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DOCUMENTO II ENCONTRO SINDICAL NUESTRA AMÉRICA São Paulo, setembro de 2009. (I) DIANTE DA CRISE CAPITALISTA É NECESSÁRIO AVANÇAR NAS REFORMAS POLÍTICAS NACIONAIS, APROFUNDANDO OS PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO REGIONAL COMO RESULTADO DO DEBATE OCORRIDO NO PRIMEIRO ENCONTRO NUESTRA AMÉRICA, REALIZADO EM QUITO EM MAIO DE 2008, FOI LANÇADA A CARTA DE QUITO, QUE EXPÕE UM CONJUNTO DE ARGUMENTOS QUE TÊM COMO OBJETIVO UNIR A CLASSE TRABALHADORA DA AMÉRICA E ELEVAR SEU PROTAGONISMO NA LUTA FRENTE AOS IMPACTOS DA CRISE GLOBAL CAPITALISTA NA NOSSA REGIÃO E NA CONSTRUÇÃO DE ALTERNATIVAS QUE PERMITAM AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS, QUE URGEM NO NOSSO CONTINENTE. A plataforma para a unidade de ação acordada em tal Encontro definia três eixos fundamentais: 1. Defesa dos direitos trabalhistas e sociais. Pleno emprego. O Estado deve assumir seu papel de indutor do desenvolvimento econômico e social. Redução da jornada de trabalho, sem redução do salário. Contra a precarização do trabalho. Contra a privatização. Universalização das políticas públicas: educação, saúde, previdência social, moradia e transporte. O Encontro Sindical Nuestra América assume a Campanha: “A Educação não é mercadoria” Contra a discriminação no trabalho por motivo de gênero, etnia, religião e orientação sexual. 2. Integração solidária e soberana: A solidariedade entre os povos e o apoio às reformas políticas e sociais. Unidade contra a ofensiva militar do imperialismo e de suas forças aliadas e corruptas na região. 3. Luta em defesa da soberania alimentar, sobre os recursos energéticos, hídricos, a biodiversidade e a sustentabilidade ambiental. Tudo isso tem absoluta vigência na conjuntura atual e continua sendo parte das nossas linhas de ação para a luta, de modo que um dos nossos objetivos para o II Encontro Sindical Nuestra América é atualizar e aprofundar os mesmos, procurando traçar nossos planos de ações futuras. 2 (II) A CRISE DA ECONOMÍA MUNDIAL É UMA CRISE DO CAPITALISMO Engendrada pelas próprias contradições do sistema capitalista e do modelo neoliberal esgotado, a atual conjuntura global apresenta-nos uma etapa de crise cada vez mais profunda, que por sua complexidade e alcance denota consequências ainda imprevisíveis. A atual ordem econômica mundial, expressada pelo seu sistema de relações econômicas e instrumentos de dominação, fundamentados no livre comércio, na especulação financeira, na depredação do meio ambiente, no uso indiscriminado das fontes energéticas não renováveis, na distribuição desigual de alimentos, no poder das transnacionais, no uso das armas para impor sua determinação, entre outros, mostra-se insustentável, levando a humanidade a limites extremos de pobreza e exclusão social, a partir do que as tentativas de reverter tal situação de crise através dos antigos esquemas capitalistas, redundarão apenas no seu próprio agravamento. O caráter global da atual crise e de sua complexidade acaba por implicar uma combinação de crises: econômico-financeira, energética, ambiental e alimentar. A partir daí surgem outras características que indicam o estado de crise atual, como: crise política, social e de paradigmas do capitalismo.1 Na nossa região, o impacto da atual etapa da crise se reflete no crescente desemprego, nas permanentes intenções de reduzir os salários e as condições de trabalho, cujo efeito se torna notório nos fluxos migratórios na região. (III) O PROCESSO LATINOAMERICANO 1. Os acontecimentos políticos e sociais que vive a America Latina devem ser profundamente analisados para buscar e determinar os pontos de conexão entre os diferentes processos de transformação que ocorrem hoje no continente. As distintas fases para enfrentar o neoliberalismo podem ser descritas como a etapa de resistência, de construção de alternativas e agora de enfrentamento da contra-ofensiva da direita. 2. Por meio de uma análise cronológica, devemos recordar o conjunto de manifestações populares ocorridas na região desde o “caracazo” em 1989; as ações dos povos nativos contra os 500 anos do “descobrimento” e, no mesmo ano, contra o lançamento do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA)- 1994, os zapatistas 1 O aprofundamento da análise sobre a caracterização da crise encontra-se no anexo 1. 3 3. 4. 5. 6. 7. 8. clamavam pela resistência à nova onda hegemônica. As manifestações contra a Organização Mundial do Comércio (OMC), iniciadas em Seattle, EUA, em novembro de 1999, revelavam a extensão do mal-estar com o novo modelo hegemônico e o potencial da luta de resistência. Em janeiro de 2001, o Foro Social Mundial convocava a construção de “outro mundo possível”. Qualificamos esta fase da resistência como defensiva frente à mudança regressiva, de proporções históricas gigantescas, operada pela passagem de um mundo bipolar a outro unipolar, sob a hegemonia do imperialismo dos EUA e do modelo regulador neoliberal. Após duas décadas de resistência e construção de uma alternativa, podemos definir a necessidade de passar da defensiva para a ofensiva do movimento dos trabalhadores e dos povos para afirmar um projeto de estarmos livres da liberalização proposta pelo regime capitalista. Em nível governamental, a consolidação da hegemonia neoliberal se dá através da passagem da geração direitista inicial que perpetrou as ditaduras do Cone Sul com seus projetos neoliberais assumidos na GrãBretanha e nos EUA nos anos 1980, para generalizarem-se no mundo nos anos 1990 com a queda do socialismo no Leste Europeu. A “terceira via” começou a se sustentar neste marco, nos governos de Clinton e Blair que imaginaram, como ideário possível, variados projetos políticos na região, tramando a associação virtuosa entre o capitalismo e a democracia, ocupando boa parte do espectro político de nosso continente. Essa forca compacta começou a ser abalada com a eleição de Hugo Chávez na Venezuela em 1998, consolidando-se na América Latina, a partir desse momento, com a derrota eleitoral dos principais promotores do modelo e revelando assim o seu fracasso. Depois de importantes lutas sociais e políticas contra o neoliberalismo, os povos infligiram derrotas significativas ao imperialismo, por exemplo, a luta contra a ALCA, através da qual, com o concurso dos movimentos sociais e dos governos progressistas, seu formato original foi derrotado. Esses processos têm como objetivo procurar caminhos próprios e soberanos para suas nações e povos, e confrontar a hegemonia imperialista na região. Valorizamos especialmente as experiências de Cuba, da Venezuela, do Equador, da Bolívia, processos que apontam para uma mudança radical de modelo, enfrentando por isso a ofensiva imperialista. Os triunfos eleitorais que sucederam Chávez na Venezuela e Lula no Brasil (2002) – Kirchner na Argentina (2003), Tabaré Vázquez no Uruguai (2004), Evo Morales na Bolívia (2005), Rafael Correa no Equador (2006), Daniel Ortega na Nicarágua (2006), Fernando Lugo no Paraguai (2007) e Mauricio Funes em El Salvador (2009) –, apresentaram um cenário diferente do que se pensava, sem deixar de considerar as distintas realidades e até mesmo as contradições que existem nesses processos. Como uma amostra de que na política nada é linear, e que os processos de mudanças progressistas ou revolucionários servem de apoio a um tipo de disputa com a classe dominante que se nega a deixar de conduzir os nossos povos, surgem nos últimos dias claros alertas: a repressão desatada no Peru, o golpe de Estado em Honduras e a 4 implantação das bases militares norte-americanas na Colômbia, após o desmantelamento da base militar de Manta no Equador. 9. O processo fundamental na América Latina e no Caribe tem sido a dinâmica de resistência dos trabalhadores e dos povos nos últimos 20 anos. Essa é a base material para as mudanças políticas e a presença de governos com uma mensagem crítica às políticas hegemônicas dos anos 1990. Os povos e sua luta são a garantia do rumo anticapitalista no marco da crise atual. Essa é a razão pela qual baseamos nossa expectativa de avançar da defensiva para a ofensiva popular. 10. Cuba sustenta por 50 anos seu projeto revolucionário e a luta popular reabriu a perspectiva socialista nos últimos anos na região. A articulação da luta popular e projetos de mudança política podem mudar a história da região e no mesmo território em que se ensaiaram as primeiras políticas neoliberais no início dos anos 1970, pode se pensar na origem de uma perspectiva de emancipação. Não foi por acaso, que a nossa América foi a região que formulou contemporaneamente a ideia de outro mundo possível. Os processos de Integração e sua necessária confluência 11. À luz do processo de mudanças que hoje vivem a América Latina e o Caribe, com toda a riqueza de sua diversidade, contradições, níveis de avanços e retrocessos, acumulação e acertos, torna-se conveniente relembrar que a luta pela integração e a unidade continental transitou amplamente por uma longa história, que reafirma sua vigência na etapa atual. 12. O lançamento da Alternativa Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba), como expressão de um novo tipo de integração, o Banco do Sul, o gasoduto continental e a adesão da Venezuela e da Bolívia ao Mercosul, sendo processos qualitativamente diferentes, deram contornos mais amplos e fortaleceram um eixo de governos que, alem de privilegiarem os processos de integração regional, começam a construir modelos de ruptura com o neoliberalismo, modelos pósneoliberais. O triunfo eleitoral de Fernando Lugo (2008) no Paraguai amplia o campo dos governos progressistas do continente, ao que se soma também El Salvador. 13. Impulsionar os diversos projetos de integração que esperamos possam convergir, como o Mercosul, a Comunidade Andina, o Caricom, a ALBATCP e a Unasul permite terminar com a velha realidade das veias abertas da nossa América. Integração que, sem ser cópia de modelos geocêntricos, reflita a realidade da nossa região e se constitua em benefício dos nossos povos, com base na solidariedade, na integração, levando em conta as assimetrias das nossas economias, como alternativa à globalização neoliberal. 14. Não haverá crescimento com desenvolvimento produtivo e justiça social para os nossos países se nos mantivermos isolados. A América Latina e o Caribe formam o continente da esperança. Suas riquezas são incalculáveis, porém sua inserção no mundo dependerá exclusivamente da força e da legitimidade que seus processos de integração puderem alcançar. Os países hegemônicos aspiram nos manter divididos para 5 que possam assinar acordos de livre comércio em seu exclusivo benefício. Respondamos com a integração. 15. Saudamos e apoiamos firmemente a criação da Unasul que engloba iniciativas como a do Banco do Sul, como eixo de uma futura unidade política dos países e dos povos da América do Sul e a proposta da criação do Conselho Sulamericano de Defesa. Seu fortalecimento permitirá avançar na organização permanente, integrada unicamente pelos países da America Latina, sem exclusões. 16. Todavia, vale mencionar que não é a mesma coisa sustentar rumos prócapitalistas ou anticapitalistas e pelo socialismo. ‘E uma tensão que existe entre a rica e diversa realidade de nossos países. Devemos impulsionar a integração de nossos povos que no se reduz à produção de bens materiais ou ao intercâmbio de bens e serviços, mas que alcance e envolva a reafirmação de nossa própria história, de nossas identidades, raízes e cultura, ou o direito à educação e ao conhecimento avançado, ou o desfrute da liberdade, que tem como objetivo a construção da identidade coletiva, respeitosa da diversidade que nos enriquece. 17. A etapa atual da crise despertou a necessidade de considerar uma nova ordem econômica e em especial um novo Sistema Monetário Internacional, no qual seja descartado o padrão dólar, levando-se em conta a incidência das economias emergentes como a China, a Índia e o Brasil nas novas relações econômicas e comerciais internacionais. O que fazer? 18. Devemos partir do fato de que cada um desses processos transformadores que ocorrem na região tem suas próprias características, fruto de múltiplos fatores como: a herança histórica, suas lutas, sua cultura política, suas possibilidades econômicas, etc, fatores estes que imprimem um determinado grau de autenticidade particular. 19. Por isso que não podem haver fórmulas únicas para encontrar a solução para as angústias que nos afligem. Para isso, há de se levar em conta suas características e possibilidades próprias, entendendo que existe um denominador comum: assistimos a processos de transformações, uns mais revolucionários que outros, porém de mudanças verdadeiras, que nos apartam ou distanciam do modelo neoliberal esgotado, alguns inclusive que rumam na direção dos processos de construção socialista, com códigos próprios como a opção alternativa mais clara e viável. 20. Um fator que vem caracterizando esses processos é a vontade política demonstrada para um novo tipo de integração. Este novo estilo de integração tem sua figura emblemática na ALBA, excelente iniciativa e todos os esforços que sob seus princípios são feitos para o tema da integração regional, que podem resultar em atos totalmente finalizados e perfeitos. Na verdade, a ALBA é, até agora, a única expressão integradora capaz de demonstrar resultados concretos e com benefícios econômicos e sociais marcantes. 21. O senso inovador da ALBA é marcado pelo feito da autenticidade latinoamericana, sem mediação dos círculos tradicionais de poder econômicos e financeiros a serviço do imperialismo, igualmente se 6 inscreve a flexibilidade política para a participação dos países, sendo possível sua adesão total ou parcial e sem condicionalidade alguma, segundo as necessidades e interesses, estando presente em primeiro lugar, a vontade política dos governos para encontrar soluções para seus problemas fundamentais, em benefício dos seus povos. 22. Mesmo tendo conhecimento da existência de algumas experiências de participação direta com organizações sociais em projetos inscritos sob a ótica da ALBA, assim como algum outro esforço para provê-la da participação direta dos movimentos sociais, lamentavelmente a ALBA carece de espaço e oportunidade para a ação de tantos atores sociais,. que reconhecem suas virtudes e se interessam por acompanhar sua perspectiva política. 23. Apesar de a ALBA ter sido e ainda ser em perspectiva, uma opção viável para demonstrar as potencialidades dessa nova conceitualização da integração, vem-se desenvolvendo outras expressões baseadas na autonomia dos países da região latinoamericana, como por exemplo, a recente Unasul. 24. Entretanto, apesar das dúvidas, críticas e expectativas que o surgimento da Unasul suscitou nos movimentos sociais, existe um reconhecimento de suas virtudes e importância política e estratégica, especialmente na atual conjuntura de crise generalizada provocada pelos gendarmes do sistema capitalista e cujo impacto há de se sentir com maior intensidade, mais cedo ou mais tarde, na nossa região, significando os mesmos nichos de resposta que permitem enfrentá-los, se levarmos em conta o grau de vulnerabilidade econômica da grande maioria das economias na América do Sul. (IV) A rearticulação de direita 25. Na fase atual, a nossa região está marcada pelo recrudescimento dos enfrentamentos entre os governos de esquerda e progressistas e a oposição de direita, alentada por o forte apoio dos sucessivos governos dos EUA no plano social, político e ideológico. As pretensões de desqualificação do papel do Estado ganham importância central como tema aglutinador no conjunto de debates e polêmicas. 26. No entanto, a partir de 2007, depois do abalo relativamente surpreendente da proliferação de governos progressistas na região, a direita retomou sua capacidade de iniciativa, em cujo campo revisa a velha direita oligárquica e as correntes socialdemocratas que aderiram ao neoliberalismo – lançando mão das esferas onde sua hegemonia não fora tocada ou nas quais conservara essencialmente sua força: o poder econômico e o mediático. 27. Esta contra-ofensiva assume formas distintas dependendo do país, porém com elementos comuns: crítica à presença do Estado e de seus métodos de regulação, dos processos de integração regional e Sul-Sul. 28. Temas como a “corrupção” – centrado sempre nos governos e no Estado - o desabastecimento, a autonomia dos governos regionais 7 contra a centralização estatal, as supostas “ameaças” à “liberdade de imprensa”, identificada pela direita com a imprensa privada, são novamente postos em cena. 29. No Brasil, com as campanhas de denúncia contra o governo Lula; na Venezuela, depois da tentativa de golpe de 2002, na defesa dos monopólios privados dos meios de comunicação, a denúncia da corrupção e o desabastecimento; na Bolívia, contra a reforma agrária, a nova Constituição e a utilização dos novos impostos para as exportações de gás, por parte do governo central para realizar políticas sociais; na Argentina, contra as reformas do controle de preços, as retenções das exportações e o saque dos recursos naturais pelas multinacionais; no Equador, contra a nova Constituição e as novas formas de regulação estatal; no Uruguai contra as leis sindicais, etc. 30. As reformas constitucionais através do voto dos povos na Venezuela, na Bolívia e no Equador, constituem um avanço substancial na construção da nova América Latina. 31. Os 50 anos de Revolução Cubana em 2009 são de extrema importância para nossos povos que lutamos por uma sociedade sem explorados nem exploradores. 32. Em uma análise mais particular, devemos ter claro que para aprofundar a ideia da inserção internacional é preciso ressaltar a importância de um modelo de desenvolvimento produtivo – com valorização do trabalho, com justiça social e aprofundamento democrático -, buscando o benefício da grande maioria dos povos de nossa América e das futuras gerações. 33. Não haverá integração real (social, cultural, produtiva) sem processos de mudanças nacionais. As tarefas que se apresentam, ante o reagrupamento da direita e o projeto do capital para superar a crise capitalista com mais capitalismo ainda, ou seja, com mais exploração da força de trabalho e dos recursos naturais; o que se mostra aos trabalhadores é a perspectiva de organizar a força subjetiva para resistir a esses projetos e construir um poder alternativo nacional, regional e global. (V) NOSSA PROPOSTA, NOSSAS TAREFAS O Grupo Coordenador do II Encontro Sindical Nuestra América, propõe abrir a discussão e gerar o debate a partir desses enunciados, convocando para tanto o conjunto do movimento sindical organizado das Américas independentemente de sua filiação ou postura ideológica – colocando como único condicionante, seu apego à defesa dos interesses de classe, seu compromisso solidário e internacionalista e a vontade de encontrar caminhos para a unidade de ação. UNIDADE, SOLIDARIEDADE e LUTA!! 8 Anexo I LA CRISIS DE LA ECONOMÍA MUNDIAL ES UNA CRISIS DEL CAPITALISMO 1. La crisis inmobiliaria de Estados Unidos en 2007 se ha transformado en crisis de la economía mundial a partir del último trimestre de 2008. En nuestra interpretación teórica e histórica ‐diferente y opuesta a la caracterización simple como crisis financiera‐, partimos de constatar que a nivel de la economía mundial, las ganancias y la tasa de ganancias de las grandes empresas trasnacionales productoras de bienes y servicios, se han incrementado a partir de mediados de los 80 y se han mantenido elevadas en los últimos años, previo al inicio de la actual crisis mundial. Una tendencia que se revirtió en el último periodo y confluyó con la explosión de la burbuja inmobiliaria, bursátil y financiera para generar el actual estado recesivo de la economía mundial y que impacta sobre los trabajadores y sectores más empobrecidos de la sociedad mundial. 2. La OIT señala que serán hasta 59 millones los nuevos trabajadores desocupados en el mundo durante el presente año. Una tendencia que también se verifica en la región latinoamericana tal como destaca un informe conjunto de la OIT y la CEPAL. Dicho informe relata que más de un millón de personas han perdido su trabajo en América Latina debido a la crisis global al cierre del primer trimestre de este año, lo que hace presumir una cifra de unos tres a cuatro millones para todo el 2009. El documento destaca que el desempleo podría subir hasta el 9,1% este año en la región. 3. Estas elevadas ganancias transformaron a estas empresas en prestatarias netas del sistema financiero. Sus nuevas inversiones, así como la compra de otras empresas y fusiones han sido financiadas en gran parte con recursos propios provenientes de las grandes ganancias. Las empresas productoras de bienes y servicios dejaron de ser un sector significativo para las inversiones del sector financiero. 4. Los grandes fondos acumulados por el sector financiero que incluyen las inversiones financieras de una parte de las ganancias de las empresas, sumados a fondos de pensiones y otros fondos, fueron orientados hacia las empresas tecnológicas en la década de los noventa, provocando el boom de las empresas punto com., cuyas masivas quiebras se constituyeron en una de las causas fundamentales de la crisis económica mundial de 2001. 5. Aludimos a dicha situación porque ese fue el marco de la recesión anterior emergente desde EEUU, la que se resolvió con fuerte endeudamiento de EEUU y militarización de la economía y la sociedad mundial. El terrorismo de Estado internacional promovido desde la potencia hegemónica, militar y económica no es un tema menor para el movimiento de trabajadores a escala global, 9 especialmente cuando se reitera el cuadro recesivo que ya se descarga sobre los trabajadores del mundo. 6. En nuestra interpretación del inicio y del desarrollo de la actual crisis mundial, le asignamos un papel fundamental a la contradicción capital‐ trabajo y a la contradicción entre capital‐recursos naturales, en oposición a la caracterización como crisis financiera, que remite a una contradicción entre fracciones del capital, que en nuestra interpretación tiene una significación menor. El Fondo Monetario Internacional, ‐FMI‐, ha caracterizado las últimas crisis como crisis financieras, caracterización que es ampliamente asumida por la academia y por los medios de comunicación. 7. Afirmamos esta tesis en la convicción de la importancia de incrementar la resistencia de los trabajadores contra el proyecto del capital de subordinar aún más a los trabajadores, a la naturaleza y a la sociedad a la estrategia del capital. El dominio acrecentado del capital sobre el trabajo, sobre los recursos naturales y sobre los Estados es una de los temas fundamentales de nuestro debate. Este momento de crisis es visto como una oportunidad por el capital para incrementar la explotación y la dominación. Es también una oportunidad para limitar el proyecto del capital y habilitar un tiempo de transformación social para la emancipación. La crisis capitalista habilita a pensar en cambios políticos, anticapitalistas y por el socialismo. 8. La globalización a nivel mundial ha significado un fuerte aumento de la producción mundial al mismo tiempo que ha limitado las capacidades de consumo. El gran desarrollo del sistema de crédito y el elevado endeudamiento generalizado ha posibilitado el funcionamiento de la economía mundial en las últimas décadas previo a la crisis actual. Ha resultado así un sistema consumista del despilfarro que aúna en esta crisis económica los problemas energéticos, alimentarios y medio ambientales. Es una agresión del modelo productivo capitalista que define un patrón de producción y distribución para satisfacer necesidades de una parte reducida de la población mundial y por eso es que hay sobreproducción y subconsumo. 9. El gran desarrollo del sector inmobiliario, junto al incremento del gasto militar y al aumento del consumo apoyado en la fuerte expansión del crédito y en la disminución de los impuestos, permitió la superación de la crisis de inicios de esta década. La burbuja inmobiliaria incentivada por las bajas tasas de interés, asociada a créditos de alto riesgo, culminó con el rompimiento de la burbuja inmobiliaria, ‐y no sólo financiera‐, ya que la construcción residencial es uno de los sectores reales más importantes de la economía. La crisis actual es mucho más profunda que las crisis anteriores en tiempos de la globalización contemporánea y ha profundizado y transformado en su opuesto características y tendencias destacadas en los temas mencionados. 10. La crisis actual deja en evidencia la mundialización de la economía mundial y los límites de la ciencia económica que en sus diversas escuelas construyen su 10 teoría a partir de tener como escenario fundamental las economías nacionales. Para el movimiento de trabajadores resulta importante la vuelta a las fuentes de un internacionalismo de los trabajadores a partir de la estrategia colectiva del capital y el imperialismo. 11. Es necesario romper con los límites nacionales de interpretación sobre la crisis y la economía mundial para hacer avanzar un proyecto global de los trabajadores. La crisis actual puede afectar la hegemonía que había logrado la economía estadounidense. EEUU disputa hegemonía desde su poder militar, político, ideológico y económico. Para ello es necesario instalar una estrategia contra el régimen del capital y contra el dominio imperialista expresado por la hegemonía en acción de EEUU. 12. No es un dato menor la emergencia de países que generan expectativas para la disputa de la hegemonía estadounidense. En ese plano resulta de interés analizar la realidad de cambio político en la región latinoamericana y caribeña, donde el socialismo del siglo XXI empieza a ser parte de la discusión entre los trabajadores, los pueblos y sus instrumentos sociales y políticos. Entre la potencialidad económica de algunos países del Sur con pretensión de avanzar en su papel para contribuir a decidir en el orden mundial y la subjetividad de la acción colectiva de los pueblos de nuestra América se puede definir un rumbo diferente para el orden social contemporáneo. 13. La crisis actual permite ver con más claridad el encadenamiento de estas crisis en el tiempo y en la ampliación del espacio de la economía mundial en los últimos años. El significado principal de las décadas de reestructuración regresiva inaugurado con el terrorismo de Estado a comienzos de los 70´ significa la profundización del desarrollo desigual y del subdesarrollo en América Latina. Es una conclusión claramente expresada en la regresiva distribución funcional del ingreso, la flexibilidad y precariedad laboral, el empobrecimiento y marginación social de millones de empobrecidos y el gran crecimiento de las remesas a los países desarrollados, particularmente de ganancias de las trasnacionales. 14. En la actual etapa del capitalismo (financiero, transnacional, regionalizado, etc.) se ha acelerado la tendencia hacia el descenso relativo de la tasa de plusvalor. Es por eso que hay permanentes “reacomodos” (en general violentos y dolorosos) en el proceso de desarrollo de las fuerzas productivas materiales. Es decir, la crisis no es producto de malas decisiones sino que es inherente al funcionamiento del sistema en su conjunto. 15. Esta crisis de enormes proporciones hace más peligrosas y reaccionarias las políticas imperialistas. La agresión ideológica, política, económica y militar se agudiza en el marco de una reestructuración capitalista autoritaria que busca resolver sus problemas a expensas de los países periféricos y los trabajadores. La perspectiva es un aumento de la desocupación y de la explotación en todas partes donde la resistencia popular no ponga freno. 11 16. Esta crisis supone una oportunidad histórica desde nuestro enfoque, para primero derrotar a las políticas neoliberales ‐ en el marco de un sistema capitalista que no da respuesta a las necesidades populares ‐ y posteriormente avanzar hacia la profundización democrática rumbo a la sociedad sin explotados ni explotadores.