreqüência, neuroestimulação), são elementos que sinalizam que os procedimentos para tratar a agressividade devem desenvolver-se mais no futuro próximo, tornando-se ainda mais seguros e eficazes. Embora na revisão da literatura os críticos aleguem que a neurocirurgia não tenha sido objeto de avaliação científica aceitável e controlada, há que se observar que representa o último recurso, o único existente e possível quando todos os outros falharam, além do que as investigações demonstram ser um tratamento seguro. No entanto, a neurocirurgia é eticamente aceita, desde que seja considerada, primordialmente, a vontade do doente, quando capaz, e, acima de tudo, sua qualidade de vida, quando incapaz de emiti-la. Medicamentos e possíveis tratamentos novos com resultados desejáveis no futuro tornariam a neurocirurgia desnecessária. Enquanto isso não ocorrer, é eticamente inaceitável que o médico discrimine e deixe de utilizar todos os meios disponíveis de tratamento a seu alcance em favor do doente. Assim, em uma dimensão do ser humano, em consideração ao direito da pessoa à vida de boa qualidade, o dilema ético atual não permite continuar submetendo um doente indefinidamente a sofrimento crônico e incapacitante, em nome de objeções estranhas para indicação da neurocirurgia. Uma sociedade sem a disponibilidade da neurocirurgia psiquiátrica, deixando intratáveis algumas de suas mais graves doenças e abandonando pessoas desesperadas, não pode ser eticamente aceitável5. Referências bibliográficas 1. AMARAL D: The Amygdala, Social Behaviour, and Denger Detection. Ann New York Acad Sci 1000:337-47, 2003. 2. BALASUBRAMANIAM V, KANAKA TS: Amygdalotomy and hypothalamotomy - A comparative study Confin Neurol 37:195201, 1975. 3. BINDER DK, ISKANDAR BJ: Modern neurosurgery for psychiatric disorders. Neurosurgery 47:9-23, 2000. 4. BLACK P, UEMATSU S, WALKER AE: Stereotaxic hypothalamotomy for control of violent aggressive behaviour. Confin Neurol 37:187-8, 1975. 5. 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Endreço para correspondência: TEIXEIRA MJ, GUERTZENSTEIN EZ, HAMANI C, VENTURINI L, CALAZANS MEB, MONTENEGRO MC – Cirurgia psiquiátrica para agressividade Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina Rua General Mema Barretto, 756, Jardim Paulistano 01433-011 - Sao Paulo, SP E-mail: manoelj@netway.com.br J Bras Neurocirurg 15(3),105-111, 2004 ARTIGO DE REVISÃO Meningioma da região do forame magno Luis A. B. Borba*,**,***,**** Ricardo M. R. Guimarães** Marlus S. Moro*** Alceu Correia*** Miguel Giudicissi-Filho**** Carlos Vanderley Holanda**** Sinopse Meningiomas do forame magno estão entre os tumores mais difíceis de serem removidos. A abordagem cirúrgica, assim como a extensão da remoção óssea, são pontos de controvérsia. Neste trabalho os autores apresentam sua experiência com o tratamento cirúrgico destes tumores, a forma de abordá-los, baseada na expansão tumoral e no local de origem são os pontos fundamentais que norteiam o planejamento cirúrgico. As manifestações clínicas, assim como a morbidade mais comum relacionada com estes tumores serão apresentadas. Palavras-chave Acesso transcondilar, forame magno, meningioma, tumor cerebral. * Departamento de Neurocirurgia do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba ** Departamento de Neurocirurgia do Hospital Pilar de Curitiba *** Departamento de Neurocirurgia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná **** Departamento de Neurocirurgia da Real e Benemérita Sociedade Beneficência Portuguesa – CENNA, São Paulo BORBA LAB, GUIMARÃES RMR, MORO MS, CORREIA A, GIUDICISSI-F. M, HOLANDA CV – Meningioma da região do forame magno Abstract Foramen Magnum Meningiomas Meningiomas of the foramen magnum region are among the most challenging lesions to be treated. The surgical approach and the extension of bone removal are a very controversies area. The surgical approach must be decided based on the extension of the tumor and on the origin of tumor attachment. The clinical features, the morbidity and choice of the surgical approach are discussed with. Key words Transcondylar, approach foramen magnum, meningioma, surgical approach, Brain neoplasm. Os meningiomas são tumores, geralmente benignos, de crescimento lento, diagnosticados em cerca de 20% dos tumores intracranianos13,15. Meningiomas originados do forame magno são incomuns, sendo diagnosticados em somente 1,8% a 3,2% dos meningiomas intracranianos13,15. Por serem tumores de crescimento lento, a sintomatologia dos meningiomas do forame magno costuma ser inicialmente inexpressiva, levando a diagnóstico tardio4,9. A sua localização J Bras Neurocirurg 15(3), 112-118, 2004 113 e a sensibilidade da região ao manuseio cirúrgico fez com que a abordagem cirúrgica aos meningiomas desta região, principalmente naqueles localizados anteriormente, fosse motivo de grande debate5-7. Neste trabalho, os autores apresentam a filosofia empregada no tratamento dos tumores do forame magno. O planejamento cirúrgico é baseado na extensão da massa tumoral, assim como no seu local de origem. A técnica utilizada é semelhante em todos os casos, variando somente a extensão da ressecção do côndilo occipital e a necessidade ou não de transposição da artéria vertebral. Abordagem cirúrgica Após a indução anestésica, o paciente é entubado, sob fibrobroncoscopia ou com a colocação de sonda nasotraqueal, para evitar a mobilização cervical. O paciente é colocado em posição lateral, com o membro superior contralateral pendente e com um coxim sob a parte superior do tórax. Após, o tórax e o ombro homolateral são rodados anteriormente, no entanto, mantendo o crânio e a coluna cervical paralelos ao solo. A incisão cirúrgica planejada é em forma de “C”, sendo que a extensão superior é paralela ao meato acústico externo, a extensão posterior na linha média e a inferior ao nível da quarta vértebra cervical. O retalho cutâneo é rodado lateralmente, expondo o ventre posterior do músculo esterno-cleidomastoídeo (ECM), esplênio da cabeça, linha nucal superior e ventre superior do trapézio. O ECM é desinserido da mastóide e deslocado anteriormente, o músculo esplênio da cabeça e o elevador da escápula são desinseridos da mastóide e rodados posteriormente. Após este deslocamento muscular, um contingente adiposo é identificado e, inferior a ele, os músculos que formam os triângulos occipitais. O músculo oblíquo superior é desinserido da região occipital e deslocado lateralmente, mantendo sua inserção no processo transverso do atlas, os músculos retos maiores e menores são desinseridos do occipital e deslocados medialmente, o músculo oblíquo inferior é desinserido do processo transverso do atlas e deslocado medialmente. O deslocamento muscular leva à exposição do arco posterior do atlas e da lâmina posterior do axis. A segunda raiz nervosa (C2) é identificada, cruzando inferiormente o músculo oblíquo inferior e seguida lateralmente até cruzar sobre a artéria vertebral no segmento C1-C2. Nenhuma intenção é feita em dissecar e expor a artéria vertebral (AV), a qual é mantida e circundada por um volumoso plexo venoso. A craniectomia da fossa posterior é realizada com abertura do forame magno, desde a linha média. O seio sigmóide, em sua porção mediana e inferior, é totalmente exposto. A remoção homolateral do arco posterior de C1 é realizada. Em casos de extensão inferior, a hemilaminectomia de C2 é realizada. Nesta fase do procedimento, toda a extensão da AV, desde o forame transversarium de C2 até sua entrada no forame magno, pode ser identificada. BORBA LAB, GUIMARÃES RMR, MORO MS, CORREIA A, GIUDICISSI-F. M, HOLANDA CV – Meningioma da região do forame magno A decisão por liberar e rodar lateralmente a AV depende da extensão da massa tumoral e da necessidade de uma exposição mais anterior. Nos casos em que uma exposição anterior é necessária, o forame tranversarium de C1 é aberto, com a utilização de motor de alta rotação e brocas cortantes, até a identificação da cortical contralateral, quando a broca é mudada por uma de diamante, para evitar dano inadvertido da AV. Disseccão subperiostal da AV é feita, deslocando a artéria inferiormente e medialmente, expondo a articulação atlanto-occipital. A remoção do côndilo occipital e da massa lateral de C1 é feita com o motor de alta rotação e brocas cortantes e a quantidade de osso removido depende da morfologia do forame magno. No entanto, raramente é necessária a remoção de mais de um terço do côndilo. A identificação da veia condilar é um bom parâmetro da extensão da remoção. O canal do hipoglosso, geralmente, é localizado na junção do terço médio com o terço posterior, no entanto, e sua exposição leva à grande abertura da articulação, levando à dor cervical pós-operatória. O tubérculo jugular é uma pequena saliência óssea superior ao côndilo occipital, que delimita a parede inferior do forame jugular, a sua remoção facilita a exposição lateral dos pares cranianos e da AV intradural. A abertura da dura-máter, paralela à borda posterior do seio sigmóide, curva-se medialmente em direção ao canal vertebral. Com esta abertura, a AV é deslocada lateralmente sobre o côndilo occipital, expondo a face lateral da junção craniovertebral. O tumor geralmente já é identificado após a abertura da duramáter e sua inserção lateral é coagulada e o tumor removido com a utilização do aspirador ultra-sônico. Esta abordagem propicia que o tumor seja removido no sentido caudal para cranial, e medial aos nervos cranianos baixos. A AV pode ser mobilizada lateral e medialmente, assim como toda a face anterior do forame magno pode ser visualizada. Após remoção da massa tumoral, a dura-máter é fechada de forma hermética e os músculos reinseridos. Atenção especial deve ser dada para evitar espaço morto entre as camadas musculares, evitando coleções intermusculares. Casos ilustrativos CASO 1 Paciente de 34 anos, sexo feminino, com história de seis meses de evolução caracterizada por espasticidade nos quatro membros, evoluindo com tetraparesia severa, no entanto, mantendo a deambulação, e distúrbios esporádicos da deglutição. A RM demonstrava lesão expansiva que captava contraste de forma homogênea, localizada na região do forame magno com implantação na borda anterior, sem implantação no clivo inferior (Figura 1). A paciente foi submetida a tratamento cirúrgico, sendo utilizada a técnica descrita anteriormente, sem a necessidade de remoção do côndilo occipital. A AV foi dissecada entre C2-C1, J Bras Neurocirurg 15(3), 112-118, 2004 114 e o forame magno, no entanto, foi mantida em sua posição anatômica. O plano aracnoidal de clivagem entre o tumor e as estruturas neurovasculares estava presente, facilitando a ressecção tumoral. A TC pós-operatória demonstra a remoção total da massa tumoral (Figura 2). A incisão utilizada, assim como, a preservação da deglutição são demonstradas (Figura 3). CASO 2 Paciente de 56 anos, sexo feminino, com história de dor cervical, com irradiação para a região da nuca. O exame físico e neurológico eram normais. A RM demonstrava lesão expansiva que captava contraste de forma homogênea, localizada na região do forame magno, com implantação na borda anterior, e implantação no clivo inferior (Figura 4). A paciente foi submetida a tratamento cirúrgico, utilizando a técnica descrita anteriormente, sendo que o terço posterior do côndilo occipital foi removido. A artéria vertebral foi dissecada entre C2-C1 e o forame magno, liberada do forame transversarium e deslocada inferior e lateralmente. O plano aracnoidal de clivagem entre o tumor e as estruturas neurovasculares estava preservado. A TC (Figura 5) e a RM (Figura 6) pós-operatória demonstram a re- FIGURA 2 TC (corte axial) demonstrando remoção completa da lesão. FIGURA 3 Fotografia do paciente, demonstrando a incisão cir cirúrgica. moção total da massa tumoral e a remoção do terço posterior do côndilo occipital. A incisão utilizada, assim como, a preservação da função do nervo hipoglosso são demonstradas. FIGURA 1 RM (planos axial e sagital), com injeção de constraste paramagnético, monstrando lesão expansiva do forame magno, com compressão posterior do bulbo e medula cranial. BORBA LAB, GUIMARÃES RMR, MORO MS, CORREIA A, GIUDICISSI-F. M, HOLANDA CV – Meningioma da região do forame magno CASO 3 Paciente de 53 anos com história de nucalgia, quadro clínico compatível com neuralgia occipital. A RM demonstrava um processo expansivo com captação homogênea de contraste ao longo da dura-máter em torno do côndilo occipital e borda anterior do clivo, sem um efeito de massa significativo (Figura 7). A paciente foi submetida a tratamento cirúrgico, com remoção parcial do côndilo occipital, o qual se encontrava infiltrado pela massa tumoral. A dura-máter estava envolvida pelo tumor, caracterizando meningioma em placa. O tumor foi removido parcialmente. A RM pós-operatória demonstra a remoção parcial da lesão (Figura 8). Um seguimento de quatro anos não demonstra sinais de crescimento tumoral. J Bras Neurocirurg 15(3), 112-118, 2004 115 FIGURA 6 RM pós-operatória (corte axial) remoção completa da lesão. FIGURA 4 RM (cortes axiais e sagital) com injeção endovenosa de contrasnte paramagnético demonstrando a lesão. FIGURA 5 TC pós-operatória (corte axial) demonstrando a remoção do terço posterior do côndilo occipital. BORBA LAB, GUIMARÃES RMR, MORO MS, CORREIA A, GIUDICISSI-F. M, HOLANDA CV – Meningioma da região do forame magno FIGURA 7 RM (costes axial e coronal) com injeção de gadolíneo demonstrando o processo expansivo. J Bras Neurocirurg 15(3), 112-118, 2004 116 FIGURA 8 TC pós-operatória (corte axial e coronal) demonstrando a remoção parcial da lesão. CASO 4 Paciente de 38 anos, com história de tetraparesia espástica com hiperreflexia, associada à cervicalgia e episódios de torcicolo. A RM demonstra a massa tumoral na região do forame magno com expansão anterolateral. A paciente foi submetida a tratamento cirúrgico através de abordagem lateral. O côndilo foi parcialmente removido, no entanto, a artéria vertebral não foi mobilizada. A TC e a RM demonstram a remoção da massa tumoral com ressecção parcial do côndilo e massa lateral de C1. Discussão Os MFG são tumores raros, somando cerca de 2% dos meningiomas intracranianos. George definiu os MFG como aqueles que surgem desde o terço inferior do clivo até a margem superior do corpo do axis, lateralmente, desde o tubérculo jugular até a lâmina de C2 e posteriormente, desde a borda anterior da escama occipital até o processo espinhoso de C25,6. BORBA LAB, GUIMARÃES RMR, MORO MS, CORREIA A, GIUDICISSI-F. M, HOLANDA CV – Meningioma da região do forame magno FIGURA 9 RM pós-operatória (cortes sagital, coronal e axial), com injeção endovenosa de contraste mostrando processo expansivo com crescimento ântero-lateral no forame magno. J Bras Neurocirurg 15(3), 112-118, 2004 117 FIGURA 10 TC pós-operatória (corte axial) demonstrando a remoção parcial do côndilo e da massa lateral de C1. FIGURA 11 RM pós-operatória (cortes sagital e axial) demonstrando a remoção do tumor. Os MFG podem ser primários, quando se originam dentro dos limites descritos por George, ou secundários quando se originam fora desses limites e invadem o espaço delimitado. O ligamento denteado divide o forame em anterior e posterior. Os MFG têm localização anterolateral em 70% dos casos, 15% são totalmente anteriores, 10% posterolaterais e 5% originam-se da borda posterior do forame magno4,5,9. O ponto de origem e expansão dos MFG são fundamentais no planejamento cirúrgico, assim como determinam o grau de ressecção do côndilo occipital; no entanto, a sua localização no forame magno não se relaciona com a presença ou não de plano de clivagem “ aracnoidal”, que separa as estruturas neurais da massa tumoral9-12. Os MFG comportam-se conforme a sua origem, isto é, nos tumores que crescem no sentido caudal para cranial o ponto de origem está no forame magno ou inferior a este. Nestes casos, o plano aracnoidal com as estruturas vasculonervosas está preservado, facilitando a remoção da massa tumoral, independentemente da sua expansão. A estes meningiomas denomina-se meningiomas espinoclivais e têm um aspecto cirúrgico compatível com os meningiomas espinhais (Caso 1). Nos casos em que o ponto de origem tumoral é superior ao forame magno, isto é, em nível do clivo, o BORBA LAB, GUIMARÃES RMR, MORO MS, CORREIA A, GIUDICISSI-F. M, HOLANDA CV – Meningioma da região do forame magno plano aracnoidal com as estruturas vasculonervosas podem não ser tão bem-definidos como nos meningiomas com origem inferior, dificultando sua remoção tumoral. Nesta situação, a remoção do côndilo proporciona uma visão lateralizada, sendo fundamental para a ampla exposição da região. A este subtipo denomina-se meningioma clivoespinhal (Caso 2). A apresentação dos MFG costuma ser tardia, mesmo com a ampla utilização da RM, e o tempo médio desde os primeiros sintomas ao diagnóstico é de 30,8 meses5,6,11,13,15. A ampla variedade de estruturas presentes, em nível do forame magno, faz com que a sintomatologia seja muito diversificada, levando a falsos diagnósticos, como esclerose múltipla, esclerose lateral amiotrófica, siringomielia e mielopatia espondilótica cervical. Geralmente, o primeiro sintoma é dor cervical, a qual pode perdurar por longo tempo até que o primeiro sinal neurológico apareça. Sinais de liberação piramidal e espasticidade geralmente são precoces. Disfagia ou atrofia da língua costumam ser sinais tardios. Atrofia do músculo trapézio ou do ECM pode ser sinal precoce e pouco valorizado4,8,13,15. A escolha da abordagem cirúrgica tem sido o ponto de maior controvérsia no manejo dos MFG1,3,14. Muitos autores acreditam que a abordagem suboccipital “convencional” é a melhor opção, devido à facilidade e a familiaridade dos neurocirurgiões com esta técnica. Goel e col.7 recentemente publicaram uma série de 17 casos de MFC anteriores ou anterolaterais, em que a ressecção cirúrgica total foi possível em 82% dos casos. No entanto, os próprios autores referem que os tumores eram grandes e todos tinham uma extensão lateral no forame magno. A chamada abordagem “convencional” de Goel e col.7 nada mais é do que uma abordagem póstero-lateral, sendo o que a diferencia das abordagens laterais são a dissecção muscular e a posição cirúrgica utilizada. Acreditamos que a visão proporcionada pela posição lateral é um dos fatores que ajudam na exposição anterior do forame magno. Como relatado por alguns, na região do forame magno, quanto maior o tumor, mais fácil a sua remoção. Outros autores acreditam que uma abordagem mais lateral é mandatória, assim como, a ressecção do côndilo occipital e a mobilização da artéria vertebral, principalmente nos tumores anteriores ou anterolaterais1,3,10,11. No nosso entender, abordagem lateral é fundamental para que se possa aproximar dos tumores localizados lateral ou anteriormente; no entanto, isto não significa que a ressecção do côndilo occipital e a mobilização da artéria vertebral devam ser realizadas em todos os casos. A necessidade ou não de ressecção do côndilo occipital depende da extensão tumoral, do ponto de origem, assim como do formato do forame magno. Nos casos em que a implantação tumoral é anterior, a ressecção do côndilo occipital proporciona um trajeto mais curto e uma visão direta, principalmente quando o paciente é colocado em decúbito lateral com uma leve flexão contralateral. Nos tumores do tipo crânio-espinhal, em que a implantação é ampla em nível da dura-máter do clivo, a ressecção do côndilo occipital, a craniectomia occipital lateral e a mastoidectomia proporcionam uma visão mais lateralizada, com maior acesso à dura-máter do clivo. J Bras Neurocirurg 15(3), 112-118, 2004 118 Nos MFG do tipo espinocranial, geralmente, a ressecção do côndilo occipital não é necessária, pois o ponto de implantação é baixo e lateralizado, apesar de o crescimento poder ser orientado anteriormente. A preservação do plano aracnoidal facilita a remoção do tumor, o qual pode ser ressecado com liberação das estruturas neurovasculares. Nestes casos, somente o posicionamento do paciente em decúbito lateral proporciona uma visão lateralizada. A extensão anterior pode ser dissecada e liberada sem adesão anterior à dura-máter. A morbidade cirúrgica relacionada aos MFG está diretamente relacionada com a extensão do tumor, assim como, com o estado neurológico do paciente no pré-operatório. A paralisia dos nervos cranianos baixos é a complicação mais temida2,10,11. Nos pacientes que apresentam déficit da deglutição no pré-operatório, o período pós-operatório costuma ser menos conturbado do que naqueles em que novo déficit se desenvolve. Nesta situação, atenção deve ser dada para evitar broncopneumonia aspirativa. Muitas vezes, a presença de novo déficit dos nervos cranianos baixos, no período pós-operatório, pode ser indicativo de traqueostomia. Novos déficits motores são incomuns, a não ser nos pacientes em que o déficit já estava presente no período pré-operatório. Nestes pacientes, acentuação temporária do déficit pode existir, porém, com recuperação no seguimento em curto prazo. Portanto, os MFG são tumores raros, de difícil diagnóstico e tratamento complexo, porém, a perfeita avaliação da extensão tumoral, assim como, o seu provável ponto de origem, são fundamentais no planejamento cirúrgico e estão diretamente relacionados com o grau de morbidade pós-operatória. Referencias bibliográficas 1. ARNAUTOVIC KI, AL-MEFTY O, PAIT TG, KRISHT AF, HUSAIN MM: The suboccipital cavernous sinus. J Neurosurg 86:252-62, 1997. 2. ARNAUTOVIC KI, AL-MEFTY O, HUSAIN M: Ventral foramen magnum. J Neurosurg 92(Suppl 1):71-80, 2000. 3. BABU RP, SEKHAR LN, WRIGHT DC: Extreme lateral transcondylar approach: technical improvement and lessons learned. J Neurosurg 81:49-59, 1994. BORBA LAB, GUIMARÃES RMR, MORO MS, CORREIA A, GIUDICISSI-F. M, HOLANDA CV – Meningioma da região do forame magno 4. BOULTON MR, CUSIMANO MD: Foramen magnum meningiomas: concepts, classifications, and nuances. Neurosurg Focus 14:10, 2003. 5. GEORGE B: Meningiomas of the foramen magnum. 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Endereço para Correspondência: Luis A B Borba Rua Julia da Costa 1471/11 80730-070 – Curitiba – PR E-mail: LuisABBorba@aol.com J Bras Neurocirurg 15(3), 112-118, 2004 RELATO DE CASO Pseudotumores cerebrais por paracoccidioidomicose Luiz Alexandre Invernici* Mauro Roberto de Buone** Adriano Rieger*** Nadia A Lorencette**** Resumo O presente estudo relata o caso de um paciente com múltiplas lesões cerebrais circundadas por edema vasogênico, definido após biopsia neurocirúrgica como paracoccidioidomicose. Em função da cronicidade da afecção e do tempo considerável dos sintomas, mesmo utilizando os meios terapêuticos atuais, não houve resposta satisfatória após a invasão micótica do tecido nervoso. Em tais situações, sugerimos que pacientes com lesões granulomatosas micóticas cerebrais sejam submetidos a tratamento cirúrgico. Palavras-chave Sistema nervoso central, paracoccidioidomicose, neuromicoses, granulomas micóticos cerebrais, pseudotumor cerebral. Abstract Pseudocerebral tumor due to Paracoccidioidomycosis A patient presenting with multiple cerebral lesions surrounded by edema is presented; after a neurosurgical biopsy, Paracoccidioidomycosis was diagnosed The chronic evolution and the considerable time for the presentation of symptoms is stressed, eventhough all current therapeutic assessment was used. There was no satisfactory answer for the treatment to the CNS mycotic * ** *** **** Neurocirugião do Hospital Universitário Santa Terezinha - HUST. Neurologista clinico HUST. Pneumoloista do HUST. Patologista do HUST. compromise, suggesting that surgical removal or biopsy of cerebral mycotic granulomatous lesions should be done. Key words Central nervous system, paracoccidioidomycosis, neuromycosis, cerebral mycotic granulomatous lesions, cerebral pseudotumor. Introdução O sistema nervoso pode ser lesado por inúmeras variedades de fungos que determinam quadros anatomoclínicos graves e variados. Entre esses, estão as neuromicoses que, na maioria das vezes, são secundárias a processos alhures situados5. Entre as micoses do sistema nervoso central (SNC) está a paracoccidioidomicose (PCM). A primeira referência da PCM foi descrita em 1908 pelo pesquisador brasileiro Adolfo Lutz13 e a descrição na literatura da localização da PCM no SNC, comprovada pela histologia de Maffei que, em 1943, relatou o caso em homem de 45 anos11. A PCM, também conhecida por blastomicose sul-americana2, granuloma ganglionar maligno de origem blastomicética, granuloma paracoccidióico, granumatulose paracocciódica, hifoblastomicose ou granulomatose blastomicóide tropical, é uma infecção fúngica causada pelo Paracoccidioides brasiliensis, em condição sistêmica, com prevalência na América Latina. A PCM é uma doença endêmica no Brasil, Argentina, Venezuela e Colômbia1,3,10,11. A PCM afeta o SNC em cerca de 10% dos casos, geralmente, associada ao comprometimento com outros órgãos6, na maioria das vezes, integrando o quadro clínico da forma disseminada da parasitose, de modo especial na forma linfático-tegumentar e/ou INVERNICI LA, BUONE MR, RIEGER A, LORENCETTE NA – Pseudotumores cerebrais por paracoccidioidomicose J Bras Neurocirurg 15(3), 119-122, 2004 120 pulmonar e muito raramente tem sido descrita isoladamente11. Alguns estudos chamam a atenção para o fato de, mesmo nas formas generalizadas da moléstia, não existirem lesões neurológicas freqüentes, sugerindo certo grau de resistência do tecido nervoso ao parasita14. A apresentação da PCM pode ocorrer sob duas formas: (1) meníngea, com inflamação da leptomeninge, com predominância na base do crânio, originando uma leptomeningite similar à tuberculosa; e (2) granulomatosa, ou pseudotumoral, apresentada por granulomas intraparenquimatosos, únicos ou múltiplos, com localização supratentorial3,4,6. A PCM na forma meníngea é muito rara, sendo encontrados na literatura brasileira apenas 16 casos desde 1943, data da primeira descrição, até 20026. A sintomatologia das infecções micóticas é semelhante às neoplasias e abscessos encefálicos de outra natureza, sendo que a localização topográfica dependerá da distribuição, número e extensão das lesões. Apresentação do caso Paciente MRS, nascida em 30.07.1965, branca, proveniente de zona rural, pertencente ao município de Erval Velho (SC), que deu entrada no setor de emergência, no Hospital Universitário Santa Terezinha (HUST), em Joaçaba (SC), sob o número 20882-01, por apresentar síndrome de hipertensão intracraniana e rigidez de nuca. Ao exame clínico apresentou-se desnutrida, pressão arterial estável, mancha esbranquiçada em gengiva, lesão de pele ulcerada em glúteo direito, dispnéia e sem deambular. Exame neurológico: sonolenta, respondendo a ordens verbais, pupilas isocóricas, fotorreagentes; fundo de olho: edema de papila bilateral, hemiparesia com predomínio braquial e sinal de Babinski à esquerda. Encontrava-se em tratamento empírico para tuberculose pulmonar, por apresentar alterações radiológicas sugestivas de doença granulomatosa (cavitação e retração fibrotelectásicas apicais, bilateralmente). A tomografia de encéfalo (TC) apresentou áreas hipodensas no hemisfério cerebral direito, cerebelo e tálamo esquerdo, com discreto halo hiperdenso após injeção de contraste. Em regime hospitalar, a rotina laboratorial sangüínea, incluindo toxoplasmose, lues e HIV, não demonstrou alterações. O escarro foi negativo para fungos e tuberculose. A punção lombar mostrou líquor límpido, normotenso, com 1.900 células (polimorfonucleares 81%), proteínas 57,9 mg/ml, sendo negativas à bacterioscopia e à cultura. A ressonância magnética de encéfalo (RM) apresentou múltiplas lesões cerebrais circundadas por edema vasogênico, com impregnação anelar nos lobos temporal, parietal direito, cerebelo e com halo hiperintenso no tálamo esquerdo após contraste (Figuras 1a e b). A fibrobroncoscopia com lavado broncoalveolar não apresentou agente infeccioso. A ultra-sonografia abdominal foi considerada normal. Em 14.10.2004, foi submetida a procedimento neurocirúrgico, com craniotomia temporoparietal direita e biópsia transoperatória. O exame de congelação mostrou Paracoccidioides FIGURAS 1A E B RM demonstra múltiplas lesões cerebrais circundadas por edema vasogênico, com impregnação anelar nos lobos temporal, parietal direito, cerebelo e com halo hiperintenso no tálamo esquerdo, após contraste. brasilienses (Figuras 2a e b), sendo iniciada a terapêutica com anfotericina B, em dose máxima diária de 50 mg ao dia e itraconazol 200 mg ao dia. Durante o pós-operatório apresentou crise convulsiva, sendo hidantalizada. A pesquisa da imunodifusão para histoplasma, aspergilus e paracoccidioides foi negativa. No 35o dia, foi suspensa a medicação antifúngica, devido a alterações hepáticas e à insuficiência renal aguda, reiniciandose após o itraconazol. A anfotericina B atingiu 1.875 mg na totalidade administrada. Durante o internamento, apresentou pneumonia no lobo superior esquerdo, tratada com ceftriaxone, obtendo boa resposta. Na biópsia da lesão ulcerada de pele, encontrou-se também PB. Evolutivamente, manteve-se deambulando com eventual cefaléia ou dor epigástrica. Em 06.12.2004, foi realizada nova punção lombar, sendo normal o líquor. A RM de controle não modificou os achados anteriores, exceto diminuição da reação inflamatória circundando as lesões. Considerando-se que a terapêutica antifúngica empregada apresentou resposta insatisfatória, foi iniciado tratamento com sulfametoxazol e trimetropim nas dosagens de 1.000 mg e 540 mg ao dia, sendo a paciente liberada para controle ambulatorial. INVERNICI LA, BUONE MR, RIEGER A, LORENCETTE NA – Pseudotumores cerebrais por paracoccidioidomicose J Bras Neurocirurg 15(3), 119-122, 2004 121 FIGURAS 2A E B Exame de congelação mostrou Paracoccidioides brasilienses. Discussão O presente relato assemelha-se à maioria dos casos encontrados na literatura, especialmente quanto à forma da apresentação clínica e a dificuldade diagnóstica. Um dos aspectos evidenciados nos estudos e relatos de PCM é que é encontrada principalmente em adultos, do sexo masculino4, com atividades ligadas à agricultura ou outras funções rurais e habitantes de áreas com riachos, córregos e serras3,13. No exame histológico, a PCM é caracterizada por células arredondadas com dupla capa birrefrigerante8, um fungo dimórfico, com aspectos epidemiológicos não bem compreendidos, em função da dificuldade de encontrá-lo na natureza13. Nosso caso, apesar de ser do sexo feminino, é adulta e habita em área rural, exercendo atividades ligadas à agricultura, características habitualmente encontradas em pacientes com PCM. Assim como o caso estudado, a grande maioria dos relatos publicados indica que o quadro clínico do paciente apresenta-se, inicialmente, através de fenômenos respiratórios, com comprometimento extenso e grave do aparelho respiratório, além de lesões ulcerativas da cavidade bucal2,3. Quando o paciente apresenta afecção pulmonar, a radiografia do tórax mostra lesões nodulares múltiplas, indicando que a PCM disseminada pode causar alterações hematológicas que dependem do grau e órgão comprometido1. A paciente, inicialmente, estava em tratamento empírico para tuberculose pulmonar, quando na realidade, a sintomatologia poderia estar associada à PCM. Vários estudos relatam a associação da PCM e tuberculose13. Nos serviços de tuberculose, ocorrem as maiores prevalências desta associação, onde 35% dos casos de PCM apresentam tuberculose associada12. Em um estudo de 306 casos, foi observado que a maioria destes apresentaram localização primitiva na cavidade oral e as lesões secundárias apresentavam-se com maior freqüência nos pulmões7. Há casos em que a lesão atinge os ossos, sendo em geral líticas, com bordas nítidas ou irregulares, sem esclerose marginal e com tendência à distribuição simétrica, acometendo mais freqüentemente a caixa torácica, especialmente costelas, clavículas e escápulas8. As lesões ulceradas na pele são outra característica encontrada na paciente e observada em muitos casos de PCM. Machado-Filho e Miranda7, em seu estudo, observam que essas lesões apresentam-se, em geral, sob a forma de ulcerações rasas, de bordas irregulares e de tamanhos variáveis, sendo que a maior freqüência é de lesões úlcero-crostosas elevadas, com contorno arredondado, distribuição às vezes, simétrica, situando-se em regiões diversas, porém, com predominância na face. Outro aspecto enfatizado por Del Negro e col.2, e observado no paciente em estudo, é o aspecto neurológico das neuromicoses que podem apresentar-se em forma de granuloma encéfalo-medular circunscrito, localizado, que aparece como um tumor, quisto, abscesso ou goma. Essa é uma das modalidades de apresentação das neuromicoses que podem vir também, sob forma de meningite, meningo-encefalite crônica ou sob a forma combinada de granuloma medular. Estudos revelam que raramente a PCM acomete o SNC6,10,13, sendo a invasão das estruturas nervosas pela PCM secundária, a partir das lesões primitivas, localizadas geralmente na mucosa buco-faríngea, os parasitas ganham a via linfo-hematogênica e invadem o SNC14. O exame neurológico detalhado é essencial10 e obrigatório11 em todos os pacientes com suspeita de PCM, considerando-se a gravidade da afecção e a possibilidade de um tratamento precoce, que possa evitar o surgimento de seqüelas incapacitantes. Importante enfatizar que o diagnóstico diferencial das lesões determinadas pelo PCM no SNC deve ser estabelecido com outros processos granulomatosos micóticos ou bacterianos. Nada existe de específico no infiltrado inflamatório desse processo que permita sua individualização, somente o encontro do parasita é que autoriza o diagnóstico etiológico do processo13, que inclui o diferencial com abscesso cerebral, gliomas ou tumores metastáticos14. Algumas séries clínicas têm demonstrado que o envolvimento cerebelar é, também, relativamente freqüente, manifestando-se, principalmente, por distúrbios da marcha, tonturas, náuseas, vômitos e diplopia14. As manifestações neurológicas dependem da localização das lesões, destacando-se os sinais de hipertensão intracraniana (vômitos, cefaléia, papiledema), hemiplegia ou hemiparesia, paralisia de nervos cranianos, convulsões, distúrbios da consciência e humor. A possibilidade de envolvimento INVERNICI LA, BUONE MR, RIEGER A, LORENCETTE NA – Pseudotumores cerebrais por paracoccidioidomicose J Bras Neurocirurg 15(3), 119-122, 2004 122 assintomático é real e sustentado por estudos de autópsia que demonstram prevalência de 10% a 36%14. Granulomas cerebrais micóticos são de localização supratentorial, podendo acometer também o cerebelo, tronco encefálico e mais raramente a medula espinhal1, a apresentação em forma de nódulos reduzidos e afastados do córtex dificulta o diagnóstico positivo através do eletroencefalograma e da angiografia carotídea2. Os métodos neuro-radiológicos de imagem, TC e RM são essenciais na demonstração do envolvimento neurológico da PCM, especialmente na forma granulomatosa9.15. Nos estudos de cinco casos de PCM, Magalhães e col.9 observaram que as lesões intracerebrais podem ser tanto supratentoriais, mais comuns, como infratentoriais, não havendo, portanto, nessa característica da doença, singularidade, demonstrando sua variação de acometimento. Nos casos de confirmação da infecção por Paracoccidioides, a necessidade de atuação do neurocirurgião torna-se evidente, conforme enfatizam Del Negro e col.2, especialmente quando as condições topográficas ou evolutivas da lesão exijam solução urgente. No caso em estudo, o tratamento empírico para tuberculose pulmonar já vinha sendo realizado há tempo significativo e a evolução da Paracoccidioides evidenciou-se, ainda mais, quando da realização da RM, que revelou a existência de múltiplas lesões cerebrais circundadas por edema vasogênico, com impregnação anelar nos lobos temporal, parietal direito, cerebelo e com halo hiperdenso no tálamo esquerdo após contraste. Estudos anatomopatológicos, laboratoriais e neuro-radiológicos têm demonstrado o acometimento do SNC em pacientes sem manifestações clínicas, indicando a necessidade de investigação neurológica em todos os portadores de PCM6. Em face de quadros neurológicos sem etiologia clara, é indispensável que se pense em PCM, mesmo quando a epidemiologia em nada favoreça, nem haja evidência de porta-de-entrada do microorganismo11. Todas essas investigações e procedimentos diagnósticos são essenciais devido à variedade dos sintomas. Magalhães e col.9 enfatizam que a forma granulomatosa pode apresentar diferentes sinais e sintomas, principalmente hipertensão intracraniana, convulsões, déficits motores ou sensoriais, ataxia cerebelar, afasia e outros. Na forma clássica, o tratamento tem-se restrito ao uso de sulfa ou anfotericina B e, mais recentemente, aos derivados imidazólicos10. Em estudo de 422 prontuários médicos, no período de janeiro a agosto de 1999, Paniago13 observou que cerca de 90,3% dos casos foram tratados com a associação de sulfametoxazol e trimetropim, de acordo com o tratamento final ministrado à paciente. Considerações finais O caso em estudo revelou a dificuldade em se obter o diagnóstico definitivo desta afecção, que somente foi comprovada após biópsia neurocirúrgica. A PCM é uma afecção que exige ainda muito estudo, para que possam ser efetivadas terapêuticas mais eficazes, pois a variação dos sintomas, dos sinais e das conseqüências é elevada, podendo levar à incapacitação do paciente. A necessidade de diagnóstico precoce fará com que os resultados terapêuticos tragam efeitos mais promissores, em função das características diversas da patologia, entretanto, sugere-se que a exérese cerebral seja realizada após sua identificação, considerando-se a área abrangente. Referências bibliográficas 1. DEL BRUTTO OH: Infecciones micóticas del sistema nervioso central. Rev Neurol 30:447-59, 2000. 2. DEL NEGRO G, MELO E ALBUQUERQUE FJ, CAMPOS EP: Localização nervosa da blastomicose sul-americana. Rev Hosp Clín Fac Med S Paulo 9:64-80, 1954. 3. 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RODACKI MA, DE TONI G, BORBA LA, OLIVEIRA GG: Paracoccidioidomycosis of the central nervous system: CT findings. Neuroradiology 37:636-41,1995. Endereço para correspondência: Luiz Alexandre Invernici Caixa Postal 161 89600-000 – Joaçaba – SC Email: invernici@jov.com.br Fone: (49) 522-2059 INVERNICI LA, BUONE MR, RIEGER A, LORENCETTE NA – Pseudotumores cerebrais por paracoccidioidomicose J Bras Neurocirurg 15(3), 119-122, 2004 CARTA AO EDITOR Análise técnica do artigo “Uma avaliação sobre a problemática dos clipes de aneurismas no Brasil” Victor G. Cademartori* Horácio A. Vielmo** No último número do periódico Jornal Brasileiro de Neurocirurgia (Volume 15, No 2, 41-52, Maio/Agosto 2004) foi publicado o artigo “Uma avaliação sobre a problemática dos clipes de aneurismas no Brasil”, Maset A, Veiga JC e Saade N. Entende-se que o artigo contém erros metodológicos importantes e conclusões incorretas, o que atinge a Vicca Equipamentos Biomédicos, fabricante nacional de clipes para aneurismas, além de toda a comunidade médica brasileira. Por esse motivo, solicita-se ao Editor do JBN, Dr. Ápio Antunes, em resposta, a publicação da presente análise técnica. Análise da metodologia empregada Na página 43, os autores afirmam ter efetuado diversas medições na força de fechamento de clipes nacionais, tendo sido escolhidos dois clipes da marca “C” (estrangeiros) como referência. Segundo o texto, “A cada medida do clipe nacional que gerasse dúvidas, o clipe era retirado, observava-se se o dinamômetro retornava para zero e mensurava-se a pressão do clipe da marca “C”. Esse procedimento ocorreu 19 vezes ao longo dos meses de obtenção de dados(...)”. * Engenheiro da Vicca Equipamentos Biomédicos Ltda. ** Professor Doutor do Departamento de Engenharia Mecânica Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A referência da medição deve ser o próprio instrumento empregado e não clipes de referência. Todos os clipes sofrem alteração na sua força de fechamento, inclusive, após a sua primeira abertura, conforme previsto na norma ISO 9713, o que torna impossível sua utilização como padrão de comparação, principalmente na força de fechamento, o parâmetro em estudo. Portanto, o método empregado pelos autores é incorreto e levanta dúvida sobre a sua confiabilidade e seu equipamento (adaptado e calibrado por empresa certificadora reconhecida pelo Inmetro) ou nas aferições que realizaram. Como se não fosse o bastante, torna-se evidente no texto que os clipes escolhidos como referência, do fabricante “C”, foram reprovados para uso, de acordo com os próprios critérios dos autores e, ao que parece, os mesmos não se deram conta disso. Explicando melhor: um deles, o TK 25138-00, conforme a figura 2 (pg. 44) apresentou uma diferença de aproximadamente 48% entre o valor estipulado no rótulo e o medido pelos autores. Conforme a Norma ISO 9713, este valor deveria ser de no máximo 7,5% na primeira abertura e 5% nas dez subseqüentes. Seguindo a análise dos dados apresentados, ainda segundo a figura 2 (pg. 44), e assumindo-se que FFR = FFN, o modelo TK 25104-00 já na sua sétima abertura apresentou decréscimo na força de fechamento superior a 5%. Conforme mencionado acima, essa redução deveria ser menor do que 5% após a décima abertura. Os clipes do fabricante “D” são facilmente identificados como sendo da marca Aesculap®, devido aos seus códigos. Segundo os autores, os mesmos estavam lacrados em sua embalagem original estéril e foram mensurados uma única vez. Confrontando as informações do fabricante e as medições realizadas pelos autores, observa-se as seguintes forças de fechamento: CADEMARTORI VG, VIELMO HA – Análise técnica do artigo “Uma avaliação sobre a problemática dos clipes de aneurismas no Brasil” J Bras Neurocirurg 15(3), 123-125, 2004 124 CÓDIGO AESCULAP® “D” FFR INFORMAÇÕES DE CATÁLOGO AESCULAP® MEDIÇÕES DOS AUTORES DIFERENÇAS ENTRE AS MEDIÇÕES 1 E 2 FT716-T FT750-T FT710-T 103gf 187gf 110gf 110gf 180gf 110gf 123gf 212gf 89gf +20gf (+19,4%) +25gf (+13,4%) -21gf (-19,1%) O item 8.2 da norma ISO 9713 especifica que na primeira abertura a degradação máxima deve ser de 7,5%, relativamente à força nominal de fechamento. Sendo assim, segundo as medidas realizadas pelos autores, os três clipes apresentados estão reprovados para uso. Esta conclusão é muito significativa, já que os clipes Aesculap® têm sido utilizados durante muitos anos pela classe médica brasileira como modelo de qualidade. O fato de todos os clipes importados utilizados como referência terem sido reprovados pelos autores não foi mencionado no texto, e por si só já invalidaria as conclusões do trabalho. Nesse ponto, torna-se importante responder a algumas perguntas: teriam os fabricantes “C” e “D”, este último identificado como Aesculap®, cometido erros em todos os seus rótulos e apresentado informações que ferem a legislação internacional? Ou será que o sistema de medição empregado pelos autores não é adequado para um trabalho desta magnitude? Que grau de confiabilidade pode-se atribuir às medições efetuadas? É possível efetuar uma avaliação indireta do padrão técnico do presente artigo pela grosseira confusão conceitual entre pressão e força, realizada pelos autores (vide figuras 2 e 6, por exemplo). Em outro ponto do trabalho, os autores referem-se a “níveis pressóricos”, quando provavelmente queriam referir-se a níveis de tensão [N/m2 = Pa]. Outra falha técnica importante reside no fato dos autores não definirem lotes diferenciados de testes, o que reduziria o número de variáveis, trabalhando com uma mistura de modelos e tipos. Os diagramas mostrados nas figuras 10A, 10C e 10D tornam evidente uma acentuada falta de correlação nos dados, inviabilizando conclusões confiáveis. Comentários sobre as conclusões Embora a iniciativa seja válida, os diversos erros metodológicos que o artigo apresenta invalidam as conclusões apresentadas. No entanto, considera-se importante comentar alguns aspectos da questão: 1. O referido trabalho mostra que os clipes importados não apresentaram desempenho significativamente superior aos nacionais; 2. A norma ISO 9713 é o resultado do trabalho de aproximadamente 40 anos de engenheiros, médicos, técnicos e outros, com extenso conhecimento de materiais e suas aplicações na área médica. Esse conhecimento acumulado, acrescido à necessidade do uso de novas matérias primas compaCADEMARTORI VG, VIELMO HA – Análise técnica do artigo “Uma avaliação sobre a problemática dos clipes de aneurismas no Brasil” tíveis com ressonância magnética, e também da criação de diferentes e novos modelos de clipes, exigiram um padrão internacional para a sua fabricação e uso. A norma ISO 9713 visou, em suas diretrizes a segurança do médico e do paciente, estabelecendo propriedades magnéticas, geometria, métodos de medição da força de fechamento, documentação e embalagem dos clipes de aneurisma. Com base nessa significativa experiência acumulada, a norma ISO 9713 estabelece os procedimentos mais adequados para fabricação e apresentação dos clipes para tratamento de aneurismas intracranianos. O descarte do clipe, preconizado por essa norma após uma única abertura, é um padrão de garantia internacional, adotado pelos grandes fabricantes mundiais, tais como Aesculap®, Elekta®, Mizuho®, Dewimed® e Codman®. Isso porque somente um clipe retirado de sua embalagem original é garantido pela fábrica. Clipes de aneurisma são produtos de uso único, frágeis e que requerem extremo cuidado em sua manipulação. Como poderia o neurocirurgião garantir os resultados da aplicação de um clipe fora da embalagem original, apresentado em um kit que já tenha sido manipulado por outros neurocirurgiões, ou pelo próprio, em cirurgias anteriores? Assumirá o hospital, no qual o neurocirurgião exerce a sua atividade profissional, esta responsabilidade? Re-enfatizando a importância dessa medida contida na norma ISO 9713, existe a normatização da ASTM 700-93 (reaprovada em 2002), que proíbe o reprocessamento de clipes que tenham sido utilizados em procedimentos onde tenham entrado em contato com fluídos corporais. É muito improvável que alguma entidade atuante na área médica, tal como a ANVISA, ABNT ou outras, venha a levar em consideração a “realidade social”, e passar a aceitar o reprocessamento de clipes nos moldes propostos. A garantia de um produto é fornecida pelo fabricante do mesmo, sendo ele conhecedor das características físico–químicas de seus produtos, e seguindo as exigências de Boas Práticas de Fabricação ANVISA; 3. Em nenhum momento a norma ISO 9713 determina níveis de força de fechamento de clipes de aneurisma. Determina apenas, na sua parte introdutória, que a força determinada pelos fabricantes para seus clipes devam ser informadas, alertando que a mesma se modifica já na primeira abertura; 4. Entende-se que um período de oito meses seja extremamente longo para a avaliação de clipes de aneurisma em bloco cirúrgico. Os principais eventos que resultam em danos nos clipes de aneurisma manuseados por longo tempo são a não observância da necessidade de uma abertura lenta dos clipes. J Bras Neurocirurg 15(3), 123-125, 2004 125 Associado a isto está a utilização de aplicadores danificados por impactos, que venham a alterar suas características dimensionais, especialmente no seu cabeçote. Esses fatos corroboram a exatidão dos fabricantes internacionais, quando garantem as características do clipe até uma única abertura; 5. Do ponto de vista da engenharia, entende-se que fabricação parcial artesanal não significa fabricação inadequada ou baixa tecnologia. Variações geométricas são encontradas em clipes de fabricantes internacionais e cabe aos mesmos, em seu controle de qualidade, reprovar as que estiverem fora de suas especificações. Quando uma empresa recebe o Certificado de Boas Práticas de Fabricação, significa que a mesma apresentou processos produtivos e de comercialização adequados aos estabelecidos pela ANVISA. Isso assegura que a empresa foi vistoriada por técnicos dessa Agência, que fiscalizaram e aprovaram todos os procedimentos de fabricação, conferindo cada etapa da mesma, não apenas na sua forma física, mas também na sua forma documental. Nessa vistoria os técnicos verificam se todos os instrumentos e processos estão devidamente validados, fiscalizados e certificados, por empresa devidamente nomeada pela Rede Metrológica Nacional – Inmetro – ABNT. Verificam ainda, se na documentação legal, está registrada toda a rastreabilidade do processo produtivo, sendo enfatizados os métodos e equipamentos utilizados para a medição das condições do produto, dentre elas, a força de fechamentos dos clipes; 6. Os autores afirmam ainda que não existe Norma de Fabricação ou Controle de Qualidade de Clipes de Aneurisma e outros Implantes no Brasil. Entretanto, esta Norma é a própria ISO 9713, aprovada no Brasil em votação. Além disso, existem os controles exercidos pela ANVISA em empresas com Certificado de Boas Práticas de Fabricação. Cachoeirinha (RS), 28 de junho de 2005. Bibliografia 1. ASTM International Designation: F 700 – 93. Standard Practice for Care and Handling of Intracranial Aneurysm Clips and Instruments, USA, Reapproved 2002. 2. Cademartori V: Neuroclipe Vicca®. A história de um clipe brasileiro para tratamento de aneurismas intracranianos. Arq Bras Neurocirur 23:40-4, 2004. 3. ISO/FDIS 9713: Neurosurgical Implants – Self-closing intracranial aneurysm clips, International Standard, www.iso.ch, 2001. 4. Steiger HJ, van Loon JJL: Virtues and drawbacks of titanium alloy aneurysm clips. Acta Neurochirurgica 72:81-8, 1999. 5. Wichmann W, Ammon K: Aneurysm clips made of titanium: Magnetic characteristics and artifacts in MR. Am J Neuroradiol 18:939-44, 1997. CADEMARTORI VG, VIELMO HA – Análise técnica do artigo “Uma avaliação sobre a problemática dos clipes de aneurismas no Brasil” J Bras Neurocirurg 15(3), 123-125, 2004 EVENTOS CIENTÍFICOS XXV Congresso Brasileiro de Neurocirurgia 04/09 – 09/09/2004 Centro de Convenções de Goiânia Goiânia, GO Fone: (0xx62) 281-1344 – Script Assessoria de Eventos Fax: (0xx62) 245-1808 End. eletrônico: www.sbn.com.br/xxvcbn Avanços em Neuroendocrinologia Clínica e Cirúrgica 06/10 – 09/10/2004 Serviços de Endocrinologia e Neurocirurgia do Hospital Brigadeiro – SUS e Centro de Convenções do Hotel Pestana São Paulo, SP Tel / Fax: (0xx) 11 – 38463272 / 38463273 End. eletrônico: acukiert@uol.com.br 54th Annual Meeting – Congress of Neurological Surgeons 16/10 – 21/10/2004 San Francisco Convention Center San Francisco, Califórnia, EUA Fax: (00xx1) 847 240-0804 (CNS) End. eletrônico: info@spine.org XXXI Congresso Latinoamericano de Neurocirurgia 24/10 – 29/10/2004 Hotel El Panama Panamá, República do Panamá Fone: (00xx507) 229-3219/263-2810 Fax: (00xx507) 229-3219/253-2812 End. eletrônico: garanda@sinfo.net www.spnn.com.pa www.clan2004panama.com 4th International Skull Base Congress 31/10 – 05/11/2004 Sydney Convention & Exhibition Center Darling Harbour Sydney, Austrália Fone: (00xx1) 301 654-3967 Fax: (00xx1) 301 718-8692 End. eletronico: lawleong@juno.com Eventos científicos I Curso de Ciências Básicas em Neurocirurgia 17/11 – 21/11/2004 Auditório da Faculdade de Medicina da Fundação Educacional da Serra dos Órgãos – FESO Teresópolis, RJ Tel. (0xx) 11 – 30516075 - SBN End. eletrônico: www.sbn.com.br secretariapermanente@sbn.com.br Congresso da Sociedade de Neurocirurgia de São Paulo – Neurão – SONESP 10/03 – 13/03/2005 Centro de Convenções Rebouças São Paulo, SP Fone/Fax: (0xx11) 5083-6119 End. eletrônico: http://www.sonesp.com.br neurocirurgia_sp@superig.com.br VI Congress of the South Cone Society of Neurological Surgeons II Joint Meeting Scienze Neurologiche Ospedaliere with Società Italiana di Neurochirurgia 28/03 – 31/03/2005 Hotel Panamericano Bariloche, Patagonia, Argentina Tel. (00xx) (54-11) 49518139 Fax: (00xx) (54-11) 49524501 End. eletrônico: conosur@bayfem.com.ar www.bayfem.com.ar 3º Congresso Gaúcho de Neurologia e Neurocirurgia 31/03 – 03/04/2005 Bento Gonçalves, RS Fone: (0xx51) 3028-3878 Fax: (0xx51) 3028-3879 End. Eletrônico: Contato2ccmeventos.com.br www.ccmeventos.com.br III Congresso de Cirurgia Espinhal de São Paulo V Jornada de Cirurgia Espinhal 01/04 – 02/04/2005 Maksoud Plaza, São Paulo, SP Fone/Fax: (0xx11) 3341-2980 / 3207-8241 / 3207-6729 End. Eletrônico: secretaria@cirurgiaespinhal.com.br J Bras Neurocirurg 15(3), 126-128, 2004 127 North American Skull Base Society – 16th Annual Meeting 07/04 – 10/04/2005 Toronto, ON, Canadá End. Eletrônico: www.nasbs.org Annual Meeting – American Association of Neurological Surgeons 16/04 – 21/04/2005 New Orleans Convention Center New Orleans, Louisiana, EUA Fax: (00xx) 1 - 37800600 – AANS End. eletrônico: www.aans.org VI Congresso Brasileiro de Neurocirurgia Pediátrica 20/04 – 23/04/2005 Associação Médica de Minas Gerais Belo Horizonte, MG Fone: (0xx31) 3273-1121 A Congress Ltda Fax: (0xx31) 3273-4770 End. Eletrônico: eventos@congresseventos.tur.br Endoscopic Pituitary Surgery 5th International Hands – On Workshop 06/05 – 07/05/2005 Naples, Italy End. Eletrônico: www.neurosurgery.unina.it Congresso Interdisciplinar de Dor da USP – 2005 12/05 – 14/05/2005 Centro de Convenções Rebouças São Paulo, SP Fone/Fax: (0xx11) 6146-0314 End. Eletrônico: bleventos@uol.com.br www.blcongressoseventos.com.br XII Jornada da Sociedade de Neurocirurgia do Rio de Janeiro 1º Encontro dos Residentes de Neurocirurgia do Estado do Rio de Janeiro 19/05 – 22/05/2005 Hotel Portobello Resort & Safári Mangaratiba, RJ Fone/Fax: (0xx21) 22521416 End. Eletrônico: michelle@animaeventos.com.br 57th Annual Congress of the Scandinavian Neurosurgical Society 02/06 – 05/06/2005 Oslo, Noruega End. Eletrônico: www.uus.no/sns2005 The 13th World Congress of Neurological Surgery 19/6 – 24/06/2005 Palais des Congrés Marrakesh, Marrocos Fone: (00xx) 212 37 775648/775706 Fax: (00xx) 212 37 770212 End. eletrônico: fh2nch@iam.net.ma www.marrakesh.2005.org XI Congresso da Sociedade Nordestina de Neurocirurgia 28/07 – 30/07/2005 Rio Poty Hotel São Luis, MA Fone/Fax: (0xx98) 3213-6350 End. Eletrônico: www.snnc.com.br World Spine III 31/07 – 03/08/2005 Hotel Intercontinental Rio de Janeiro, RJ End. eletrônico: sbnsecgeral@superig.com.br www.worldspine.org Eventos científicos Simpósio Neurovascular Internacional Capitulo Vascular da Federação Latinoamericana de Neurocirurgia 05/08 – 06/08/2005 Hotel Best Western Paladium Montevideo, Uruguai Tel: (00xx) 1 598 2 487-1515 / Fax: (00xx) 1 598 2 487-3223 7th International Stereotactic Radiosurgery Society Congress 11/09 – 15/09/2005 Bruxelas, Bélgica Fone: (00xx) 32 2 779-5959 – Contato: Laurence Reichelt Fax: (00xx) 32 2 779-5960 End. eletrônico: isrs2005@iceo.be www.isrs2005.com Congresso de Atualização em Neurocirurgia – Sociedade Brasileira de Neurocirurgia 18/09 – 21/09/2005 Congrès de la Societé de Neurochirurgie de la Langue Française 22/09 – 24/09/2005 Centro de Convenções Partenon Lifecenter Belo Horizonte, MG End. eletrônico: eventos@rhodeseventos.com.br www.rhodeseventos.com.br/neuro 59th Annual Meeting – Congress of Neurological Surgeons 08/10 – 13/10/2005 Convention Center Boston, EUA End. eletrônico: info@1cns.org 7o Simbidor - Simpósio Brasileiro e Encontro Internacioonal sobre Dor 20/10 – 22/10/2005 Centro de Convenções Rebouças São Paulo, SP End, eletrônico: www.simbidor.com.br IV Congreso Centroamericano de Neurocirugia Curso de Educação Continuada da WFNS 22/10 – 28/10/2005 Centro de Convenciones Casa Santo Domingo Antigua, Guatemala Tel. (00xx) (502) 22540930 / 55092504 End. eletrônico: creationv@intelnet.net.gt mercadeocv@intelnett.com VI Congresso da Sociedade Pernambucana de Neurocirurgia IV Encontro de Enfermagem em Neurocirurgia de Pernambuco 12/11 – 15/11/2005 Best Western Manibu Recife Recife, PE Tel: (0xx) 81 3423-1300 End. eletrônico: secretaria@assessor-pe.com.br AANS / CNS Section on Pediatric Neurosurgery – 34th Annual Meeting 06/12 – 09/12/2005 The Grand Hotel Marriot Resort Point Clear, Alabama, EUA End. eletrônico: www.aans.org North American Skull Base Society – 17th Annual Meeting 16/02 – 19/02/2006 Phoenix, Arizona, EUA End. eletrônico: www.nasbs.org J Bras Neurocirurg 15(3), 126-128, 2004 128 AANS / CNS Cerebrovascular Section and American Society of Interventional& Therapeutic Neuroradiology – 20th Annual Meeting 17/02 – 20/02/2006 Caribe Royale All Suites Resort Orlando, Florida, EUA End. eletrônico: www.aans.org AANS / CNS Section on Disorders of the Spine and Peripheral Nerves – 22nd Annual Meeting 15/03 – 18/03/2006 Wyndham Palace Resort & Spa Orlando, Florida, EUA End. eletrônico: www.aans.org Simpósio Internacional de Doenças Cérebro-Vasculares Sociedade de Neurocirurgia do Cone Sul 17/03 – 18/03/2006 Hospital Mãe de Deus Porto Alegre, RS End. eletrônico: marketing@maededeus.com.br Latin American Course in Pediatric Neurosurgery 27/03 – 31/03/2006 Portobello Hotel & Resort Mangaratiba, RJ End. eletrônico: fsalomão@ism.com.br neuroped@oxfordeventos.com.br American Association of Neurological Surgeons – 74th Annual Meeting 22/04 – 27/04/2006 San Francisco Convention Center San Francisco, California, EUA End. eletrônico: www.aans.org 1° Simposio Latinoamericano de Neuroendoscopia 06/09 – 08/09/2006 Varadero, Cuba End. Eletrônico: www.neurocirugia.sld.cu dejongh@infomed.sld.cu fernandezmolina@inecod.com.ar XXVI Congresso da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia 14/09 – 19/09/2006 Centro de Convenções Centro Sul, Florianópolis, SC Tel. (0xx) 47 3261313 Fax: (0xx) 47 3264159 End. eletrônico: praxis@praxis.srv.br 56th Annual Meeting – Congress of Neurological Surgeons 07/10 – 12/10/2006 Convention Center Chicago, Illinois, EUA End. eletrônico: info@1cns.org Curso de Educação Continuada da WFNS 30.10 – 01.11.2005 Congresso da Academia Brasileira de Neurocirurgia 02.11 – 05.11.2005 Centro de Convenções Hotel Leão da Montanha Campos do Jordão, SP End. eletrônico: neurobrag@terra.com.br congressoabnc2005@oxfordeventos.com.br www.abnc.org.br Eventos científicos J Bras Neurocirurg 15(3), 126-128, 2004